terça-feira, 20 de maio de 2014

Rússia poderá fechar Estação Espacial em 2020



Tensões políticas entre Rússia e Estados Unidos chegaram oficialmente ao espaço, a única área em que os dois países sempre mantiveram relações fortes e produtivas de trabalho desde o fim da Guerra Fria.
Em resposta às sanções dos Estados Unidos sobre a anexação da Crimeia, o Primeiro Ministro adjunto da Rússia, Dmitry Rogozin, anunciou na terça-feira que seu país não permitiria que a Estação Espacial Internacional (ISS, em inglês) operasse depois de 2020, de acordo com relatórios. Rogozin adicionou ainda que a Rússia também deverá parar de fornecer motores para os foguetes Atlas 5, usados para lançar satélites militares americanos.
A ISS é a maior realização da parceria espacial entre Rússia e Estados Unidos – gigante de  US$100 bilhões com tamanho de um campo de futebol - com funcionamento previsto até 2024.
A estação é composta de módulos americanos e russos, além de estranhas unidades japonesas e europeias, e ainda não está claro se algum país poderia operar a instalação sem a cooperação de todos os outros.
Rogozin apontou que os maiores prejudicados são os Estados Unidos, já que eles dependem de foguetes russos para transportar astronautas até o laboratório orbital –e para trazê-los de volta. Desde a aposentadoria dos ônibus espaciais, os Estados Unidos não têm meios de transportar humanos para a órbita terrestre baixa.
O efeito dessa declaração sobre as atuais atividades espaciais conjuntas ainda não está claro. “Em parte, eu acho que isso é só pose”, declara Roger Launius, diretor associado de coleções e assuntos de curadoria do Museu Nacional Aéreo e Espacial. “Eles estão falando sobre 2020. Ainda temos muito tempo até lá”.
Por enquanto, a Nasa e a Agência Espacial Federal da Rússia (Roscosmos) estão cooperando como sempre. Na noite de terça-feira, três tripulantes da estação – um americano, um russo e um japonês –deixaram o laboratório em uma cápsula Soyuz russa e aterrissaram no Cazaquistão. “As operações continuam normalmente na ISS”, escreveu na terça-feira o porta-voz da Nasa, Allard Beutel. “Nós aindanão recebemos nenhuma notificação oficial do governo russo sobre quaisquer mudanças em nossa cooperação espacial até o momento”.
Vale notar que as últimas afirmações da Rússia vieram de um político, e não de um oficial da Roscosmos. “No nível político, as pessoas estão começando a rosnar”, observou o especialista em política espacial, Roger Handberg, da University of Central Florida. “Mas as agências estão tentando manter tudo calmo porque sabem que ainda dependem umas das outras”.
O administrador da Nasa, Charles Bolden, está se esforçando para manter a paz, apesar das tensões cada vez maiores. “O relacionamento entre a Nasa e a Roscosmos é bom e saudável”, declarou Bolden no início de abril, de acordo com a Space News. Essa afirmação veio um dia após a Nasa anunciar que suspenderia todas as colaborações não-espaciais com a Rússia devido à situação política. Como a ISS é o ponto de conexão primário entre os dois países, as ramificações dessa decisão permanecem nebulosas.
Independentemente de quaisquer atividades orbitais sofrerem alterações com a crise diplomática, a tensão poderia acabar afastando legisladores americanos de uma maior cooperação espacial com a Rússia, ou com qualquer outro país. Os Estados Unidos já estão desenvolvendo meios próprios de transporte até a órbita terrestre baixa, na forma de veículos espaciais construídos comercialmente por empresas como a SpaceX e a Sierra Nevada Corp. “Eu acho que existe mais dinheiro do lado comercial para acelerar o desenvolvimento” desses veículos, comenta Handberg.
E por fim, a atual crise poderia determinar o legado da ISS. “Daqui a 200 anos, historiadores vão olhar para nossa era e dizer que o mais importante sobre a estação espacial foi o consórcio internacional de nações que se uniram para construí-la”, prevê Launius. “Será que devemos ver isso como o início de um século de atividades cooperativas na exploração espacial, ou será uma turbulência antes de estados-nações adotarem a filosofia de ‘vamos fazer sozinhos’ e começarem seus próprios programas espaciais?”
Scientific American

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