sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Aquecimento do Ártico pode mudar ecossistemas marinhos e terrestres

PENSILVÂNIA, EUA - Durante as últimas décadas o Ártico aqueceu duas vezes mais rápido que o resto do planeta, ao ponto de no ano passado a extensão de gelo ter marcado o mínimo histórico desde o início dos registros. As consequências de um mundo com menos gelo no mar incluem a ampliação do fenômeno do aquecimento: menos superfícies para refletir o sol de volta para a atmosfera, fazendo com que essa perda de gelo não seja apenas um indicador de aquecimento, mas um fator dele.
Esta revisão de estudos, liderada pelo professor Eric Post, da Universidade Penn State, nos EUA, e publicada na edição desta semana da revista “Science”, indica que a perda de gelo marinho pode conduzir alterações significativas nos ecossistemas marinhos e terrestres. O derretimento do gelo do mar afeta o teor de gordura de algas que vivem nas camadas de gelo, por exemplo, tornando-as menos nutritivas para os predadores marinhos. Menos gelo também significa menos espaço para forrageamento, reprodução e descanso de alguns vertebrados. Sem contar que essa mudança também pode abrir zonas costeiras atualmente inacessíveis ao tráfego humano, perturbando ainda mais o ecossistema natural da região.
 
O objetivo do estudo é analisar o efeito dominó que a perda de gelo causará nos animais marinhos e espécies terrestres desse habitat, que obrigatoriamente passarão a viver em um ecossistema hostil nos próximos anos para continuar obtendo alimento e se reproduzindo. No momento esta é a situação da Groenlândia, onde até agora os efeitos do degelo e do aquecimento nos micro-organismos que vivem sob o gelo têm recebido mais atenção que os animais como o caribu e a raposa do Ártico.
Depois do recorde de degelo alcançado em 2012, segundo o professor, a expectativa é que a capa de gelo continue derretendo em ritmo acelerado. Esta aceleração se deve, em parte, à perda de albedo — porcentagem de radiação na superfície branca, coberta de gelo, que reflete a luz solar. Quando o albedo diminui por causa da redução da superfície de gelo, o aquecimento aumenta.
Neste cenário, pode haver uma mudança quanto à mistura das populações. Os lobos ou raposas do Ártico, por exemplo, agora isolados apenas durante o verão, poderiam ficar mais tempo afastados. Este período livre de gelo, que promove o intercâmbio entre as populações, poderia ser um declínio nos cruzamentos. Em outras espécies, poderia acontecer justamente o contrário.
“Sabemos que para algumas espécies o gelo é uma barreira. Uma estação mais longa sem gelo provavelmente encorajará que a população se misture, reduzindo a diferenciação genética”, assinala Post.
Os ursos polares, por exemplo, cada vez passam mais tempo com os ursos cinzentos, e isto vem dando lugar a uma espécie híbrida. Por outro lado, a disseminação de patógenos antes isolados é outro risco caso o contato entre as espécies do Ártico oriental e ocidental. A ação do homem, até agora bastante discreta devido à dificuldade de acesso a áreas de gelo, também pode alterar a vida dessas espécies.
 




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