quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Energia geotérmica: uma aposta de risco, mas atraente para a América Latina

 
Em um mundo que precisa de cada vez mais de opções energéticas limpas, a geotermal chama a atenção pelos benefícios que proporciona quando desenvolvida adequadamente. Ela é capaz de gerar eletricidade com menos impacto ambiental e custo menor do que o exigido pelos combustíveis fósseis (petróleo e carvão, por exemplo). E, por ser uma fonte renovável, ajuda a melhorar a segurança do abastecimento elétrico.
O problema é que, até a energia geotermal proporcionar todos esses benefícios, a complexidade e o custo de iniciar as operações no setor são grandes. Isso acaba causando atrasos ou interrupções nos projetos, inclusive na América Latina e Caribe, conforme o recente estudo Análise comparativa de estratégias para mitigar o risco associado com recursos geotérmicos.
“A questão (dos riscos) é ainda mais relevante quando se considera que a maioria das áreas adequadas para o desenvolvimento geotérmico são Green Fields, ou seja, campos virgens que precisam ser desenvolvidos desde o início”, explica o documento.
Publicado pelo Programa de Assistência ao Gerenciamento do Setor Energético (ESMAP), do Banco Mundial, o documento explica que o potencial global de exploração fica entre 70 e 80GW. No entanto, mesmo depois de mais de 100 anos, apenas 15% das reservas geotérmicas conhecidas em todo o planeta são atualmente exploradas para a produção de eletricidade, gerando 12GW.
Na América Latina e no Caribe, elas estão espalhadas por países como Argentina, Chile, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, México e Nicarágua. Curiosamente, nos dois primeiros países a produção é considerada baixa ou nula (e, no Chile, os investimentos começaram na década de 1960), enquanto no México já há quatro campos fornecendo energia. No Brasil, ainda faltam estudos que visem à exploração da energia geotérmica para geração de eletricidade.
O custo inicial de explorar e perfurar entre três e cinco poços geotérmicos varia de US$ 20 milhões a US$ 30 milhões. Trata-se de uma soma pequena em comparação com o custo total de um desenvolvimento geotérmico, mas difícil de angariar, dado o risco das operações.
Só para descobrir e confirmar a disponibilidade do recurso energético, são necessários de dois a três anos. Em seguida, antes que se possa iniciar a exploração, leva-se entre três e cinco para realizar as perfurações adicionais de modo a garantir o fornecimento de vapor e a construção da central elétrica.

Investimentos compartilhados

O setor público ainda é o maior investidor na área pela percepção de que tem melhores condições de assumir os riscos. Só na América Latina, há nove campos que receberam aporte estatal contra cinco resultantes de investimentos compartilhados (governo e setor privado).
Mais de 3,5GW da capacidade geotérmica instalada no mundo corresponde a projetos desenvolvidos pelos governos. Como explica o relatório, o setor privado pode e deve se envolver ainda mais, basta haver mecanismos de financiamento atraentes para as empresas.
Além de analisar experiências globais com investimentos públicos, privados e compartilhados, o documento apresenta modalidades como a apólice de seguro de recurso geotérmico (usada na Alemanha e na França com resultados ainda modestos) e os incentivos fiscais ao setor, muito usados no México. O país oferece dedução fiscal de 100% sobre os investimentos em energias renováveis.
Os organismos internacionais também têm um papel importante no desenvolvimento da energia geotermal, pelos recursos e pela assistência técnica que podem oferecer. Especialmente nas pequenas economias do Caribe, extremamente dependentes do petróleo e outros combustíveis fósseis.
O programa ESMAP, do Banco Mundial, por exemplo, lidera o Plano Global de Desenvolvimento Geotérmico, cujo objetivo é mobilizar novos fundos para as primeiras fases do investimento, que são as mais arriscadas. Até agora, o plano conseguiu levantar US$ 235 milhões, dos quais US$ 162,3 milhões para projetos na América Latina e Caribe.
São investimentos importantes não só para o meio ambiente, mas também para a economia da região, pois podem reduzir a dependência que os países têm do petróleo — uma matéria-prima finita e sujeita a muitos altos e baixos em seus preços.
 

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