domingo, 11 de setembro de 2011

"Somos poeira de estrelas"

"Somos poeira de estrelas". A frase é do cosmologista Carl Sagan (1934-1996) e foi celebrizada na série "Cosmos", de 1980. Sagan era um cientista brilhante e divagador da ciência melhor ainda. Ele tinha o dom de sintetizar em frases inspiradas todo o sentido do maravilhoso que percebia na observação do Universo. Assim, a Terra tornou-se aquele "pálido ponto azul" onde vivemos, um grão rochoso contaminado pela vida e orbitando uma estrela comum, como tantas bilhões de outras, num braço de uma galáxia em espiral chamada Via Láctea.
Ainda assim, e apesar do nosso pálido ponto azul ser um nada no Oceano Cósmico, seja na TV seja em seus livros Sagan fazia a Terra reluzir por ser o berço da vida como a conhecemos, o berço da nossa espécie. Ele, mais do que ninguém, defendeu a certeza de que o universo está coalhado de vida e civilizações avançadas, e usou a literatura para ilustrar essa certeza, no romance "Contato", de 1985. "Se só existisse vida aqui na Terra, então o universo seria um enorme espaço desperdiçado".
Mas não é. A prova é que estamos aqui, usando a imaginação para entender a natureza e sonhar com as possibilidades de vida em outros mundos.
Uma prova de que o universo não é um enorme desperdício de espaço está na origem da matéria, a origem dos átomos aprisionados nas moléculas que constituem cada uma das 100 trilhões de células do corpo humano. Cada célula humana é constituída por uns 10 quadrilhões de átomos. E cada um destes foi forjado no coração de estrelas há muito extintas.
Não só os átomos do nosso corpo, mas também dos átomos de toda a humanidade, de todas as formas de vida, assim como do ar que respiramos, o sapato que calçamos, o solo onde pisamos, a crosta terrestre que flutua sobre o manto de rocha liquefeita que forma o interior da Terra, os outros planetas do sistema solar, os bilhões de planetas das 100 bilhões de estrelas da Via Láctea, apenas uma entre as 400 bilhões de galáxias do universo visível... Todos esses átomos foram forjados no núcleo de estrelas que explodiram.
O oxigênio e o nitrogênio que respiramos; o carbono que é a base da vida; o cálcio de nossos ossos; o sódio, o fósforo, o magnésio, o iodo e o potássio essenciais ao organismo; o ferro e o alumínio das máquinas; o cobre dos fios elétricos e o silício dos computadores... Todos esses elementos químicos saíram da fornalha atômica de supernovas, estrelas gigantes que, ao esgotar seu combustível, explodiram, semeando na vastidão interestrelar os ingredientes dos planetas e da vida.
A vida evoluiu na Terra há mais de 3 bilhões de anos. Já a matéria que constitui a vida é muito mais antiga. Os elementos químicos forjados nas supernovas tiveram que vagar por centenas de milhões de anos no espaço em nuvens de poeira. Eventualmente, a atração gravitacional em algum ponto de uma nuvem forçou o início de um processo de concentração, atraindo os átomos da nuvem e concentrando-os num local que viria a atingir densidade e temperatura incríveis. Quando, naquele ponto da nuvem, os átomos de hidrogênio se encontravam tão próximos uns dos outros a ponto de se fundir - e a temperatura se elevou aos 10 milhões de graus - dois átomos de hidrogênio se fundiram para formar outro, de hélio, liberando energia.
Esta energia precipitou a fusão de outros átomos de hidrogênio, desencadeando uma reação nuclear em cadeia. Nascia o SOL.
Com os planetas a história foi diferente. As porções da nuvem que estavam afastadas o suficiente do Sol para não ser tragadas pela sua atração gravitacional acabaram por se condensar na forma de planetas. Ali os elementos químicos forjados há bilhões de anos no seio de supernovas puderam dar início à geologia e à vida.
O universo surgiu do Big Bang, a explosão primordial que lançou matéria e energia em todas as direções há 13,7 bilhões de anos. A temperatura infinita da explosão primordial foi suficiente para espalhar pelo universo só 3 elementos: o hidrogênio, o hélio e o lítio, os elementos mais leves, de números atômicos 1,2 e 3, respectivamente, pois o átomo de hidrogênio possui apenas um próton solitário em seu núcleo, o hélio 2 e o lítio, 3.
Todos os demais elementos químicos, do elemento de número 4, o berílio, ao urânio de número 92, saíram das três gerações de supernovas que se sucederam desde o início dos tempos. Sua criação seguiu dois passos: a forja e a explosão.
O elemento mais abundante no universo é o hidrogênio. Ele é o combustível nuclear das estrelas. Uma estrela pequena como o Sol irá queimar o seu estoque de hidrogênio por 10 bilhões de anos (Já se passaram 5 bilhões...) até o combustível esgotar e o Sol começar a contrair e resfriar, tornando-se uma estrela anã-branca.
Os demais elementos, mais pesados que o urânio 92, não existem na natureza. Se foram criados no Big Bang ou em explosões de supernovas, desapareceram no instante seguinte. No caso do plutônio (elemento 94), ele surge na forma de lixo das usinas nucleares.
Fonte: Época.com

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