Cientistas da Agência Espacial Europeia anunciaram ter
escolhido o ponto de aterrissagem de um robô que, pela primeira vez na história
da exploração do espaço, irá pousar em um cometa.
Cientistas e engenheiros passaram semanas estudando o cometa
67P/Churyumov-Gerasimenko, que tem 4 km de largura e viaja a 55 mil km/h
atualmente a cerca de 440 milhões de quilômetros da Terra. É lá que o robô
Philae, enviado pela sonda Rosetta, deverá aterrisar.
O local escolhido para o pouso (veja foto acima) foi considerado o mais
apropriado devido às características de sua superfície e a exigência de períodos
de sombra. Mas a equipe de controle está bastante consciente do incrível desafio
que a missão representa.
O cometa 67P tem um formato muito irregular. Sua superfície é marcada por
grandes depressões e altíssimos penhascos, e mesmo as superfícies aparentemente
planas contêm grandes pedaços de rocha e fraturas perigosas.
Assim, evitar todos esses perigos exige muita sorte e planejamento
cuidadoso.
Aranha mecânica
O plano da equipe ainda é tentar fazer a aterrissagem no dia 11 de novembro.
A sonda Rosetta vai enviar seu robô Philae de um ponto a dez quilômetros de
distância do cometa.
O robô, com formato semelhante ao de uma aranha, vai tentar se acoplar à
superfície por meio de parafusos e harpões, no esforço de se fixar em um objeto
que tem pouquíssima força gravitacional.
A Agência Espacial Europeia diz que o controle da missão só terá uma
oportunidade de acertar. As ações acontecem a distâncias tão grandes que
controle pelo rádio, em tempo real, é impossível.
O processo terá de ser totalmente automatizado, com comandos finais
programados na Rosetta e no robô Philae com vários dias de antecedência.
A escolha do ponto de aterrissagem foi feita após um fim de semana de
deliberações em Toulouse, na França.
A equipe se reuniu para analisar as últimas imagens transmitidas pela
Rosetta, que vem monitorando o cometa 67P atentamente, desde o início de
agosto.
Havia cinco locais na mesa de discussões. Destes, a equipe escolheu dois, um
principal e um de reserva.
Os dois pontos serão estudados em mais detalhes nas próximas semanas, até que
uma decisão seja tomada, em meados de outubro.
O local preferido pela equipe tem condições de iluminação adequadas,
oferecendo ao robô alguns períodos de escuridão, permitindo que seus sistemas se
resfriem.
O ponto de aterrissagem "reserva" fica no lado maior do 67P.
A agência está prestes a anunciar mais detalhes sobre sua audaciosa tentativa
de aterrissar um robô em um cometa.
Perseguição no Espaço
Após passar quase uma década no encalço do 67P, a sonda europeia Rosetta
finalmente entrou na órbita do cometa no início de agosto.
A nave se aproximou do 67P/ Churyumov-Gerasimenko para investigar a estrutura
e composição do astro.
Uma das teorias sobre o início da vida na Terra postula que os primeiros
ingredientes da chamada "sopa orgânica" vieram de um cometa.
Os 11 instrumentos da Rosetta devem observar o 67P por mais de um ano,
buscando indícios da presença de água, carbono e outros elementos fundamentais
para a vida.
Mas, naturalmente, uma análise química da superfície do 67P, feita pelo robô
Philae, daria um grande impulso ao estudo.
O robô carregará uma furadeira para colher amostras de material na superfície
do cometa. Elas serão analisadas em um laboratório à bordo do aparelho.
"Se conseguirmos apenas algumas medidas e amostras, já terá sido um sucesso",
disse Jean-Pierre Bibring, que coordena as pesquisas do robô Philae.
"Gostaríamos de completar a primeira sequência científica, (o que seria
feito) em dois dias no cometa. Mas para entender o tipo de atividade que existe
no cometa, também precisamos de ciência de longo prazo. Isso levaria algumas
semanas".
De qualquer maneira, a equipe não espera que o robô sobreviva além de março,
quando, provavelmente, sucumbirá por superaquecimento.
Feito Inédito
As dificuldades técnicas de primeiramente colocar a Rosetta em órbita ao
redor do 67P foram consideráveis.
O cometa viaja a 55 mil km/h. Para entrar na sua órbita, a nave precisou
estar em frente ao astro a uma velocidade apenas 3,6 km/h menor, permitindo a
aproximação até ficarem lado a lado.
O feito foi inédito e dificultado pelo fato de os sinais de rádio enviados da
Terra para comandar a sonda levarem mais de 22 minutos para ser recebidos.
A estrutura irregular do cometa, que já foi comparada a um pato de brinquedo,
é outro obstáculo, já que é difícil calcular a sua força gravitacional, um dos
fatores mais importantes para se pilotar a Rosetta ao redor do cometa e para os
planos de pouso.
Informações iniciais indicam que a superfície do cometa esteja coberta de
poeira estelar, com temperaturas de -70ºC negativos
Acredita-se que cometas estejam entre os corpos celestes mais antigos do
Sistema Solar.
A missão Rosetta, batizada em homenagem à pedra que possibilitou a tradução
dos hieróglifos egípcios, foi planejada na década de 90.
A sonda foi lançada em março de 2004 e, desde então, já orbitou o sol cinco
vezes, ganhando velocidade "surfando" na gravidade da Terra e de Marte.
Para atravessar a parte mais gelada de sua rota, a sonda foi desligada em
2012 e somente reativada em 1º de janeiro deste ano.
BBC Brasil
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