domingo, 17 de janeiro de 2010

Haiti - algumas considerações


A fundação do Haiti nasceu da utopia de escravos que se libertaram dos colonizadores franceses em 1804. Mas essa história de luta e superação, infelizmente, se transformou numa tragédia desde sua fundação, pois sua história, desde lá, é  marcada por golpes militares e crises institucionais. Há, hoje, no país, 10 milhões de habitantes, cujo nível de vida é semelhante ao de alguns países da África - origem dos ascendentes da maioria da população, que chegaram na ilha na condição de escravos, entre os séculos XVI e XIX - e estima-se que 80% da população seja miserável. Isso porque o país foi destroçado por déspotas, pela corrupção e pelo desmatamento em larga escala (quase 98% da floresta) para agricultura. As taxas de analfabetismo são altíssimas e, além disso, sazonalmente ocorrem enfermidades "quase bíblicas" que, devido a inexistência de programas de saúde pública, ceifam de centenas à milhares de haitianos. Também não há ensino gratuito, as estradas são péssimas e praticamente inexiste transporte público. E há, por exemplo, mais de 250 mil crianças que foram entregues por famílias miseráveis para lares "um pouco menos", vivendo em regime de semiescravidão e desamparo.
Desde sua fundação, 23 tiranos comandaram o Haiti, sendo Françoise Duvalier, de alcunha "Papa Doc", o mais conhecido e cuja dinastia durou de 1957 a 1986. Ostentava o luxo e tinha milícia pessoal, os "tontons".
O presidente Bertrand Aristide, que caiu em 2004 - depois de sangrenta revolta -, fazia oposição à dinastia Duvalier. A falta de um governo firme, desde então, abriu espaço para que gangues de criminosos e traficantes tomassem conta do país.
O Haiti está acostumado às intervenções internacionais e uma das causas - segundo cientistas políticos -  que o impedem de "ir pra frente", é a cultura política de doações externas, que chega atualmente a 60% do PIB. Recebe muito mais ajuda financeira que investimentos, criando-se, assim, uma equação perversa pois "acostuma" mal a população, já que desta forma os problemas são solucionados apenas a curto prazo, não ativando a economia e criando oportunidades de emprego e incentivos de qualificação profissional.
A elite haitiana, em sua maioria, mora nos Estados Unidos, França e Canadá; já os poucos haitianos que vivem um pouco acima da linha de miserabilidade, mantém-se, na maioria, através de remessas de dinheiros do exterior, enviadas por algum parente que emigrou em busca de melhores oportunidades.
Em linhas gerais, o terremoto de larga proporção ocorrido na semana passada, é apenas mais um episódio trágico na história do Haiti.
(Época online e Jornal Espanhol Él País)

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