Na polêmica sobre o projeto de um Templo Muçulmano perto do World Trade Center está em jogo um princípio da sociedade americana: a tolerância religiosa.
A poucos dias do nono aniversário dos ataques de 11 de setembro às torres gêmeas, em Nova York, o projeto de construção de uma mesquita a dois quarteirões dali põe em xeque um princípio caro aos americanos: a liberdade e a tolerância religiosas. Dezenas de figuras públicas e entidades civis atacaram o projeto. Consideram uma falta de respeito aos mortos e suas famílias a presença de um centro religioso islâmico tão perto do local que serviu de cemitério para quase 3 mil pessoas. Para uns, trata-se de uma provocação. Para outros, permitir a construção seria a maior prova de que os Estados Unidos são um país livre. O debate ultrapassou a fronteira entre conservadores e liberais.
Uma pesquisa do canal conservador Fox News diz que 64% -, a maioria dos americanos - são contra a mesquita e consideram uma provocação desnecessária.
Muito da dimensão nacional que o assunto ganhou se deve, é verdade, a interesses políticos. No dia 13, o presidente barack Obama se pronunciou sobre o assunto num jantar na Casa Branca para mais de 100 embaixadores e líderes oficiais do mundo islâmico em comemoração ao ramadã, mês em que os muçulmanos fazem jejum durante o dia. "Como cidadão, e como presidente, eu acredito que os muçulmanos têm os mesmos direitos de praticar sua religião como qualquer outra pessoa neste país. Isso inclui o direito de construir um lugar de veneração e um centro comunitário em uma propriedade privada em Manhattan, de acordo com as leis e regulamentações locais". A declaração foi rapidamente usada pelos republicanos, que passaram a vender a imagem do desrespeito às vítimas do 11 de setembro e associar o presidente ao islã (ele é cristão protestante).
A liberdade religiosa é um dos princípios básicos da sociedade americana. Por causa dela milhões de pessoas imigraram para os Estados Unidos nos últimos dois séculos. Thomas Jefferson, um dos pais da Independência Americana, escreveu certa vez que "entre nossas bênçãos inestimáveis está a liberdade de reverenciar nosso Criador da forma que acharmos mais satisfatória a Seu propósito". É esse o princípio que os defensores da mesquita julgam defender; é esse princípio que seus adversários julgam estar sendo vítima de abuso.
Apesar de todo o esforço pela promoção da tolerância religiosa, o coordenador do Conselho de Relações Americano-Islâmicas, em Washington, defende uma maior atuação da mídia e dos políticos no controle desse pensamento xenófobo: "A islamofobia está crescendo muito rápido, principalmente devido à omissão dos políticos. Eles precisam insistir no discurso de que todos somos americanos. A mídia e os líderes de outras religiões têm de questionar esses novos "grupos de fobia".
Para Graham Fuller, ex-agente da CIA e estudioso do radicalismo muçulmano - "o islã não é o problema, a política externa americana é que representa o maior combustível ao fanatismo".
Fonte:Revista Época
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