sábado, 27 de agosto de 2016

Pesquisadores monitoram em tempo real possíveis defeitos da mudança climática

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Nos dias de chuva pesada no final de maio que causaram inundações fatais na França e na Alemanha, Geert Jan van Oldenborgh foi trabalhar.
O doutor Oldenborgh não é um socorrista ou um gestor de desastres naturais, mas um pesquisador climático no Instituto Meteorológico Real dos Países Baixos. Com vários colegas de todo o mundo, ele assumiu a tarefa de responder a uma pergunta sobre as inundações que surge hoje em dia sempre que ocorre um clima extremo: a culpa é da mudança climática?
Há anos, a maioria dos meteorologistas e cientistas do clima responderiam a essa pergunta com uma desculpa: não é possível atribuir eventos climáticos individuais, como tempestades ou secas, à mudança climática.
Mas durante a última década pesquisadores vêm tentando fazer exatamente isso, ajudados por melhores modelos de computador, mais dados climáticos e, sobretudo, uma melhor compreensão da ciência de um clima em mudança.
Os estudos de atribuição, como são chamados, podem durar meses, em grande parte por causa do tempo necessário para acionar modelos em computador. Hoje, cientistas como o doutor Oldenborgh, que faz parte de um grupo chamado World Weather Attribution (Referência do Clima Mundial), estão tentando fazer esses estudos o mais próximo possível dos eventos.
“Equipes científicas estão assumindo o desafio de fazer esse tipo de análise muito rapidamente”, disse Peter A. Stott, chefe do grupo de atribuição climática no Met Office, a agência meteorológica do Reino Unido.
No caso das inundações europeias, a World Weather Attribution, que é coordenada pela Climate Central (Central do Clima), uma organização de pesquisa climática sediada em Princeton, no Estado americano de Nova Jersey, divulgou um relatório menos de duas semanas depois que o Sena e outros rios transbordaram. O grupo concluiu que a mudança climática havia tornado mais provável a enchente na França, mas não pôde tirar uma conclusão sobre a inundação na Alemanha.
“No caso da França, tivemos cinco medições quase independentes, e todas concordaram”, disse o doutor Oldenborgh. “Com a Alemanha, só tivemos duas, e elas divergiram.”
Os cientistas dizem há décadas que o aquecimento global deve provocar um aumento das condições climáticas extremas. Porque mais água evapora dos oceanos e o ar mais quente detém mais umidade, a mudança também deve procurar tempestades mais intensas.
Analisar acontecimentos isolados é problemático, principalmente por dois motivos: o clima é naturalmente variável, e o aquecimento global pode ser apenas um de vários fatores que influenciam um determinado evento. Como há necessidade de dados confiáveis, também é menor a probabilidade de que os estudos sejam realizados em países que não têm muita estrutura para a coleta de dados.
Os estudos de atribuição envolvem acionar modelos climáticos várias vezes. Como nenhum modelo é uma representação perfeita da realidade, variá-los ligeiramente em cada operação e tirar a média dos resultados dá aos cientistas mais confiança em sua precisão.
Um conjunto de operações simula o clima como é realmente, incorporando o efeito estufa das emissões de gases, enquanto outro conjunto simula o clima como se a influência humana nunca tivesse acontecido.
Os pesquisadores então comparam dados históricos, assim como dados do evento real, como chuvas ou temperaturas, com os diferentes resultados de modelos para avaliar qualquer impacto climático. A análise é dada em termos de probabilidades, maiores ou menores, de que a mudança climática tenha tido um efeito.
O processo começa com e-mails entre membros do grupo, geralmente seguidos por uma sessão de videoconferência para discutir se um fato específico é digno de estudo. Pelo menos um membro do grupo também precisa ter tempo para fazer o trabalho. “Você precisa pôr tudo de lado durante uma semana”, disse o doutor Oldenborgh, que fez a maior parte do trabalho sobre a análise das inundações porque os outros pesquisadores estavam em uma conferência.
Uma parte crucial da tarefa é definir o evento — o que aconteceu e que variável meteorológica é melhor para estudá-lo. No caso do estudo europeu, os modelos que os pesquisadores usaram simulam chuva, e não inundação. Então eles usaram a chuva como variável.
“Não podemos examinar inundações, apenas chuvas intensas”, disse Friederike Otto, um pesquisador da Universidade de Oxford que trabalha com o doutor Oldenborgh. “Onde choveu, e quanto choveu?”
Entre os modelos que eles usam há um que o grupo do doutor Otto em Oxford aciona regularmente, usando os computadores pessoais de grande número de voluntários. O modelo é global, mas os resultados regionais podem ser extraídos e usados para a análise rápida.
O doutor Oldenborgh disse que a análise da inundação europeia foi uma boa ilustração da necessidade de transparência, porque apesar de os pesquisadores estarem confiantes em suas conclusões para a França eles reconheceram que não podiam tirar conclusões sobre a Alemanha.
“Precisamos ter certeza de que temos a mente suficientemente aberta para concluir que, embora tenhamos gasto muito tempo nisto, não podemos concluir nada”, disse ele.
New York Times

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