segunda-feira, 12 de março de 2012

"Em 2029 seremos parte humanos, parte máquinas"

Em 2029, haverá computadores capazes de conversar tão bem quanto um ser humano, de modo que não será possível distinguir um do outro apenas ouvindo a conversa. E as pessoas estarão aperfeiçoando seus corpos por meio de microimplantes e nano-robôs injetados na corrente sanguínea. Essas são algumas das previsões abordadas por Ray Kurzweil no festival South by Southwest (SXSW), nesta segunda-feira (12), em Austin, no Texas. Kurzweil fez uma breve apresentação seguida por uma entrevista conduzida pelo jornalista Lev Grossman.
Ray Kurzweil, de 64 anos, é conhecido tanto por suas realizações como empreendedor serial como pelas previsões que faz sobre tecnologia e ciência. Kurzweil criou sua primeira empresa, uma produtora de software, quando ainda era estudante de graduação no MIT, em 1968. Depois dela, vieram várias outras, sempre relacionadas com tecnologia.
Já a carreira de futurologista começou em 1990, com o livro A Era das Máquinas Inteligentes. Nele, ele previu, por exemplo, que o computador derrotaria os humanos no jogo de xadrez em 1998. Errou por um ano, já que o campeão mundial Garry Kasparov perdeu para o Deep Blue, da IBM, em 1997.
As previsões de Kurzweil baseiam-se no que ele chama de Lei dos Retornos Acelerados. Trata-se de uma generalização da Lei de Moore para englobar outros ramos da tecnologia, além dos chips de silício. “Notamos o mesmo tipo de evolução exponencial em muitas áreas. Não é só a Lei de Moore”, diz. O preço e o tempo necessários para fazer um sequenciamento genético, por exemplo, caem exponencialmente com o passar do tempo. E a quantidade de informações genéticas em bancos de dados aumenta na mesma razão, diz ele.
Para Kurzweil, estamos muito perto de ter computadores mais inteligentes do que os humanos. Ele considera a vitória do computador Watson, da IBM, sobre os campeões humanos no programa Jeopardy, no ano passado, um marco importante. “O Watson venceu analisando perguntas em linguagem natural e respondendo com informações também em linguagem humana. É o tipo de coisa que as pessoas achavam que um computador seria incapaz de fazer”, afirma ele.
“A evolução da tecnologia segue um caminho previsível. Basta olhar o que aconteceu até agora e ficamos sabendo o que vai acontecer nos próximos anos”, diz Kurzweil. Seu palpite é que, até 2029, teremos um computador suficientemente inteligente para que uma pessoa conversando com ele não consiga distingui-lo de um humano. É o chamado Teste de Touring, idealizado em 1950 pelo inglês Alan Turing para aferir a inteligência de uma máquina.
Críticos de Kurzweil – como Mitch Kapor, fundador da empresa de software Lotus, e Paul Allen, cofundador da Microsoft – argumentam que suas previsões pressupõem que a Lei de Moore, que tem permitido a rápida evolução dos dispositivos eletrônicos, vai durar para sempre. Mas sabe-se que, à medida que esses dispositivos passam a ter dimensões atômicas, eles deixam de funcionar da maneira usual. Logo, há um limite para a miniaturização. Em poucos anos, atingiremos esse limite e a evolução será muito mais lenta.
Kurzweil acredita que alguma tecnologia nova vai substituir os chips de silício atuais e garantir a continuidade da evolução exponencial. “Os primeiros computadores foram construídos com válvulas termiônicas. Elas foram sendo aperfeiçoadas e miniaturizadas até que se atingiu um limite. Mas nessa época já tinham sido inventados os transistores, o que deu início a um novo ciclo evolutivo”, argumenta. “A Intel já está testando chips 3D em laboratório. Eles podem manter a evolução acelerada por algum tempo, até que outra tecnologia apareça”, diz.
Nas previsões de Kurzweil, em dez anos, teremos smartphones e outros dispositivos computacionais mil vezes mais poderosos que os atuais. Em 20 anos, eles serão 1 milhão de vezes mais poderosos. “O poder de processamento de um smartphone poderá ser colocado num dispositivo do tamanho de um glóbulo vermelho”, diz. Quando isso acontecer, nano-robôs poderão ser injetados no corpo humano para combater doenças ou para aperfeiçoá-lo de alguma forma. Seremos, então, parte humanos, parte máquinas.
National Geographic.com

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