Você costuma trabalhar, ouvir música, conversar com amigos pela internet,
postar coisas no Twitter e acompanhar as novidades no
Facebook, tudo ao mesmo tempo? Se a resposta for sim, a ciência tem uma notícia
ruim para você. A ideia de que somos plenamente capazes de fazer várias coisas
ao tempo, hoje mais difundida do que nunca graças à dependência às redes sociais
que nós, pessoas de bem, desenvolvemos, é MI-TO.
“Uma década de pesquisas mostra que o dom das multitarefas –
a capacidade de fazer várias coisas simultaneamente, com eficiência e
bem-feitas – é um mito. O cérebro não foi
projetado para atentar para duas ou três coisas simultâneas. Ele é
configurado para reagir a uma coisa de cada vez”, dizem os pesquisadores Stephen
Macknik e Sandra Blakeslee no livro “Truques da Mente – O que a mágica revela
sobre o nosso cérebro”.
Você pode argumentar que seu caso é diferente porque você faz isso há anos e
dá certo. Não é que seu cérebro seja incapaz de executar várias
coisas ao mesmo tempo, mas ele não consegue fazer com eficiência.
Tanto é que no Brasil, por exemplo, dirigir falando ao celular sem o uso de
viva-voz é considerado infração de gravidade média e está sujeito a multa pelo
Código Nacional de Trânsito. Segundo pesquisas, quem fala ao telefone enquanto
dirige, mesmo que usando acessórios que liberam as mãos, está tão
incapacitado quanto uma pessoa bêbada.
Isso porque, quando presta atenção à conversa telefônica, o cérebro meio que
“diminui o volume” das áreas visuais. O mesmo ocorre quando
estamos checando o e-mail ou jogando videogame, alguém começa a falar e você,
sem ouvir uma palavra, só fica lá concordando com tudo.
O livro cita Clifford Nass, professor de Comunicação da Universidade
Stanford, que diz que os adeptos crônicos da multitarefa “são tarados
pela irrelevância”, porque “tudo os distrai”. Sem
muito autocontrole, eles são incapazes de ignorar estímulos,
mas, por outro lado, também não conseguem se lembrar delas tão
bem quanto os mais focados.
Por que isso acontece? Outro colega de Macknik e Blakeslee, chamado Russ
Poldrack, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, mostrou que quando
estamos distraídos usamos o “corpo estriado”, uma região do cérebro envolvida na
aprendizagem de novas habilidades. Quando estamos concentrados,
outra região é que entra em jogo: o hipocampo, relacionado à armazenagem
e recuperação das informações. Por isso é que muitas vezes, depois de
ler mil coisas ao mesmo tempo na internet, acabamos fazendo a triste constatação
de que, embora tudo parecesse novo e interessante, não guardamos quase
nada na memória.
“Quando nos esforçamos a exercer uma multiplicidade de tarefas,
talvez estejamos contribuindo para que percamos eficiência a longo
prazo, ainda que às vezes pareçamos estar sendo mais eficientes”, disse
Poldrack.
Fica a lição do livro para nós: “Quando uma lista de tarefas tem páginas de
comprimento, você pode sentir a tentação de fazer duas ou mais coisas de cada
vez (…). O provável é que não execute nenhuma das duas tarefas. Para ter um
desempenho melhor, faça uma coisa de cada vez.”
Superinteressante.com
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