segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Cometa acena com brilho intenso

Posição em abril/ 2013
 
Imagens produzidas pelo telescópio espacial Spitzer, da Nasa, revelam que o cometa Ison (C/2012/S1), flagrado a 500 milhões de quilômetros da Terra − 3,35 vezes a distância da Terra ao Sol −, está expelindo grandes volumes de gás carbônico, entre outros elementos, anunciando o que pode ser uma passagem triunfal pelo Sistema Solar interior, região que inclui a órbita da Terra. (Apesar de alguns cientistas acreditarem que o cometa pode estar perdendo brilho, antes passar pela Terra).
As imagens feitas em 13 de junho mostram que o cometa, com diâmetro estimado em 5 km e massa entre 3 milhões e 3 bilhões de toneladas, está liberando gás carbônico  lenta mas espetacularmente, o que forma a típica cauda dupla dos cometas, de gás e poeira.
Á medida que os cometas são aquecidos pela aproximação com o Sol, e isso está ocorrendo com o Ison, reações químicas em seus interiores expelem gás e esse material, atuando como jatos, também retira e libera no espaço circunvizinho grãos de poeira.
Cometas são conhecidos como “bolas de gelo sujo”, expressão criada pelo astrônomo americano Fred Whipple (1906-2004) em meados do século passado.
O Ison já exibe, segundo as imagens do Spitzer, cauda de 300 mil quilômetros, o que equivale a quase a distância média (384 mil quilômetros) entre a Terra e Lua.
O fato de cometas (e também asteróides, em alguns casos cometas que perderam suas capas de gelo por sucessivas passagens pelas proximidades do Sol, permanecendo apenas seus núcleos rochosos) liberarem uma esteira de restos em suas órbitas fazem com que estejam intimamente relacionados às chuvas de meteoros.
O Ison fará seu periélio, a máxima aproximação do Sol, de 1,1 milhão de quilômetros (a Terra dista 150 milhões de quilômetros do Sol), em 28 de novembro próximo.
O que ocorre, neste caso, é que partículas de poeira (quase sempre do tamanho de um grão de arroz, mas às vezes maiores que isso) reagem com a entrada em alta velocidade na atmosfera e produzem as chuvas de meteoros, conhecidas popularmente como “estrelas cadentes”.
As diferentes cores dos meteoros se devem às diferentes composições químicas dos meteoróides, corpos que, ao entrar na atmosfera produzem os meteoros e, se sobreviverem ao atrito e pousarem na superfície da Terra (ou de outro planeta como Marte, por exemplo) são identificados como meteoritos.
Carey Lisse, do laboratório de física aplicada da Johns Hopkins University, com base nas imagens do Spitzer, estima que o Ison está liberando entre 1 mil toneladas de dióxido de carbono e 54 mil toneladas de poeira em períodos de 24 horas.
Segundo Lisse, estimativas anteriores feitas com base em dados captados pelo telescópio espacial Hubble, a missão Swift Gamma-Ray Burst e a espaçonave Deep Impact permitiam estabelecer apenas limites superiores de emissão, tanto de gás quanto poeira do Ison, mas o Spitzer, agora, leva a estimativas bem mais precisas.
Esses dados mais precisos sobre o Ison, quando o cometa ainda está distante do Sol, deve levar a uma compreensão mais clara não apenas da natureza desses astros tidos como imprevisíveis mas também refinar o conhecimento do vento solar, chuva de partículas emitidas pelo Sol e que inundam todo o Sistema Solar até o ponto de interação de ventos de estrelas vizinhas, caso do sistema triplo de Alfa do Centauro, nas proximidades aparentes do Cruzeiro do Sul.
Assim, o melhor conhecimento dos cometas deve contribuir também para melhorar a imagem de imprevisibilidade que eles exibem.
Mais precisamente, os cometas não são imprevisíveis. O conhecimento reduzido que temos deles é que tornam as previsões falhas.
As imagens do Spitzer estão revelando liberações significativas de gás carbônico, mas os cientistas planetários sabem que cometas são depósitos congelados de outros gases como monóxido de carbono, metano e amônia, além de água. Esse material, em conjunto, formou os blocos fundamentais envolvidos com a construção do Sistema Solar há 5 bilhões de anos.
Na verdade, a partir da órbita que traça no céu, astrônomos planetários estimam que essa é a primeira visita do Ison, um corpo originário da Nuvem Oort, anel de matéria que envolve o Sistema Solar à distância de até 1 ano-luz. Essa estrutura, prevista pelo astrônomo holandês Jan Hendrik Oort (1900-1992), é literalmente, entulho deixado pela construção do Sistema Solar no Braço de Órion da Via Láctea, nosso bairro cósmico.
Há, no entanto, quem veja semelhanças entre a rota atual e a de um cometa observado em 1680 (1680 V1).
Há uma possibilidade de que possam ser o mesmo corpo e, neste caso, esta não seria a primeira visita do Ison.
Há, ainda, a possibilidade de que possa ser parte de um corpo que se rompeu muito provavelmente por razões de natureza gravitacional (efeito maré do Sol ou outros planetas massivos).
Ao longo deste mês, à medida que se aproxima do Sol e se aquece, liberando cada vez mais gás, água e poeira no espaço, o Ison deve revelar dados fundamentais para o melhor conhecimento desses astros relativamente errantes que podem ser capturados por mundos do Sistema Solar ou fazer apenas uma passagem pelas proximidades do Sol e então retornar ao espaço profundo.
Estimativas feitas pelo astrônomo planetário Enos Picazzio, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP), são que o Ison poderá ser visto mesmo durante o dia entre meados de novembro e dezembro próximos.
Entre 13 e 17 de outubro o Ison, Marte e a estrela Regulus (alfa de Leão, ou “o coração do Leão”) estarão bem próximos no céu para um observador na Terra.
Scientific American


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