Cientistas comprovam a relação entre o El Niño e a ocorrência de guerras civis em países pobres. Eles analisaram dados de 175 países e concluíram que este fenômeno está relacionado a 20% dos conflitos civis ocorridos entre 1950 e 2004. Durante o fenômeno climático, dobram as chances da eclosão de uma guerra civil. O efeito é maior nos países tropicais mais pobres. Nos mais ricos, como a Austrália e o Brasil, não há alteração significativa.
Causado pelo aquecimento das águas do Pacífico, o El Niño aumenta a temperatura e diminui a umidade nos países tropicais. Cruzando os dados de clima e guerra civil, os cientistas concluíram que vários conflitos eclodiram ou recrudesceram durante o fenômeno climático.
As tristes imagens que tornaram a Somália uma catástrofe mundial no início da década de 1990 voltaram ao noticiário nos últimos dois meses. Os milhares de refugiados não deixam dúvidas sobre a gravidade da seca no Chifre da África, região de condições políticas precárias. Além da seca e da fome, a população já convive há duas décadas com uma guerra civil.
Que as consequências dos conflitos militares são mais graves em regiões com condições climáticas extremas é um fato comprovado há tempos. Um grupo de cientistas, no entanto, foi mais longe. Seu estudo publicado na revista Nature, mostra o que muitos suspeitavam: as condições climáticas também podem agravar ou criar guerras locais. "O clima pode ser o último empurrão para a eclosão de uma guerra civil".
No Chifre da África, a atual seca é consequência do fenômeno La Niña - resfriamento de parte das águas do Oceano Pacífico. Em outras partes do mundo, porém, é geralmente associada a outro fenômeno, de características opostas, o El Niño - aquecimento das águas do Pacífico. Com os dois fenômenos em mente, foi analisada a variação climática de 175 países e a ocorrência de conflitos civis entre 1950 e 2004. Notaram, não só que as guerras eram mais frequentes nos anos do El Niño, mais quentes e secos, como também costumavam eclodir no segundo semestre, junto com os efeitos do fenômeno climático. Encaixam-se nesse padrão a retomada da guerra civil no Sudão, em 1983, depois de dez anos de armistício; os conflitos no Haiti, após o golpe de Estado de 1991; e o início da guerra civil na República Democrática do Congo, em 1997.
Cientistas já desconfiavam que as alterações no clima poderiam estar ligadas a graves problemas sociais, mas é a primeira vez que conseguem estabelecer uma ligação estatística entre o clima e as guerras civis no mundo contemporâneo. Em média, a ocorrência do El Niño dobra o risco de um conflito civil nas áreas tropicais, mas o efeito parece ser mais significativo para os países mais pobres. O El Niño geralmente torna o clima mais quente e seco, o que é muito ruim para a agricultura, e as perdas na produção agrícola afetam especialmente os países mais pobres, que dependem mais desse setor. Com oferta menor de alimentos, a disputa por recursos naturais se acirra, o que pode levar muitos a trocar o debate político pacífico pelas armas.
No ano passado, os cientistas já haviam alertado sobre o risco de que, se não voltasse a chover, o Chifre da África teria de se preparar para a fome. As águas não vieram, e estima-se que muitas pessoas já tenham morrido de inanição. O quadro pode piorar: 750 mil pessoas correm risco de morte nos próximos quatro meses se não receberem ajuda humanitária. A ONU considera a atual crise a mais grave dos últimos 60 anos. Mas não se trata de um problema novo. Somália, Etiópia, Sudão, Eritreia, Quênia e Uganda sofrem com a fome há décadas.
Nem inesperado: a crise atual foi prevista com meses de antecedência por cientistas e agências meteorológicas. Embora os ciclos de resfriamento e aquecimento das águas do Pacífico repitam-se há milhares de anos, a maioria dos países ainda não consegue lidar com as consequências dos períodos de seca. Entre elas, para aqueles mais instáveis politicamente, pode ser incluído o risco de um aumento da violência.
