segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A real interferência da Lua cheia sobre o ser humano

Esta é uma semana de Lua cheia (com a plenitude no dia 19), o que pode indicar que as próximas noites serão mais românticas mas, em compensação, mal dormidas. Um artigo científico recente diz que a Lua parece afetar a qualidade do sono: em média, nas noites de Lua cheia, as pessoas tenderiam a demorar mais para adormecer, uma vez apagadas as luzes; dormiriam pior; e o período de sono duraria 20 minutos a menos que em outras fases lunares.
Se estiver correto, este trabalho, publicado na revista Current Biology, será o primeiro a confirmar, em condições rigorosas de laboratório, um efeito concreto das fases da Lua sobre o ser humano: não importa o que o seu cabeleireiro, sua prima grávida ou o folclore dos lobisomens digam, não existe nenhuma outra prova de que a Lua afete coisas como comportamento violento, taxas de homicídio, atos de loucura, a fertilidade ou a natalidade.
Uma análise clássica de várias dezenas estudos sobre supostos efeitos das fases da Lua nas pessoas foi publicada nos EUA em 1985, e atualizada em 1996. Nas duas ocasiões, o título, muito apropriado, dado pelos autores foi: “A Lua Estava Cheia e Não Aconteceu Nada”.
Os estudos avaliados registraram, entre outras informações, datas de nascimento de milhares de bebês, data e horário de dezenas de milhares de ligações para a polícia ou serviços de emergência, data e horário de faltas violentas em eventos esportivos, número de internações psiquiátricas... Sem achar nenhuma correlação válida com a fase da Lua. E isso sistematicamente, desde o século 19.
Nos raros trabalhos em que um possível efeito aparecia, uma análise mais aprofundada mostrava que era algo que podia ser atribuído a erro dos pesquisadores originais ou a coincidências: por exemplo, um eventual pico no número de acidentes envolvendo motoristas alcoolizados se explica melhor porque a noite era de lua cheia, ou porque era noite de sábado?
O que requer explicação, no fim, é a popularidade da ideia de que as fases da Lua têm efeito sobre as pessoas, uma impressão tão arraigada que está na raiz da palavra “lunático”. Mesmo a coincidência com o ciclo menstrual é exagerada: o ciclo feminino médio (sempre sujeito a grandes variações individuais) é de 28 dias, mas o lunar é de 29,5 dias.
Existe um efeito de percepção seletiva: quando algo extraordinário acontece na lua cheia, ligamos, em nossas mentes, o evento à fase. Mas, quando algo excepcional ocorre na lua nova ou minguante, não fazemos a associação. A mídia também é um fator poderoso: praticamente toda cena noturna importante de filme ou novela acontece debaixo de uma enorme lua cheia!
Uma questão que já começa a ser debatida na comunidade científica é se o trabalho sobre fases da lua e sono da Current Biology se sustenta. Críticos apontam para a amostra pequena, de apenas 33 pessoas, como um fator que enfraquece a conclusão, entre outros problemas.
Mesmo se for verdadeira, no entanto, a relação não terá nada a ver com a gravidade lunar, as marés ou forças místicas. Os autores especulam que o organismo humano pode ter um “relógio circalunar” biológico de 29,5 dias, semelhante ao já conhecido “relógio circadiano” que ajusta o ciclo diário de nossas vidas, incluindo a variação na temperatura do corpo e a liberação de certos hormônios, ao período de rotação da Terra.
Galileu.com 

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