sexta-feira, 3 de maio de 2013

Produtos de higiene contaminam o ar de Chicago

À beira de uma revisão regulatória federal, compostos químicos encontrados em desodorantes, loções e condicionadores de cabelos estão aparecendo no ar de Chicago em níveis que cientistas consideram alarmantes.
Os compostos voláteis – siloxanos cíclicos – estão viajando para locais tão distantes quanto o Ártico, e podem ser tóxicos para a vida aquática.
“Essas substâncias estão simplesmente em todo lugar”, declara Keri Hornbuckle, professora de engenharia da University of Iowa e coordenadora de novo estudo.
As concentrações eram 10 vezes maiores no ar de Chicago que no ar de West Branch, Iowa, e quatro vezes maior que em Cedar Rapids, Iowa.
Hornbuckle explicou que as descobertas são preocupantes porque os compostos são onipresentes e foram detectados em níveis muito mais altos que outros contaminantes ambientes. “Essas são concentrações altas, que estão me preocupando de verdade”, admitiu ela.
Mas não se sabe se inalar esses compostos traz riscos. Não existem estudos medindo a exposição das pessoas ou investigando possíveis riscos de saúde.
No ar de Chicago o composto predominante, conhecido como D5, estava presente em níveis três vezes maiores que os normais de bifenil policlorado (PCB). PCBs são substâncias químicas persistentes, banidos na década de 70. O D5 é mais comumente usado em sabonetes, loções, xampus e condicionadores.
É provável que os compostos também estejam presentes em altas concentrações no ar de muitas cidades, mas ninguém os pesquisou outros lugares ainda. Os Estados Unidos produzem ou importam entre 91 milhões e 454 milhões de quilos de siloxanos cíclicos todos os anos, de acordo com estimativas da Agência de Proteção Ambiental do país.
Muitas pessoas esfregam esses compostos todos os dias em seus corpos. Eles estão presentes em quase metade dos itens de cuidados pessoais, com até dois terços da massa do produto em alguns casos, de acordo com um estudo de 2008 realizado pelo Departamento de Saúde Pública de Nova York e um estudo de 2009 da Health Canada. Eles são usados nesses produtos porque são inodoros, incolores e suaves ao tato.
O novo estudo não rastreou a origem das substâncias químicas, mas sugere que produtos de cuidados pessoais são uma grande fonte já que o D5 era o composto dominante tanto em amostras de ar doméstico quanto em amostras externas.
Concentrações domésticas de ar nos laboratórios e escritórios da University of Iowa eram de 30 a 75 vezes maiores que as amostras externas de ar da Cedar Rapids e West Branch, e o D5 compunha 97% da massa de amostras internas. 
“É com base na população”, explica Rachel Yucuis, estudante de mestrado da University of Iowa e principal autora do novo estudo. “E em lugares fechados você tem tanto os produtos pessoais no meio quanto os que as pessoas estão usando, em um espaço concentrado”.
À noite, níveis de siloxanos cíclicos eram cerca de 2,7 vezes maiores que durante o dia, o que provavelmente se deve a mudanças na atmosfera ao anoitecer, pondera Yucuis.
Com níveis elevados no ar de Chicago, é possível que a vida selvagem na maior fonte de água doce do mundo – os Grandes Lagos – fique contaminada com eles, o que ainda não foi analisado, lembrou Hornbuckle. Laboratórios ao longo da região dos Grandes Lagos estão avaliando maneiras de medir os compostos de acordo com um estudo realizado em 2010 pela Environment Canada sobre contaminantes emergentes nos Grandes Lagos
Siloxanos cíclicos viajam o mundo. Leva cerca de duas semanas para que o D4 e o D5 se degradem na atmosfera. “O ar pode circundar o globo inteiro em uma semana”, explicou McLachlan.
Em 2011, pesquisadores canadenses amostraram o ar de 20 locais do mundo todo – incluindo cinco no Ártico – e encontraram os compostos em todos os lugares. De acordo com McLachlan, no inverno, quando há menos luz do sol para destruir as substâncias químicas, o Ártico tem um pico. Pesquisadores também descobriram que usinas de tratamento de água e esgoto estão altamente contaminadas com eles.
“Eles [os siloxanos cíclicos] são muito diferentes se comparados a outros contaminantes químicos do ambiente”, explicou McLachlan. “Estamos apenas começando a entender como eles se comportam”.
Scientific American


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