sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A ciência por trás do filme 'Gravidade'

Sozinho, solto no espaço, sem ninguém, sem direção e com oxigênio com prazo de algumas horas para acabar. O que você faria? A situação, que é aterrorizante para os simples mortais que nunca se imaginaram tão longe do chão terrestre, é um pesadelo que incomoda frequentemente o sono dos astronautas. A possibilidade, retratada no filme Gravidade (Gravity), que estreia nesta sexta-feira, 11, embora não tenha precedentes, existe. Ainda não faz ideia do que faria? Fique tranquilo, a NASA também não.
Em Gravidade, a astronauta Ryan Stone (interpretada por Sandra Bullock) embarca com uma equipe para uma manutenção na telescópio Hubble com o experiente Matt Kowalsky (George Clooney). Destroços de outros satélites que orbitavam pelo mesmo local atinge a equipe, que fazia atividades extraveiculares (EVA), usando a terminologia da agência espacial. Stone é lançada com parte do telecóspio em um movimento giratório e é obrigada a se desprender (todos os astronautas em EVA são ligados à nave principal por ganchos).
Como padrão, todos também deveriam usar uma mochila a jato chamada de SAFER (sigla para “ajuda simplificada para resgate em EVA) – acredite, isso é tudo que já foi feito pelas agências espaciais como protocolo de prevenção a situações assustadoras como as do filme. Em tese, quando desprendido no espaço, o astronauta aciona o mini-foguete e tenta se lançar na direção de alguma estação. Para isso, ele conta com pouco combustível e de 7 a 8 horas de oxigênio. Mas nada disso importa, pois Ryan não carregava um SAFER. Ela então improvisa com um extintor, mas à toa. Sem ser spoiler, a história continua com Ryan e Matt orbitando pelo espaço até encontrarem a Estação Espacial Internacional (ISS), onde também irão se deparar com dificuldades.
Filme é filme. Mas será que o que acontece em Gravidade poderia acontecer na vida real? Outra forma de ver isso é: será que o filme foi retratado com alta fidelidade e precisão científica? A resposta é sim e não, respectivamente. O diretor Alfonso Cuarón (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban e E Sua Mãe Também) parece ter se cercado de bons consultores, sendo um deles o astrofísico Kevin Grazier, para se não ser absolutamente preciso – aprendemos com Matrix que um mundo regido apenas por regras, feitas pelo Arquiteto, é chato e caótico, certo? – ao menos não assinar bizarrices que sujariam seu nome.
Em entrevista à The Atlantic, Grazier confirmou que Cuarón fez a lição de casa, principalmente no que se refere ao programa espacial americano. Mas ao menos três pontos são questionados. O primeiro é o do GPS. Se você já assistiu um dos trailers (trailer 1, trailer 2 e trailer estendido) deve ter notado que logo após ser lançada no espaço, Matt pede a localização de Stone, que rodava sem parar e por isso não tinha muitas referências a passar para o colega, que responde “o GPS não funciona”. Se você, assim como eu, não fazia ideia que o GPS funcionava no espaço, aprenda com o senhor Grazier: satélites de GPS orbitam a cerca de 20 mil km da Terra, o Hubble estava há cerca de 350 km apenas. Logo, sim, o GPS funciona por lá muito bem, obrigado.
Outro ponto é o da possibilidade de deixar o Hubble e dar um pulinho na Estação Espacial Internacional. E sobre isso, digamos que Cuarón se permitiu uma licença poética espacial. A rigor, a prática é impossível ou, para não ser tão radical, é fisicamente inviável. Por um motivo bem simples:
“Cuarón me disse que estava interessado em fazer este filme depois de assistir uma produção sobre o STS-125, a última missão a serviço do Hubble. Ele queria compartilhar a maravilha, o espanto e o perigo da exploração espacial. Mas, espere aí. O Hubble e a ISS estão em orbitas diferentes [o Hubble está a um ângulo de 28,5º e a ISS está a 51,6º). Ir de um para o outro nunca aconteceria. Esse detalhe deveria interromper o filme; ou deveríamos esperar que o público deixariam isso de lado e viriam conosco a uma viagem fascinante?”
O terceiro é o de destroços detonando satélites e outras coisas na sua órbita. Apesar de o ideal ser que cada país, ao explodir seus satélites destruam também seus destroços, casos assim já aconteceram, neste ano inclusive. Um satélite russo foi atingido por fragmentos de um satélite chinês destruído propositalmente há seis anos. A única condição é que ambos estejam circulando na mesma órbita, no mesmo ângulo. Ponto para Cuarón.
A conclusão da história toda é que se por algum motivo você um dia estiver na mesma situação que Ryan e Matt, o melhor a fazer é apreciar a paisagem.
Galileu.com

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