Indiretas já! Sob este título, vou transcrever trechos de um artigo do jornalista e escritor- Flávio Tavares - publicado no jornal Zero Hora, porque compartilho das suas idéias.
"Mais do que a eleição em si, as "pesquisas" dominam a atenção. Imprensa, rádio e TV destacam previsões de "institutos", como num torneio de adivinhação. O eleitor, bombardeado por essa tosca futurologia, não avalia os candidatos e só mira o apregoado final. Os novos cartomantes igualam a eleição a aposta em carreira de cavalos.
Assim, noutro ambiente e com outros meios, retrocedemos em parte, às eleições indiretas da ditadura, que nem eleições eram, mas nomeações impostas, convalidadas pelo tal "colégio eleitoral". Em 1985, a campanha pelas "diretas já" mobilizou milhões de jovens que jamais haviam votado para presidente e governador. Queriam exercer um direito essencial - votar livremente, sem interferências.
Restabelecida a eleição direta, outro tipo de interferência leva, agora, a um retrocesso. Sem saber, absortos pelas "pesquisas", estamos todos envolvidos em convalidar novo e bizarro tipo de eleição indireta.
Antes, o Congresso escolhia o presidente da República. Agora, quem busca ter essa tarefa são os "institutos" de pesquisa, que nem institutos são, mas empresas destinadas ao lucro. Não são instituições científicas de pesquisa, como as universidades, por exemplo. Ao contrário, são empresas que usam tudo (de artifícios à verdade) para chegar ao que foi encomendado pelo cliente contratado por dinheiro.
Como as "pesquisas" chegam aos resultados? Qual o método ou a metodologia de escolha dos entrevistados? Pode-se saber? Ou é segredo como a fórmula da coca-cola?
Nem sequer ficamos sabendo "quem nos representa". Antes, pelo menos sabíamos que o deputado fulano e o senador beltrano escolhiam por nós e em nosso nome. Agora, somos "representados" por anônimos. Gente desconhecida que vota antecipadamente por nós, que nos "representa" sem nos representar. E, assim, nos comanda.
Não há nada de científico em que 2 mil pessoas escolham em nome de 120 milhões de eleitores. Onde foram selecionadas essas pessoas? Quem são? quem de nós conhece alguma delas?
Nessa simplificação numérica, quem está em perigo é o sistema democrático. Todos os candidatos deveriam rebelar-se contra essa forma de explorar a sensibilidade do eleitor e transformá-lo em mosca que esvoaça direto ao mel.
A eleição em si é a única pesquisa! Foi instituída para pesquisar a preferência popular. Agora corre-se o risco de que a "pesquisa antecipada" substitua a eleição. A eleição torna-se supérflua quando a "pesquisa" é quem guia"!!!
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