quinta-feira, 22 de maio de 2014

O Texas beberá água depurada do banho e de vasos sanitários pela seca


Na cidade de Wichita Falls, no Texas, a escassez de água levou as autoridades a tomarem medidas tão desesperadas como tratar a água dos vasos sanitários para misturá-la com as reservas de água potável, que chegará diretamente aos copos dos consumidores. O fantasma da seca deixou sua marca no Estado e as alternativas começaram a se esgotar.
Seus habitantes expressaram seu mal-estar pela decisão, mas não podem fazer muito. Na sexta-feira passada, a cidade declarou o início da etapa 5 de restrições para a água, o que significa que seus lagos estão a 25% da capacidade. No entanto, a decisão já tem precedentes: San Antonio, por exemplo, processa a água de vasos sanitários e a utiliza para regar campos de golfe, parques e universidades. Dallas faz o mesmo com o campo de golfe Cedar Crest.
A água residual será tratada e depois chegará ao rio Big Wichita para passar por um processo natural de limpeza, que demora várias semanas, e depois desembocar no lago Texoma. Se o plano das autoridades locais segue adiante, a água tratada proveniente de banheiros, duchas e lavatórios será misturada a uma quantidade de 50/50 com a água proveniente dos lagos Arrowhead e Kickapoo. Concretamente, a água irá em um gasoduto de 21 quilômetros que ligará duas plantas de processamento de água.
Wichita Falls será a primeira cidade nos Estados Unidos a realizar uma aposta tão arriscada. Seu prefeito Glenn Barham assegurou que é a melhor alternativa ante a seca e fez questão de dizer que “tomará o primeiro copo”. Mas, antes de fazê-lo, a Comissão de Qualidade do Meio Ambiente do Texas deve aprovar a qualidade da água e certificar que é segura para a população. Para isso, as autoridades locais deverão realizar diversas provas, que já começaram. Neste mês a comissão anunciou que é preciso realizar mais exames para seguir adiante com a medida.
Historicamente, o Texas desenvolveu projetos de água convencionais como reservas, poços de água subterrânea e medidas de conservação. Mas agora as autoridades locais estão focadas em reutilizar e desalinizar a água para enfrentar a seca contínua que o Estado sofre há quatro anos: 83% de seu território está experimentando algum nível de seca e 67% é de nível severo ou excepcional.
A partir de agora os negócios de lavagem de carros só poderão operar cinco dias por semana. Se os lagos alcançam 20%, terão que fechar temporariamente. Para os lares que ultrapassem 38.000 litros de água, o preço subirá de acordo com o uso, entre outras medidas.
Atualmente os manuais para conservar a água são leitura obrigatória para os residentes: “regue apenas quando seja necessário, use um balde ao lavar o carro, não tome banhos demorados”, insistem.
“Nosso desafio é enfrentar o fato de que os texanos, de modo geral, não utilizam bem a água e precisamos ser mais eficientes no uso das reservas atuais, enquanto reduzimos os usos não essenciais”, assegurou Ken Kramer, conselheiro da Sierra Club no Texas e membro da direção de Texas Water Foundation.
Segundo dados do Conselho de Desenvolvimento de Água do Texas (TWDB), 80% das reservas do Estado já estão sendo utilizadas e os prognósticos não indicam um panorama alentador. “Já vemos que algumas comunidades pequenas estão a ponto de ficar sem água. Se o Texas recebesse, de repente, seu nível de chuva normal, eu não falaria em crise. Mas sim diria que o Estado enfrentará sérios desafios futuros se as comunidades não mudam a maneira em que pensam sobre a água”, explicou Amy Hardberger, advogada e geocientista da Universidade St. Mary.
De acordo com o último relatório do Avaliador Nacional do Clima no Texas “as temperaturas em acréscimo estão produzindo um aumento da demanda de água e energia. Em algumas partes da região isto limitará o desenvolvimento, acabará com os recursos naturais e incrementará a concorrência por água entre as comunidades, o setor agrícola, a produção energética e as necessidades ecológicas”.
“A maioria das previsões apontam para um Texas mais seco e quente como resultado da mudança climática. Mas a seca levou a muitos reexaminarem o uso da água. Isso, somado aos esforços de conservação e programas de resposta, reduziu o uso per capita de água em muitas partes do Estado incluindo Austin, Dallas e San Antonio. Acho que essa tendência continuará”, explicou Kramer.
O último plano estatal sobre a água estimou que o Texas terá um déficit de 1,022 trilhões de litros para 2060, mas especialistas do Centro de Estudos Políticos do Texas asseguram que a cifra  chegará apenas a 41 bilhões de litros.
A efetividade das estratégias para o tratamento da água e a diminuição de seu consumo são matéria de debate a nível estatal, mas onde sim existe consenso é sobre o custo de água, que se elevará consideravelmente no Estado. “Não é algo que possa ser evitado, a água barata já era. Nova água implica nova tecnologia e alguém terá que pagar por isso”, comentou Hardberger.
El País.com

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