segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Nuvens de água fora do Sistema solar

Concepção artística do planeta órfão W0855, que abriga nuvens de água em sua atmosfera.
Pela primeira vez um grupo internacional de astrônomos detectou evidências de nuvens de água num objeto localizado fora do Sistema Solar. 
O trabalho é um avanço nas técnicas de busca por possíveis planetas habitáveis, uma vez que água é tida como composto indispensável à vida como conhecemos. Mas, antes que você se anime demais, não custa lembrar que o mundo investigado agora pelos cientistas tem pouco a ver com nosso planeta. Com no mínimo três vezes a massa de Júpiter, ele é uma imensa bola de gás e muito provavelmente não tem a menor chance de abrigar criaturas vivas, mesmo as mais simples.

Trata-se de um objeto que os astrônomos não sabem nem direito como chamar. Uns preferem classificá-lo como um planeta órfão, outros dão o nome de anã marrom. Uma coisa é certa: ele não orbita nenhuma estrela — está solto no espaço, vagando pela Via Láctea — e provavelmente se formou pelo mesmo mecanismo que gera esses astros brilhantes.
Estrelas nascem de nuvens de gás que se comprimem pela gravidade, até atingir tal tamanho que átomos individuais começam a grudar uns nos outros em seu interior, gerando energia. O problema, no caso de objetos como o recém-estudado WISE J085510.83-071442.5, é que falta gás para que eles atinjam tamanho suficiente a ponto de iniciar a produção de energia e “acender”, como as estrelas tradicionais. Resultado: após seu nascimento, resta a eles ir lentamente se esfriando, até ficarem tão gelados quanto um planeta gigante gasoso — e efetivamente terem as características de um.

CRISTAIS DE GELO
Para nós, o que interessa agora é o resultado obtido por Jacqueline Faherty, da Instituição Carnegie para Ciência, em Washington (EUA), e seus colegas. Usando o Observatório de Las Campanas, no Chile, os pesquisadores conseguiram captar a sutil luz infravermelha emanada desse objeto grande e gelado (temperatura estimada entre -48 e -13 graus Celsius).
“Foi uma batalha no telescópio para obter a detecção”, relatou Faherty. Após três noites de observação e 151 imagens, eles conseguiram os dados de que precisavam. Ao analisá-los e comparar com modelos atmosféricos de anãs marrons frias, encontraram um padrão de espalhamento de luz consistente com nuvens de cristais de gelo de água, além de nuvens de sulfatos.
Essas nuvens de gelo são similares às que existem nos planetas gigantes do nosso Sistema Solar — Júpiter, Saturno, Urano e Netuno — e sua detecção mostra que estamos realmente muito próximos de começar a estudar a atmosfera de mundos em torno de outras estrelas. O trabalho, publicado no “Astrophysical Journal Letters”, é um marco nesse sentido, embora tenha sido facilitado pelo fato de que o objeto não tem nenhuma estrela próxima que ofusque a tênue luz infravermelha a emanar dele.
Espera-se que a coisa comece esquentar mesmo a partir de 2018, quando for ao espaço o Telescópio Espacial James Webb. Sucessor do Hubble desenvolvido pela Nasa, ele será capaz de sondar a atmosfera de planetas parecidos com a Terra em torno de estrelas menores que o Sol, as chamadas anãs vermelhas. Se forem encontradas nuvens de água num mundo rochoso e com a temperatura certa, será um indício bem convincente de que teremos achado outro planeta hospitaleiro à vida no Universo.
Folha de S.Paulo.com

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