É um dos maiores terrores do mundo moderno: a ameaça de que um asteroide colida com a Terra e acabe conosco. Agora, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual do Iowa, nos Estados Unidos, propõe combater essa ameaça com outro horror contemporâneo: armas atômicas.
Bong Wie, líder da equipe do Centro de Pesquisa de Deflexão de Asteroides, apresentou a pesquisa no começo do mês, em um encontro promovido pela Nasa na Universidade Stanford, Califórnia. E agora ele quer testá-la numa missão espacial de verdade.
O pesquisador diz que sua estratégia pode impedir que asteroides de grande porte (até 2 km de diâmetro) prejudiquem a vida na Terra, mesmo que o alerta de impacto seja dado com pouco tempo.
Até então, todas as estratégias discutidas pelos cientistas para desviar um bólido celeste que pudesse estar em rota de colisão conosco exigiam um aviso prévio de mais de 10 anos.
SOLUÇÃO NUCLEAR
O trabalho de Wie não é o primeiro a sugerir que bombas atômicas pudessem fazer esse serviço, mas sempre se considerou que uma explosão nuclear na superfície de um asteroide desse porte fosse incapaz de detoná-lo em pedaços suficientemente pequenos para que queimassem na atmosfera terrestre sem nos causar perigo.
A novidade do trabalho de Wie é pensar no problema como fez Bruce Willis, no filme-pipoca “Armageddon” (1998). Na ocasião, o ator interpretava um especialista em escavar poços de petróleo que foi transformado em astronauta para abrir um buraco fundo num asteroide, a fim de detonar uma bomba nuclear lá dentro.
O princípio era sólido — uma explosão dentro do bólido teria um poder 100 vezes maior de quebrá-lo em pedaços, uma vez que a energia seria praticamente toda dissipada no próprio asteroide. Wie, contudo, buscou uma forma mais simples de resolver a questão, dispensando o sacrifício de Willis no processo.
Uma nave não-tripulada composta por duas partes separadas por uma estrutura longa e dobrável poderia fazer o truque. A porção frontal teria uma única missão: colidir de frente com o asteroide.
É um déja vù da missão Deep Impact, conduzida pela Nasa, que levou um pequeno módulo a colidir com o cometa Tempel, em 2005. Naquela ocasião, vimos como mesmo um objeto não-explosivo, ao colidir em alta velocidade com um bólido celeste, era capaz de escavar uma bela cratera nele. Muito melhor que qualquer coisa que uma perfuratriz pudesse fazer.
A diferença para o novo projeto é que, logo atrás desse impactador, viria uma bomba nuclear. Ou seja, abre-se uma cratera e, uma fração de segundo depois, chega a ogiva, que detona numa região muito mais profunda do asteroide.
Wie recebeu dois financiamentos da Nasa, desde 2011, para desenvolver a ideia, e simulações de computador mostram que poderia funcionar, mesmo com pouco tempo de aviso prévio no caso da detecção de um objeto em rota de colisão com a Terra.
O asteroide grande seria quebrado em muitos pedaços menores. A maioria deles atingiria a velocidade de escape do bólido e assumiria outras órbitas, evitando o impacto. E os pedaços que permanecessem no nosso caminho não teriam mais que 5 metros, queimando por inteiro na atmosfera. A humanidade estaria salva.
VOO DE TESTE
O bacana é que a ideia não exige nenhuma tecnologia nova. Tanto que Wie está propondo à Nasa a realização de uma missão de teste, que ele estima poder ser feita com US$ 500 milhões. O custo é factível, e o pesquisador de Iowa já até listou alguns asteroides candidatos para o teste, pensando em lançamentos entre 2015 e 2020.
“O primeiro voo de validação da missão não carregará uma carga útil nuclear de verdade”, disse Wie ao Mensageiro Sideral. Ele serviria basicamente para testar a premissa e a capacidade de abrir o buraco necessário para detonar o asteroide.
Naturalmente, se tudo correr bem, em algum momento convém realizar um teste de verdade, com ogiva nuclear e tudo mais, para ver se a ideia funciona mesmo. Se lhe dá calafrios pensar numa bomba atômica dentro de um foguete, não custa lembrar que durante a Guerra Fria esses artefatos também seriam transportados por mísseis, e a única diferença é que, em vez de cair num asteroide, eles cairiam na cabeça de outras pessoas.
Confesso que a proposta me encanta, porque demonstra que até a invenção mais nefasta da história humana — a bomba atômica — pode ter uma aplicação redentora. Quem sabe ela não terminará garantindo nossa existência e evitando que terminemos como os dinossauros?
Contudo, não podemos ignorar o fato de que encontrar um uso legítimo para bombas atômicas pode ser usado como desculpa para que nações belicosas desenvolvam suas próprias ogivas, sob o pretexto de conduzir um programa pacífico de “defesa planetária”. Perguntei a Wie o que ele acha disso, e ele se esquivou. “Você apresenta uma preocupação lógica, mas ela está além do escopo da minha pesquisa.”
De toda forma, o fato de que já temos uma possível solução para a ameaça dos asteroides com menos de um século de exploração espacial mostra que, se a humanidade tiver sabedoria suficiente, pode sobreviver até a algumas das maiores catástrofes impostas pelo Universo. Dá uma pontinha de orgulho. Mas, claro, para tudo dar certo precisamos nos manter vigilantes, vasculhando os céus para descobrir os asteroides ameaçadores antes que eles trombem conosco.
Folha.com
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