quarta-feira, 22 de abril de 2015

Califórnia busca extrair água potável do mar


Toda vez que uma seca atinge a Califórnia, a população do Estado não consegue deixar de notar o reservatório substancial de água não explorada que bate em sua costa –mais ou menos 187 quintilhões de galões cintilando convidativamente ao sol.
 Agora, pela primeira vez, uma grande metrópole da Califórnia está à beira de transformar o oceano Pacífico em uma fonte diária de água potável. Uma usina de dessalinização no valor de US$ 1 bilhão para abastecer o condado de San Diego está em construção e deverá começar a operar em novembro, proporcionando um grande teste sobre se as cidades da Califórnia poderão recorrer ao oceano para resolver seus problemas de água.
 Por todo o Cinturão do Sol, uma tecnologia antes desdenhada como sendo cara demais e prejudicial ao meio ambiente está sendo revista. O Texas, que enfrenta condições secas persistentes e um afluxo de população, poderá construir várias usinas de dessalinização. A Flórida já conta com uma em operação e pode ser forçada a construir outras, à medida que a elevação do mar invade as reservas de água doce do Estado.
Na Califórnia, pequenas usinas de dessalinização estão operando em um punhado de cidades. Os planos estão avançados para uma grande usina em Huntington Beach, que forneceria água para o populoso condado de Orange. Uma usina ociosa em Santa Barbara poderá ser reativada em breve. E mais de uma dúzia de comunidades ao longo da costa da Califórnia estão estudando a questão.
 A instalação sendo construída aqui será a maior usina de dessalinização de água do oceano no hemisfério Ocidental, produzindo cerca de 190 milhões de litros de água potável por dia. Assim, há um estudo sobre se poderá operar sem maiores problemas.
 "Não foi uma decisão fácil construir essa usina", disse Mark Weston, presidente da empresa que abastece as cidades do condado de San Diego. "Mas está revelando ser uma opção espetacular. O que achávamos ser caro há dez anos agora é acessível."

Ainda assim, a usina ilustra muitas das escolhas difíceis que os Estados e comunidades enfrentam à medida que consideram extrair água potável do oceano.
 No condado de San Diego, que traz água potável das reservas do rio Colorado e do norte da Califórnia, as contas de água já custam em média cerca de US$ 75 por mês. A nova usina as aumentará em torno de US$ 5 para assegurar uma nova oferta igual a 7% ou 8% do consumo de água do condado.
 A usina consumirá uma quantidade imensa de eletricidade, aumentando as emissões de dióxido de carbono que causam o aquecimento global, que afeta negativamente as reservas de água. E grupos ambientais locais, que são contrários à usina, temem um impacto substancial sobre a vida marinha.
 A empresa que está desenvolvendo a usina, a Poseidon Water, prometeu compensar os danos ambientais. Por exemplo, ela contribuirá ao programa da Califórnia que financia projetos que compensam as emissões de gases do efeito estufa.
Mesmo assim, alguns cientistas e grupos ambientais argumentam que, se as condições chuvosas voltarem à Califórnia, essa usina e outras como ela poderiam se transformar em elefantes brancos. Santa Barbara, a noroeste de Los Angeles, construiu sua usina de dessalinização há 25 anos e prontamente a fechou quando as chuvas voltaram.
 A Austrália tem um caso mais espetacular: ela construiu seis usinas de dessalinização imensas durante uma seca e manteve quatro delas em grande parte ociosas, apesar dos consumidores terem sido obrigados a arcar com o preço delas de vários bilhões de dólares.
 "Nossa posição é que a dessalinização da água do mar deve ser uma opção de último recurso", disse Sean Bothwell, um advogado da Aliança de Manutenção da Costa da Califórnia, uma coalizão ambiental que combate o uso da tecnologia pelo Estado. "Nós precisamos primeiro usar plenamente todas as reservas sustentáveis de que dispomos."
 O método técnico que está sendo empregado aqui, e na maioria das usinas recentes, se chama osmose reversa. Ela envolve forçar a passagem da água do mar por uma membrana com buracos tão minúsculos que as moléculas de água podem passar, mas as moléculas de sal maiores não.

Uma quantidade imensa de energia é necessária para criar pressão suficiente para fazer a água passar pelas membranas. Mas avanços de engenharia reduziram pela metade o uso de energia pelas usinas em 20 anos, assim como melhoraram sua confiabilidade.
 As futuras usinas de dessalinização também têm o potencial de casarem bem com o crescente potencial de energia renovável do sistema elétrico da Califórnia e do Texas. Como a água tratada pode ser armazenada, as usinas podem ser ligadas quando a eletricidade de fontes eólicas e solares for abundante, e posteriormente desligadas.
 Mas, à medida que cresce o interesse pela dessalinização, a Califórnia e outros Estados lidam com importantes decisões sobre as regras ambientais para as novas usinas.
Tanto a extração de água do mar quanto o descarte do excesso de sal no oceano pode ser prejudicial para a vida marinha. Sugar quantidades imensas de água do mar, por exemplo, pode matar as ovas e larvas de peixes aos bilhões. Existem soluções técnicas, mas elas elevam os custos, e ainda não está claro quão rígidos os reguladores da Califórnia serão com os desenvolvedores das usinas.
 Há muito preocupada com a escassez de água, a região de San Diego foi uma das pioneiras em medidas que acabaram se espalhando por todo o país, como acessórios de banheiro de baixo fluxo, máquinas de lavar mais eficientes e outras inovações.
 Mas essas medidas não foram suficientes para assegurar o futuro da água da região, disse Weston. Assim a autoridade de água decidiu anos atrás, muito antes do início da atual seca, seguir em frente com a ideia da usina de dessalinização.
 Ela está em seus estágios finais de construção, em uma abertura artificial para o mar em Carlsbad. Em um dia recente, um leve cheiro de cola pairava no ar enquanto os operários selavam as juntas dos canos imensos. Quando entrar em operação, a usina bombeará água pelos 16.040 cilindros contendo as membranas para prender o sal.
 Peter MacLaggan, um vice-presidente da Poseidon Waters que está supervisionando o projeto, disse que a usina é de certa forma uma resposta ao antigo interesse da população pela dessalinização.
 "Toda vez que a Califórnia enfrenta uma seca, nós recebemos cartas ao editor apontando que há muita água no oceano Pacífico", ele disse, enquanto as ondas quebravam na costa ao fundo. "Elas dizem: 'E aí, pessoal, o que vocês estão esperando?'."
 Santa Barbara, um destino turístico chique na costa da Califórnia, pode enfrentar escassez severa de água em um ano se a seca persistir. A cidade está prestes a gastar US$ 40 milhões para reativar a usina de dessalinização há muito inativa aqui.
 Essa medida aumentaria muito as contas de água, reconheceu a prefeita, Helene Schneider. Mas ela acrescentou: "Ficar sem água é uma opção pior do que uma água muito cara".
Tradutor: George El Khouri Andolfato


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