segunda-feira, 27 de abril de 2015

Egito recupera obras saqueadas depois da primavera árabe e 2011

 
A operação chamada A maldição da múmia, lançada pelas autoridades norte-americanas em 2010, acabou sendo uma bênção para o Egito. Graças às pesquisas do departamento de Imigração e Alfândegas dos EUA, o Governo egípcio pôde recuperar 135 peças de grande valor arqueológico que haviam sido roubadas por máfias especializadas no contrabando de antiguidades. Embora algumas tenham saído antes de 2011, ano da revolução, a maioria foi retirada depois da queda de Hosni Mubarak, aproveitando a instabilidade gerada no país.
Entre as obras salvas estão várias estatuetas, moedas e um valioso sarcófago de mais de 2.300 anos. A maioria pertence ao último período do Antigo Egito, cerca do ano 600 a.C. A entrega coincidiu com a recepção, neste domingo, de outros 240 objetos arqueológicos interceptados na França.
As obras foram entregues às autoridades egípcias na quarta-feira na National Geographic Society de Washington. “Estamos agindo em conjunto com as organizações internacionais encarregadas da preservação do patrimônio histórico para combater o roubo e a destruição dos objetos históricos”, declarou Olfat Farah, responsável de Relações Culturais no Ministério de Assuntos Exteriores egípcio.
A entrega coroa vários anos de esforços por parte das autoridades egípcias, que assinaram acordos de colaboração com a maioria dos países ocidentais com a finalidade de impor maior controle ao comércio de antiguidades. Por exemplo, em novembro passado o Governo egípcio assinou um memorando de entendimento que obriga várias instituições norte-americanas, inclusive as universidades, a impor novas restrições ao comércio de antiguidades do Egito.
A falta de segurança e a instabilidade política em que caiu o país árabe depois da revolução de 2011 foi aproveitada por caçadores de tesouros e e traficantes para saquear numerosos sítios arqueológicos. Frequentemente, um só agente se encarrega de vigiar uma área de vários hectares em zonas remotas à noite, uma tarefa impossível. Segundo os cálculos do Governo, depois da queda do ex-ditador Hosni Mubarak, mais de 4.000 peças foram tiradas do país de forma clandestina. Apenas uma modesta porção desse grave espólio, cerca de uma quarta parte, pôde ser recuperada.
Dúzias de peças arqueológicas foram subtraídas de museus, como o Museu de Malawy, saqueado no verão de 2013, logo depois do golpe de estado, ou o Museu Egípcio do Cairo, assaltado durante a Revolução de 2011. A tarefa de recuperar essas peças é mais fácil do que aquelas extraídas dos sítios arqueológicos, pois estão todas classificadas. Portanto, o Governo egípcio pode provar sua propriedade se forem interceptadas nas alfândegas ou se alguém denunciar sua existência em um leilão público. Por outro lado, se as máfias conseguem introduzir os objetos em outro país para vendê-los a uma coleção privada, recuperá-las é uma missão virtualmente impossível.
 
 
A repatriação das peças confiscadas nos EUA é fruto de uma operação lançada há cinco anos pelo Departamento de Segurança Interna dos EUA, batizada como operação A maldição da múmia. Segundo seus responsáveis, o programa tem como objetivo desarticular os grupos criminais que introduziram ilegalmente no país mais de 7.000 objetos da antiguidade provenientes de todo o mundo de valor próximo aos três milhões de euros (cerca de 9,48 milhões de reais).
Essa atividade ilegal não serve apenas para o lucro dos caçadores de tesouros como também para financiar atividades de grupos terroristas, como o autodenominado Estado Islâmico, a tropa jihadista que controla uma ampla faixa de território no Iraque e na Síria. Até agora, a operação policial conseguiu o indiciamento de quatro traficantes, a condenação de outros dois e a emissão de uma ordem internacional de captura.
Das 135 obras recuperadas, a mais valiosa é um sarcófago que foi enviado como contrabando inicialmente a Dubai e terminou em uma garagem do bairro nova-iorquino do Brooklyn, no ano de 2009. Segundo as autoridades norte-americanas, o sarcófago mostra as marcas feitas pelos ladrões, que o cortaram em pedaços para poder enviá-lo por intermédio de um serviço de entregas urgentes.
“O sarcófago, que conta com uma inscrição hieroglífica da dona da casa, data do período greco-romano e será exposto no novo Grande Museu Egípcio, que será aberto em 2018”, explicou Aly Ahmed, responsável pela divisão de objetos repatriados do Ministério de Antiguidades. Além dessa peça, entre os objetos devolvidos pelos EUA se destacam duas barcas funerárias de madeira construídas durante o Médio Império (entre 2000 e 1700 a.C.), vários relevos esculpidos em um templo de pedra calcária datados do período entre 1070 a.C. e 664 a.C., a máscara de uma múmia, restos humanos mumificados e 65 moedas.
Além das 135 peças provenientes dos EUA, outras 240 vieram da França no domingo, conforme informou o Ministério de Antiguidades egípcio. Os objetos foram interceptados pelo serviço de alfândega do aeroporto internacional Charles de Gaulle, em Paris, durante os últimos anos. A coleção inclui objetos de vários períodos diferentes do Antigo Egito. Entre eles, contam-se 50 amuletos em forma de coração feitos de ônix de mármore, estelas de pedra calcária e estatuetas e anéis.
EL PAÍS Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário