Está ficando dramática a escalada dos conflitos que opõem muçulmanos e não muçulmanos, no mundo ocidental.
Um grupo semissecreto tem movimentado a Inglaterra com manifestações em várias partes do país. Seus integrantes não se identificam publicamente. Muitos vestem máscaras quando participam de passeatas. São brancos, nacionalistas e, na maior parte, de classe média. Pertencem à recém-formada EDL - Liga de Defesa Inglesa. Afirmam não ser rascistas, mas, ao sair às ruas das cidades inglesas, gritam palavras de ordem contra uma raça específica - gente de pele escura, vinda de fora, unida em torno da devoção ao profeta Maomé. É a comunidade muçulmana! cerca de 2,5 milhões de pessoas dentro da população de pouco mais de 50 milhões do país. A EDL quer defender seu país dessa comunidade, que para ela está fazendo com que a Inglaterra deixe de ser a Inglaterra???
No mundo ideal, para os membros da Liga, os emigrantes muçulmanos voltariam a sua terra, a despeito de complicações de ordem prática. A maior parte deles realizam atividades consideradas de segunda e terceira categoria, como limpeza, seguranças de residências, motoristas de táxi, entre outras.
A EDL são três letras a mais em um cenário dramático na Inglaterra, na Europa e no mundo. Nunca foi tão bélica e destrutiva, em termos de perspectiva, a convivência entre muçulmanos e não muçulmanos. Os maiores símbolos de um conflito que parece apenas crescer estão, pelo lado ocidental, nos drones americanos, os aviões teleguiados que despejam mísseis que vêm matando um bom número de militantes de movimentos extremistas e civis. Pelo lado muçulmano, a simbologia maior da destruição está nos homens bombas - fanáticos que não hesitam em explodir coisa em seu jihad, a "Guerra Santa" movida contra os infiéis. Até a burca, o véu muçulmano que protege as mulheres, se transformou, mais de 1000 anos depois de ter aparecido, num ícone de desentendimentos.
Esse quadro tinha sido previsto nos EUA, há quase 20 anos, por um pensador político, que antecipou e definiu como "Choque das Civilizações". A discórdia, segundo ele, não viria mais de ideologias opostas, mas de culturas e religiões diferentes. Desde que ele formulou sua tese premonitória, o mundo foi sacudido por episódios como o 11 de setembro, as guerras do Afeganistão e do Iraque, entre outros.
O clima de antagonismo ríspido entre as diferentes civilizações alcançou até países habitualmente pacatos e tolerantes como a Holanda. Uma das lideranças de extrema direita está coordenando a criação de uma frente anti-islã que congregará alguns países a partir de 2011.
O choque entre as civilizações exacerbou-se a tal ponto que acabou alcançando o guarda-roupa. O governo da França fez do banimento da burca uma de suas causas mais caras. A França tem a maior colônia muçulmana da Europa, cerca de 6 milhões de pessoas. Apenas 2 mil mulheres muçulmanas vestem a burca ( o véu que cobre tudo). Mas, mesmo assim, o governo entendeu haver nisso uma ameaça ao secularismo francês. Então, o Parlamento francês aprovou o banimento da burca. Teoricamente, quem usá-la ficará sujeita a multas.
Num número crescente de países da Bélgica ao Canadá, da Suécia à Suiça, ícones do islamismo vão sendo cerceados, como as Minaretes, a torre das mesquitas - na Suiça já não são aceitas na paisagem. Na Alemanha, frequentar uma mesquita pode levar alguém a ser considerado suspeito pela polícia.
Infelizmente, a essa altura, são escassas as vozes que pregam a harmonia, a tolerância e a concórdia, vital para que as coisas não piorem. Gestos capazes de mitigar um confronto, antes de entrar numa fase ainda mais destrutiva, é o que o momento exige!!!
Fonte: Revista Época
Nenhum comentário:
Postar um comentário