quinta-feira, 30 de abril de 2015

Muralha verde da China absorve CO2 da atmosfera


Coco Liu e ClimateWire
Depois de melhorar sua eficiência energética, adotar o sistema de comércio de emissões (cap-and-trade) e incrementar sua expansão de energias renováveis, a China avançou rumo a uma nova fronteira fundamental para ajudar a mitigar o aquecimento global.
De acordo com um estudo publicado recentemente no periódico científico Nature Climate Change, a quantidade total de carbono armazenado globalmente em toda a biomassa viva acima do solo aumentou em quase 4 bilhões de toneladas desde 2003.
E a China a contribuiu de forma notável para esse avanço.
“O aumento de vegetação resultou principalmente de uma feliz combinação de fatores ambientais e econômicos e de massivos projetos de plantio de árvores na China”, informou Liu Yi, o principal autor do estudo, em um comunicado de imprensa.
Liu é um cientista de sensoriamento remoto do Centro de Excelência para Ciência do Sistema Climático (CoECSS) na University of New South Wales, na Austrália.
Ele salientou que “a cobertura vegetal se expandiu nas savanas da Austrália, África e América do Sul como resultado do aumento de chuvas, enquanto na Rússia e nas ex-repúblicas soviéticas temos observado a regeneração de florestas em terras agrícolas abandonadas. A China foi o único país a ampliar sua vegetação intencionalmente por meio de projetos de reflorestamento”.
Em entrevista por e-mail à equipe de ClimateWire, Liu informou que “o aumento de vegetação mais evidente em território chinês ocorreu no norte do país, o que provavelmente está associado à sua Grande Muralha Verde”.
Além disso, o cientista confirmou que tem havido algum aumento de vegetação no sudeste do país, embora não se conheça exatamente a causa dessa expansão.
Na opinião de alguns especialistas, a chamada Grande Muralha Verde da China, formalmente conhecida como Programa de Desenvolvimento do Cinturão de Proteção “Three-North Shelter Belt Development”, é o maior projeto de engenharia ecológica no planeta.
Desde 1978, cidadãos chineses plantaram pelo menos 259 mil km2 de florestas no árido norte da China, em um esforço para conter o avanço do deserto de Gobi.
Quando o projeto for concluído, em 2050, um massivo cinturão de árvores se estenderá da província de Xinjiang, no noroeste do país, através de várias regiões setentrionais até a província de Heilongjiang, no nordeste.

Impacto de longo prazo incerto

Por mais positiva que pareça, a formação da Grande Muralha Verde tem vários céticos na comunidade científica.
Alguns cientistas receiam que o plantio de árvores em lugares onde elas não crescem naturalmente pode ser mais prejudicial que benéfico, por absorver grandes quantidades de valiosas águas subterrâneas.
Outros questionam a taxa de mortalidade de árvores plantadas na região e ponderam se elas poderiam afetar negativamente gramíneas e arbustos, que em geral são mais resistentes a secas e mais eficazes em controle de erosão.
“As questões ecológicas são complexas e os resultados em longo prazo não estão claros”, salientou David Shankman, professor emérito de geografia na University of Alabama em Tuscaloosa, e crítico notório do projeto Grande Muralha Verde.
Liu, que colaborou com uma equipe internacional de cientistas que monitora mudanças na vegetação global, admitiu não ter uma imagem completa do debate, mas argumentou que “A partir de nossas observações de satélites podemos ver que o projeto de reflorestamento é capaz de aumentar o carbono armazenado na vegetação que cresce acima do solo, e pode ajudar a remover parte do dióxido de carbono (CO2) da atmosfera”.
O estudo mostra que os esforços de reflorestamento chineses, juntamente com as florestas que rebrotaram na Rússia e em países vizinhos, compensam em cerca de 50% o carbono perdido pelo desmatamento tropical.
Enquanto o mundo está ficando mais verde como um todo, massivas perdas de vegetação ainda ocorrem em muitas regiões.
Os maiores declínios são observados nas áreas marginais da floresta amazônica e nas províncias de Sumatra e Kalimantan, na Indonésia.
Liu e seus colegas mapearam mudanças em biomassa vegetal utilizando medições de satélite das flutuações na radiação de radiofrequência emitida pela superfície da Terra, uma técnica chamada sensoriamento remoto por micro-ondas passivas.
As informações foram extraídas de vários satélites e fundidas em uma série única que abrangeu as duas últimas décadas, de 1993 a 2012.
Plantas desempenham um papel significativo na desaceleração de mudanças climáticas, porque absorvem aproximadamente 25% do CO2 que o homem lança na atmosfera através da queima de combustíveis fósseis e outras atividades.
Os autores do estudo enfatizam que, embora o aumento da cobertura vegetal signifique maior absorção de dióxido de carbono, a única maneira de diminuir os impactos do aquecimento global em longo prazo é reduzir o consumo de combustíveis fósseis.
Scientific American Brasil

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