Em países mais ricos e com instituições mais sólidas, como a Austrália e o Brasil, o El Niño não chega a ameaçar a paz social. O clima seria então apenas um último - mas importante - fator para a ocorrência de uma guerra. A conclusão é significativa quando o planeta caminha para um clima mais quente e mais seco. Não é possível comparar diretamente os efeitos do El Niño - um fenômeno abrupto e cíclico - com os do aquecimento do planeta - gradativo e permanente. Mas o mundo precisa estar atento para a possibilidade de novos conflitos gerados pela seca e pela escassez de alimentos.
Fonte: Época.com
Que as consequências dos conflitos militares são mais graves em regiões com condições climáticas extremas é um fato comprovado há tempos. Um grupo de cientistas, no entanto, foi mais longe. Seu estudo publicado na revista Nature, mostra o que muitos suspeitavam: as condições climáticas também podem agravar ou criar guerras locais. "O clima pode ser o último empurrão para a eclosão de uma guerra civil".
No Chifre da África, a atual seca é consequência do fenômeno La Niña - resfriamento de parte das águas do Oceano Pacífico. Em outras partes do mundo, porém, é geralmente associada a outro fenômeno, de características opostas, o El Niño - aquecimento das águas do Pacífico. Com os dois fenômenos em mente, foi analisada a variação climática de 175 países e a ocorrência de conflitos civis entre 1950 e 2004. Notaram, não só que as guerras eram mais frequentes nos anos do El Niño, mais quentes e secos, como também costumavam eclodir no segundo semestre, junto com os efeitos do fenômeno climático. Encaixam-se nesse padrão a retomada da guerra civil no Sudão, em 1983, depois de dez anos de armistício; os conflitos no Haiti, após o golpe de Estado de 1991; e o início da guerra civil na República Democrática do Congo, em 1997.
Cientistas já desconfiavam que as alterações no clima poderiam estar ligadas a graves problemas sociais, mas é a primeira vez que conseguem estabelecer uma ligação estatística entre o clima e as guerras civis no mundo contemporâneo. Em média, a ocorrência do El Niño dobra o risco de um conflito civil nas áreas tropicais, mas o efeito parece ser mais significativo para os países mais pobres. O El Niño geralmente torna o clima mais quente e seco, o que é muito ruim para a agricultura, e as perdas na produção agrícola afetam especialmente os países mais pobres, que dependem mais desse setor. Com oferta menor de alimentos, a disputa por recursos naturais se acirra, o que pode levar muitos a trocar o debate político pacífico pelas armas.
No ano passado, os cientistas já haviam alertado sobre o risco de que, se não voltasse a chover, o Chifre da África teria de se preparar para a fome. As águas não vieram, e estima-se que muitas pessoas já tenham morrido de inanição. O quadro pode piorar: 750 mil pessoas correm risco de morte nos próximos quatro meses se não receberem ajuda humanitária. A ONU considera a atual crise a mais grave dos últimos 60 anos. Mas não se trata de um problema novo. Somália, Etiópia, Sudão, Eritreia, Quênia e Uganda sofrem com a fome há décadas.
Nem inesperado: a crise atual foi prevista com meses de antecedência por cientistas e agências meteorológicas. Embora os ciclos de resfriamento e aquecimento das águas do Pacífico repitam-se há milhares de anos, a maioria dos países ainda não consegue lidar com as consequências dos períodos de seca. Entre elas, para aqueles mais instáveis politicamente, pode ser incluído o risco de um aumento da violência.
Em países mais ricos e com instituições mais sólidas, como a Austrália e o Brasil, o El Niño não chega a ameaçar a paz social. O clima seria então apenas um último - mas importante - fator para a ocorrência de uma guerra. A conclusão é significativa quando o planeta caminha para um clima mais quente e mais seco. Não é possível comparar diretamente os efeitos do El Niño - um fenômeno abrupto e cíclico - com os do aquecimento do planeta - gradativo e permanente. Mas o mundo precisa estar atento para a possibilidade de novos conflitos gerados pela seca e pela escassez de alimentos.
Fonte: Época.com
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