segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Amazônia em dois tempos

Em 1982, o oceanógrafo e documentarista Jacques Cousteau comandou uma expedição pela floresta. Passados 25 anos, seu filho Jean-Michel refez a viagem e se diz otimista com o que viu.
 
Aos 7 anos de idade, o francês Jean-Michel Cousteau, que hoje tem 75 anos, passou por uma experiência que determinou os rumos de sua vida. “O meu pai me jogou na água com um cilindro nas minhas costas. Assim, ele começou a me fazer entender que mesmo a minha vizinhança estava conectada ao oceano”, diz. O pai de Jean-Michel é o renomado explorador Jacques Cousteau (1910-1997), oficial da marinha francesa e oceanógrafo, célebre por seus documentários e inovações em equipamentos de mergulho. Inspirado pelo pai, Jean-Michel também dedica a vida a estudar e a divulgar a importância dos ambientes aquáticos. Entre 1981 e 1982, passou 20 meses viajando pelo rio Amazonas em uma expedição de pesquisa liderada pelo pai. Vinte e cinco anos depois, entre 2006 e 2007, o arquiteto e explorador voltou à região e passou mais dez meses refazendo a viagem, que passou também por partes do Equador e Peru.
“Muitas pessoas que participaram da viagem de 1982 estavam na segunda expedição. Foi incrível observar as reações delas às diferenças encontradas”, disse Cousteau em entrevista à ISTOÉ. Uma delas foi o crescimento populacional: durante esse período, a população da região amazônica brasileira passou de cerca de 12 milhões para 20 milhões de pessoas (leia quadro). Para o pesquisador, foi assustador observar o impacto que esse contingente de moradores causou e vem causando sobre a floresta. De acordo com as observações de Jean-Michel, muitos dos migrantes são pessoas pobres, que vêm de favelas do Rio de Janeiro e de outras cidades e vão para a Amazônia porque encontram oportunidade e espaço para pescar, cultivar alguns alimentos, cortar árvores, construir casas e sobreviver. “Não posso culpá-las por isso, porque às vezes a vida é dura. Mas o que nos preocupa é que a maioria não sabe nada sobre a floresta, não sabe que os níveis dos rios variam conforme a estação e não conhece doenças como a malária”, diz.

Para combater a desinformação, Jean-Michel pretende desenvolver um projeto educacional e ambiental na região, nos moldes de outros programas de sua fundação, a Ocean Futures Society. Um deles já foi apresentado para estudantes no Guarujá pela organização, que conta com uma sede em São Paulo. “A maioria dos brasileiros não conhece a Amazônia, então tentamos educar as pessoas com informação, o que vai ajudá-las a tomar melhores decisões”, afirma.
 
Outro problema que chamou a atenção de Jean-Michel foi o aumento do impacto da indústria petroleira nas águas da região entre a década de 1980 e meados dos anos 2000. “Peixes estão se contaminando com essa água, o que contagia os pássaros que se alimentam deles e as onças que comem as aves.” Há tecnologias para limpar essa água antes de descartá-la nos rios, mas a indústria não está fazendo isso. Por outro lado, o explorador se diz otimista com as políticas de combate ao desmatamento apresentadas pelo governo nos últimos anos.
 
Além disso, Jean-Michel preocupa-se com algumas soluções buscadas para aumentar a produção de energia no Brasil, como a construção de hidrelétricas na região amazônica, a exemplo de Belo Monte. “Acho que isso é um grande erro, pois vai inundar milhares de quilômetros de terras e expulsar a população. A devastação vai ser monumental, vai afetar a migração de peixes e as terras indígenas. Há outras abordagens, outras formas de energias renováveis muito melhores”, diz.
Jean-Michel está no Brasil nesta semana, até o dia 16, para divulgar o livro “Retorno à Amazônia”, que está sendo lançado em São Paulo neste sábado e no qual o explorador retrata em 300 páginas as duas expedições. Além disso, uma exposição com as fotos mais marcantes da publicação será exibida em Manaus, de 16 a 19 de dezembro, e em Búzios, de 12 de janeiro a 12 de março de 2014.  
“A floresta deve ser vista como um negócio”
O documentarista Jean-Michel Cousteau diz que o desmatamento deixou de ser um problema crítico da Amazônia. Ele defende que a floresta seja explorada, mas com limitações.
IstoÉ

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