sábado, 16 de novembro de 2013

Uso trivial de gás hélio preocupa especialistas

O uso trivial do gás hélio, entre outros fins, para encher bexigas em festas infantis, vem preocupando especialistas, que alertam para sua escassez no mundo. Para eles, o recurso pode um dia acabar e criar problemas para setores importantes da economia.
No universo, o gás hélio é um dos elementos mais comuns, ficando atrás apenas do hidrogênio em nível de abundância. Na Terra, contudo, ele é relativamente raro, e o único que escapa do poder da gravidade e se perde no espaço.
"Todos os outros elementos que temos espalhado pelo globo, talvez seja o caso apenas de cavarmos mais fundo para encontrar novas fontes", afirma a química Andrea Sella, da Universidade College London (UCL).
"Mas o gás hélio é único. Quando acabar, está perdido para sempre", acrescenta ela.
O hélio tem o ponto de ebulição mais baixo de qualquer elemento, a 269 graus Celsius negativos, somente poucos graus acima do zero absoluto (-273 graus Celsius).
Tal característica dá ao gás grande importância como supercondutor de imãs usado em scanners de ressonância magnética, que devem ser intensamente resfriados para gerar poderosos campos magnéticos.
"Avaliando a situação atual, não posso acreditar que as pessoas usam o gás hélio para encher bexigas, quando esse elemento é tão precioso e único", critica Peter Wothers, químico da Universidade de Cambridge, que fez um apelo para o fim da prática.
O hélio, que é formado pela decomposição de rochas radioativas na crosta da terra, se acumula em depósitos de gás natural e é recolhido como um subproduto da indústria do gás.
Os Estados Unidos são atualmente os maiores fornecedores do mundo, com as maiores reservas nos arredores de Amarillo, no Estado do Texas.
Ali, localiza-se a reserva nacional de hélio - que responde sozinho por 35% da oferta atual do mundo.
A estrutura foi criada em 1925 como um local estratégico para o fornecimento de gás para aeronaves norte-americanas. Após a Segunda Guerra Mundial, passou a fornecer matéria-prima para mísseis das Forças Armadas e foguetes da Nasa.
Mas, desde meados dos anos 1990 , com a crescente demanda civil por hélio, especialmente para a fabricação de semi-condutores e scanners de ressonância magnética, entre outros produtos, os EUA foram condicionados a vendê-lo pouco a pouco no livre mercado.
Apesar disso, o preço do hélio dobrou nos últimos 10 anos.
Histórias assustadoras sobre a escassez de recursos naturais já se tornaram um lugar-comum - mas neste ano o mundo pôde sentir os efeitos da escassez do hélio.
Fabricantes de semicondutores dos Estados Unidos sabiam que, sob os termos de uma lei de 1996 , a reserva de hélio dos EUA estava legalmente obrigado a interromper o fornecimento no mês passado.
Com muita antecedência, o alarme começou a tocar. Deficiências na oferta se tornaram rapidamente rotina.
"Na maior parte do ano passado, só recebemos cerca de 80% do hélio que contratamos", afirma Rodney Morgan, executivo de uma fabricante de chips baseada nos EUA .
Tal era o sentido de urgência da indústria de TI e outros setores da economia que a legislação para evitar esta crise foi incluída em um punhado de projetos de lei aprovados às pressas pelo Congresso dos EUA, na véspera da recente paralisação do governo dos EUA.
Para especialistas, o atual cenário mostra que a era do hélio barato acabou.
Mas o que vai acontecer com as festas infantis, a partir de agora?
"A quantidade de hélio que é usada em bexigas de festas infantis é muito pequena em comparação com outros usos", afirma Wothers.
"Mas é justamente por fazermos um uso trivial disso que devemos valorizá-lo mais", conclui ele.

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