Mundo parecido com a Terra está ao nosso lado, e não a centenas de anos luz de distância
Com alguma frequência a mídia se refere à descoberta de um planeta fora do Sistema Solar, uma espécie de primo ou irmão da Terra, e certa agitação sugere que um dia desses colocaremos nossos pés lá para trocar de mundos, algo como o que aconteceu na infância do Super Homem, quando deixou Krypton para viver com pais adotivos na Terra.
Na quarta-feira passada (30/10) mais uma vez a mídia internacional voltou a esse tema ao se referir ao planeta Kepler 78-b, a 400 anos-luz da Terra, no interior da constelação do Cisne.
Kepler 78 é uma estrela anã-amarela, parente não muito distante do Sol, e o mundo que a orbita teria 1,2 o diâmetro da Terra e densidade de 5,3 ou 5,57 gramas por centímetro cúbico.
A densidade da Terra é de 5,52 grama por centímetro cúbico. Isso significa que 1cm³ do material médio que forma a Terra e cabe numa colher de chá pesa 5,52 gramas.
Ao menos a primeira comparação com a Terra por parte de Kepler-78, no entanto, mostra um enorme desencontro.
Kepler 78 está tão próximo de sua estrela-mãe que completa um giro em torno dela (um ano de Kepler 78) em pouco mais que um terço de dia da Terra, ou seja, 8h30.
O que um período orbital como esse sugere?
Que o planeta está estão próximo da estrela que sua temperatura superficial é infernal e absolutamente inconsistente com as formas de vida conhecidas na Terra. Entre outras razões porque, num mundo como esse, a água não pode manifestar-se nas três como ocorre na Terra.
E se descobrirmos, a qualquer hora, um mundo como Vênus, em torno de uma outra estrela?
Seguramente seria uma comoção.
Os jornais abririam pequenas manchetes de página e os âncoras dos telejornais em horário nobre fariam posse para anunciar, com certa solenidade, que haveria uma segunda Terra no céu.
Mas Vênus está aqui, bem ao nosso lado. Por que não comemoramos a existência dele?
Talvez porque as sondas espaciais tenham revelado que, ao invés de deusa do amor da mitologia romana, na verdade Vênus é um mundo bem próximo de um inferno de calor (próximo de 500 ºC na superfície) e uma atmosfera corrosiva de ácido sulfúrico, entre outros elementos agressivos à presença humana e da vida conhecida.
Pressão esmagadora
Sem falar de uma assustadora pressão atmosférica, que literalmente amassou as primeiras naves soviéticas a pousar em sua superfície ainda nos anos 60.
Vênus tem 95% do tamanho da Terra, com diâmetro equatorial de 12.104 km, contra 12.400 km da Terra. Ao contrário da Terra, no entanto, Vênus não está acompanhado de uma lua e, curiosamente, gira de cabeça para baixo.
Uma dia ocuparemos Vênus?
Mais fácil chegarmos a Vênus (várias sondas americanas e russas já pousaram lá) que a alguns anos-luz daqui. Kepler 78-b, por exemplo, a 400 anos-luz exigiria uma viagem que, mesmo à velocidade da luz (300 mil km/s no vácuo) demoraria 400 anos.
Isso sem considerar que nenhum corpo dotado de massa pode viajar à velocidade da luz.
E antes de chegarmos a Vênus é mais simples pousar e iniciar a colonização de Marte, o que é mais fácil de falar que de fazer, embora isso, seguramente, deva acontecer em futuro relativamente próximo.
Carl Sagan, um dos mais notáveis divulgadores científicos do século 20, em sua tese de doutorado, propôs o que ficou conhecido como “terraformação” de Vênus com uma técnica supreendentemente simples. Algas geneticamente desenvolvidas colocadas na atmosfera do planeta absorveriam o gás carbônico que faz desse mundo um inferno e, à medida que isso ocorresse, estaríamos cada vez mais próximos de um segundo jardim, no Sistema Solar.
Claro que um irmão da Terra, ainda que distante, pode sugerir a presença de vida. Eventualmente de uma civilização, coisa que Vênus nem de longe sugere.
De qualquer maneira, em termos logísticos, mesmo a complexa engenharia planetária de Vênus é mais simples e direta que uma viagem interestelar a dezenas ou centenas de anos-luz distante da Terra.
A presença de Vênus no céu, entre novembro e dezembro deve fazer com que muitos especulem sobre a luz intensa entre as estrelas que não havia sido notada antes.
Às 4h58 de hoje (sexta-feira, 1º de novembro), Vênus atingiu sua máxima elongação oriental, ou seja, o máximo distanciamento aparente do Sol, observado da Terra e isso fará com que ele se mostre como um ponto bastante luminoso a uns 15º de altura no horizonte oeste, logo em seguida ao por do sol, no interior da constelação do Sagitário.
Vênus se exibe no céu
Mas à medida que os dias passam, e até o fim do ano, Vênus se exibirá luminosamente no céu sugerindo para muitos a idéia de um OVNI.
Em 6 de dezembro, bem próximo da Lua falcada (com a forma de uma foice) Vênus atingirá a magnitude – 4,9, mais brilhante que qualquer estrela no céu, mesmo Sirius, a mais brilhante de todas.
Enquanto Vênus exibe seu brilho no céu talvez seja interessante considerar que, mesmo incomparavelmente mais próxima da Terra que qualquer outro mundo da Galáxia, excetuando Marte, mais acolhedor, este ainda é um mundo agressivo à presença humana e à vida como concebemos.
A Terra ainda é, sob todos os aspectos, o único jardim conhecido da Galáxia e, sem qualquer dúvida, o espaço mais sofisticado de vida do Sistema Solar, ainda que duramente agredido pela poluição humana, com ameaça sobre a enorme diversidade de espécies com que compartilhamos a vida aqui.
Esse talvez possa ser um ponto de partida interessante para, surpreendentemente, começarmos a descobria a própria Terra, nossa casa cósmica que mais de uma nave espacial já mostrou como um pálido ponto azul em meio ao fundo escuro do céu, apenas pontilhado de estrelas.
Scientific American
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