quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Uma catástrofe geopolítica no Paquistão

A ONU lançou ontem (18) um grito de alerta: duas semanas depois do início das inundações no Paquistão, a ajuda é escassa e milhões de pessoas enfrentam o perigo da alta dos preços e de enfermidades mortais.
A catástrofe apresenta uma particularidade que a diferencia de tragédias recentes, como o terremoto do Haiti: as implicações geopolíticas - o Paquistão, que possui a bomba atômica -, é um dos países mais instáveis do planeta, refúgio dos talibãs e dos líderes da AlQaeda que combatem os EUA e seus aliados no vizinho Afeganistão. 
A péssima imagem mundial do Paquistão explica em parte a pouca ressonância na comunidade internacional e entre os doadores privados. A ONU não recolheu nem a metade dos 356 milhões de euros que pediu a seus membros na semana passada.
Os talibãs vêem as inundações como uma imensa oportunidade para recrutar seguidores no Paquistão, mais do que um desastre. Para os EUA, a instabilidade no país, unida ao anti-americanismo de seus habitantes, representa um dos maiores obstáculos na estratégia bélica do Afeganistão. Mas, o desastre também representa uma oportunidade para melhorar a imagem em seu aliado mais problemático e obter uma vantagem diplomática.
Comparado ao desastre do Haiti, o número de mortos é baixo, mas a superfície e sobretudo a quantidade de pessoas afetadas, assim como os efeitos de longo prazo, converte a catástrofe em uma das mais graves dos últimos anos.
Um dos motivos - talvez o principal - pelo qual os EUA insistem na guerra do Afeganistão é o temor de um cenário apocalíptico, no qual uma vitória do talibã contamine o Paquistão e que os talibãs e a AlQaeda consigam controlar  o país e sua "bomba nuclear"!
O problema é que, ao mesmo tempo em que o Paquistão é um aliado dos EUA, também é o principal reduto de seus inimigos. E, como confirmaram documentos americanos sobre a guerra afegã publicado pelos jornais em julho, os próprios serviços secretos paquistaneses colaboram com os talibãs afegãos.
Agora, a ausência de um estado forte, que todavia pode se debilitar ainda mais por causa da crise, os radicais tentam preencher o vazio. Se alguém tem fome, se alguém tem sede e recebe água, não vai perguntar se a oferta vem de um moderado ou de um extremista.
Outro problema é que as regiões mais afetadas pelas inundações são as mais pobres e menos alfabetizadas do país, onde prosperam os movimentos extremistas e separatistas: a crise pode reforçar esses movimentos, o que terá repercussões do outro lado da fronteira. Isso significa que a guerra do Afeganistão pode se tornar mais sangrenta, dizem os especialistas.
Fonte: Veja online  

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