Na antiguidade já eram conhecidas e valorizadas algumas das especiarias asiáticas que chegavam à Europa, onde eram consumidas pelas elites. Alarico, o general visigodo que em 408 sitiou Roma, exigiu como resgate para deixar a cidade, entre outras coisas, 3 mil kilos de pimenta!!!
A pimenta (piper nigrum), conhecida por nós como "do reino", era o principal desses produtos. Seu uso não era meramente culinário, mas tratava-se, como a maioria das especiarias, de substância "quente", que servia para equilibrar os humores do corpo, que, segundo a medicina hipocrático-galênica, para ser saudável devia ter a tendência ao calor e à secura. Os temperamentos eram constituídos assim em função das temperaturas, as quais as especiarias (os temperos) podiam equilibrar (temperar).
As especiarias, portanto, mais que meros condimentos, eram substâncias preciosas, usadas como signo de distinção social, em um consumo suntuário, representando remédios provedores de calor e energia. Eram alimentos-droga, e a própria palavra droga vem de um termo holandês para "produto seco".
No século XV, o comércio de especiarias orientais na Europa foi objeto de guerras comerciais entre Gênova e Veneza, que venceu a disputa e dominou o comércio com os árabes e otomanos. Com a descoberta por Vasco da Gama, em 1498, do caminho às Índias Orientais pelo contorno do sul da África, pelo cabo da Boa Esperança, os portugueses passaram a predominar nesse tráfico e construíram todo um sistema de feitorias pela Ásia para garantir a posse desses tesouros vegetais.
A primeira viagem ao redor do mundo, realizada pela expedição espanhola de Fernando de Magalhães, tinha os cravos como "o principal objetivo de nossa viagem", conforme as palavras do autor do diário de bordo.
A pimenta vinha da costa ocidental da Índia, cujos reinos hinduístas de Calicute e Cochim a forneciam aos portugueses. A canela, do Ceilão. O cravo, das ilhas Amboíno- atual Indonésia. A noz-moscada das minúsculas ilhas das Molucas. Gengibre, ópio e outros produtos de menor importância completavam as cargas das naus mercantes.
A partir de 1595, os holandeses seguiram o mesmo caminho dos portugueses e passaram a se apossar das fontes das especiarias. Predominaram militarmente tanto na Europa, onde venceram a guerra pela independência da Espanha, como no âmbito colonial. Numa verdadeira guerra mundial, tomaram o cravo da ilha Amboino em 1605, fundaram a Batávia, na ilha de Java, em 1609, depois tentaram se apossar do açúcar do Brasil, em 1624 e entre 1630 e 1645, e por fim tomaram o Ceilão e sua canela em 1658.
O comércio transoceânico de especiarias, tabaco, açúcar e outros produtos unificou pela primeira vez o globo, expandiu impérios ocidentais a um domínio inédito sobre o planeta, foi objeto de guerras e acumulou o capital da Revolução industrial. O consumo cada vez mais intenso desses gêneros os tornou de primeira necessidade e fez de seu consumo um tempero da vida!!! A revolução que promoveram não foi apenas no gosto alimentar, mas na economia, nas relações internacionais e nos estilos de vida.
Fonte: História Viva
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