Há um risco, maior que o estimado antes, de a Terra ser atingida pelo impacto de um bólido celeste, segundo dados divulgados pela organização Comprehensive Nuclear Test Ban Treaty Organization no último dia 21.
A entidade que, como seu nome sugere dedica-se à vigilância de testes nucleares clandestinos, revelou ter identificado o impacto de 26 asteróides com a atmosfera da Terra no curto período entre 2000 e 2013.
Esses 26 bólidos incluem o corpo que caiu nas proximidades dos Montes Urais, na Rússia, em 15 de fevereiro do ano passado e deixou pelo menos mil pessoas feridas por estilhaços de vidro e outros detritos.
Neste caso, a transformação de energia cinética (movimento) do corpo que se chocou com a Terra, estimado em 10 mil toneladas, transformou-se subitamente em energia térmica (calor) e gerou uma explosão que estrilhaçou vidros de janelas de pessoas que foram verificar o clarão produzido pelo impacto.
A onda de choque produzida pela explosão, além de romper janelas e transformar vidro rompido em projéteis, também lançou outras formas de detrito na baixa atmosfera que atingiram e feriram pessoas e seguramente animais.
Quase sempre, quando se fala em impacto de asteróides, as pessoas tendem a pensar no corpo que teria se chocado contra a Península de Yucatã, no México, e pôs fim ao longo reinado dos dinossauros ao liberar na atmosfera vapor d’água e poeira que bloquearam a luz solar e provocaram a morte da vegetação.
Sem alimentos, os dinossauros herbívoros, de que os carnívoros se alimentaram, foram eliminados e levaram junto seus antigos predadores.
Mas esse era um asteróide comparativamente grande e mais raro, ao contrário dos menores, mas mais numerosos e igualmente ameaçadores.
A conexão, no caso dos acontecimentos há 65 milhões de anos, pode sugerir um teatro menos violento que o que se manifestou na realidade e relativamente mais rápido. Mas o cenário não foi assim.
O armagedon
O corpo, estimado em 10 km de diâmetro, impactou com a Terra, explodiu e ejetou no espaço parte da atmosfera terrestre. Além disso, produziu uma quantidade de calor que teria alimentado incêndios em escala planetária, entre outros efeitos que aos olhos humanos teria sido a forma mais extrema de terror vinda do espaço profundo.
O mais frequente, no caso de bólidos vindos do espaço, são impactos com corpos menores, porque eles são mais numerosos, o que diminui os riscos de uma catástrofe, especialmente se ocorrer em uma significativa comunidade humana, mas também levaram a crer que esses acidentes cósmicos sejam menores que na realidade devem ser.
As chuvas de meteoros, por exemplo, que encantam astrônomos amadores e observadores eventuais, de forma geral são material desprendido de cometas e asteróides que passam pelas proximidades do Sol em suas órbitas quase sempre elípticas.
Uma “estrela cadente” que com freqüência marca o céu como um risco de fósforos cósmicos, quase sempre tem o porte entre um grão de milho e um de arroz e por isso mesmo não oferecem riscos na superfície do planeta.
Corpos maiores, no entanto, não foram nem serão tão inofensivos e essa possibilidade preocupa crescentemente a comunidade astronômica, em meio à comunidade científica de modo geral.
O mais significativo deles, ao que tudo indica o corpo de um pequeno cometa, caiu no vale do Rio Tunguska, na Sibéria, território da antiga União Soviética, em 1908, então praticamente desabitado.
A explosão que ocorreu na atmosfera, em Tunguska, liberou calor em quantidade suficiente para incendiar uma floresta com a extensão da área da cidade de São Paulo, numa devastação que só algumas décadas depois foi testemunhada por observação humana.
Explosão iluminou a noite
Para se ter uma idéia do cenário, registros falam que a luminosidade da explosão permitiu a leitura de jornais durante a noite, em Londres, a centenas de quilômetros distante do grande vazio siberiano.
Mais recentemente ainda, em 1932, o que se imagina que tenha sido também parte de um cometa, chocou-se com a Terra na região do Vale do Rio Javari, um dos afluentes do Solimões que, com o Rio Negro, forma o Amazonas, o maior rio da Terra.
Cientistas buscaram sem sucesso a cicatriz do impacto, da cratera, deixado pelo corpo que caiu no Vale do Javari, da mesma forma como também não foi encontrada de forma inequívoca a cratera produzido pelo bólido do Vale do Tunguska.
O que fazer para evitar um desastre que pode comprometer seriamente a estabilidade da civilização, uma questão que parece emergir do universo da ficção científica?
A resposta está em duas providências: identificar, ainda no espaço e relativamente distante, o corpo ameaçador e, em seguida, providenciar o desvio de sua rota para que a Terra saia de sua alça de mira.
As duas questões até agora permanecem como um desafio, em particular a possibilidade de desvio de rota do corpo ameaçador, mas esforços nessa direção tendem a ser intensificados numa mudança de mentalidade que traz o que já foi ficção científica para a pura realidade, a exemplo do que ocorreu em outras áreas do conhecimento.
Talvez valha a pena acrescentar que esse bombardeio intenso da Terra por blocos desprendidos de cometas injetam água no planeta e com isso compensa as perdas por fotodissociação que ocorrem em elevadas altitudes da atmosfera fazendo com que o oxigênio precipite em direção à superfície, enquanto o hidrogênio, leve como pluma, forme um véu que se estende da Terra a uma distância equivalente à órbita da Lua.
Uma última e surpreendente relação:
A água que chega agora do espaço, e que no passado também foi trazida para a Terra no corpo de cometas que se chocaram com o planeta, forma perto de 60% da massa de um corpo humano.
Isso significa que, apesar do risco representado pelos cometas, ao lado de asteróides − que em alguns casos não são outra coisa que cometas envelhecidos – nossos próprios corpos foram, no passado remoto, parte de um cometa brilhante no céu.
Por Ulisses Capozzoli - Scientific American
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