quinta-feira, 4 de julho de 2013

Astrônomos perdem dois telescópios espaciais

Em 15 de maio passado os pesquisadores que trabalham com a detecção de exoplanetas (mundos em torno de outras estrelas, além do Sol), em especial do porte da Terra e localizados no interior da chamada “zona de vida” (onde a água se manifesta em estado líquido) ficaram órfãos do Telescópio espacial Kepler.
            Um pouco antes disso o Telescópio Espacial Herschel também foi perdido.
            Desde que fora lançado, em 7 de março de 2009, o instrumento que homenageava o astrônomo alemão Johannes Kepler (1572-1630) havia confirmado a existência de 132 planetas e apontado para a possibilidade de pelo menos outros 2.740 candidatos orbitando um grande número de estrelas da Via Láctea.
            O Kepler teve uma falha no sistema de estabilização, e isso impediu que continuasse apontando para seus alvos com a precisão necessária.
Algumas tentativas ainda estão sendo feitas na esperança de aumentar um pouco mais a vida útil desse instrumento, mas os engenheiros dedicados a esse trabalho não estão muito otimistas quanto aos resultados.
 
Menos de duas semanas antes do Kepler, o Telescópio Espacial Herschel também chegou ao fim de sua vida útil com o esgotamento do estoque de hidrogênio liquido que o mantinha resfriado próximo ao zero absoluto (-273° C) temperatura em que operava para observações no infravermelho distante e submilimétrico do espectro eletromagnético.
            O Herschel, que custou € 1 bilhão e havia sido lançado em 2009 para investigar o nascimento de estrelas e a evolução de galáxias, operou até o limite do resfriamento permitido pelo estoque inicial de 2.300 litros de hélio líquido com que fora lançado no interior de um foguete francês Ariane.
            Como ocorreu com o Kepler, a equipe do Herschel também lamentou o fim desse equipamento, mas isso já era esperado e, na verdade, o telescópio foi até um pouco além das expectativas em termos operacionais. Quanto à sua produtividade, as estimativas são de que nos próximos cinco anos não será superado por qualquer outro instrumento, no espaço ou na superfície.
 
Na verdade, o que pode ser considerado o substituto do Herschel, resultado de uma associação entre Europa e Japão, no projeto Spica, só deve ser lançado por volta de 2020. Assim, o Herschel não terá, em curto prazo, páreo no espaço.
            Na superfície da Terra, no entanto,  teria a companhia do radiotelescópio Alma, que se sobrepõe parcialmente à sua freqüência de investigação e está operacional desde março deste ano nos Andes chilenos.
            Por enquanto a única alternativa ao Herschel, além do Alma,  é o telescópio Sofia, um projeto germano-americano,  que opera a bordo de um Boeing 747 a elevadas altitudes na atmosfera, para evitar o vapor d’água que bloqueia parte da radiação tanto infravermelha quanto submilimétrica.
            O legado do Herschel, no entanto, que homenageia um astrônomo também alemão, mas que adotou cidadania britânica  (William Herschel, 1738-1822) de certa forma compensa sua perda.
O volume de dados que coletou, segundo dados do controle de vôo, está em fase apenas inicial de análise. Isso significa que descobertas interessantes ainda podem ser feitas com o equipamento que, agora inoperante, orbita o Sol a 1,5 milhão de quilômetros da Terra.

A essa distância o Herschel não tem como ser alcançado por astronautas, como ocorreu no passado com o Telescópio Espacial Hubble, que recebeu, entre outras inovações, lentes corretivas para resolver a miopia produzida por um defeito na curvatura de seu espelho principal.
O Hubble, que deverá ser substituído pelo Telescópio Espacial James Webb, está a apenas 600 km da superfície da Terra, praticamente no limite de operação dos também já aposentados ônibus espaciais americanos.
O Herschel  foi um dos maiores telescópios espaciais lá colocados no espaço, equipado com um espelho com diâmetro de 3,5 m dedicado a operar no infravermelho e, em 1.440 dias de operação, somou mais de 22 mil horas de coleta de dados.
A radiação infravermelha  bloqueada em grande parte pela atmosfera da Terra é emitida por corpos “frios” como estrelas em formação ou estrelas do tipo anã-marron. Nuvens de gás e poeira cósmica que bloqueiam, por exemplo, a luz visível, podem ser detectadas pelo infravermelho.
A propósito, William Herschel foi quem descobriu, em 1800, a radiação infravermelha quando colocou um termômetro além do vermelho no espectro do Sol e observou um aumento de temperatura.
Essa variação fez com que ele concluísse pela existência de uma luz invisível aos olhos, o que, à época, era algo inconcebível.
Logo em seguida à detecção do infravermelho, e com os progresso que ocorriam com rapidez na fotografia, foi identificado também o ultravioleta, iniciando um processo do conhecimento do espectro eletromagnético, um “desvelamento da luz”.
O espectro eletromagnético, que se estende a radiação gama, a mais energética (produzida, por exemplo, pelo choque de estrelas de nêutrons), até as longas ondas de rádio, resultam da energia liberada pelos corpos no Universo.
Até Herschel fazer a descoberta do infravermelho em 1800, no entanto, os sábios consideravam coisas como “luz invisível” algo mais próximo da fantasia que da pura realidade.
Scientific American
 
 

 
 

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