Dois eventos espaciais assustaram os
terráqueos há uma semana, no dia 15 de fevereiro. O asteroide 2012 DA14 chegou a 27,6 mil km da superfície da
Terra, mais próximo do que muitos satélites comerciais. Esse fato já havia sido
previsto com quase um ano de antecedência. Horas antes, no entanto, a queda de um meteorito deixou mais de mil feridos na Rússia.
Desse bólido, ninguém sabia. Com a tecnologia atual, objetos relativamente
pequenos são identificados com antecedência mínima. Mas, se visitas diminutas
como o da cidade de Chelyabinsk podem provocar danos grandes, materiais e
humanos, não seria importante investir mais em detecção a fim de evitar
acidentes como esse?
Objetos maiores do que quatro metros já podem ser registrados com a tecnologia
atual, segundo o professor Jorge Ricardo Ducati, do Departamento de Astronomia
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mas nem todos - e só
quando estão realmente próximos, o que acarreta a antecedência de apenas um dia
ou menos. “Qualquer tentativa de prever a queda de meteoritos como o de
sexta-feira (do dia 15, na Rússia) é tecnologicamente inviável,
independentemente do investimento”, avalia Fernando Roig, doutor em astronomia,
pesquisador do Observatório Nacional e especialista em asteroides. Ainda de
acordo com Roig, mesmo que fosse possível identificar as trajetórias de meteoros
desse tamanho, seria difícil prever seu comportamento: se explodiria na atmosfera e se provocaria danos em áreas
urbanas.
Há outro fator que influencia na detecção de asteroides. As
observações por telescópio precisam ser realizadas à noite, quando a luz
refletida pelos asteroides pode ser observada em contraste com o plano de fundo
escuro. “O grande problema com o objeto que caiu na Rússia no dia 15 é que ele
se aproximou da Terra da direção do Sol, ou seja, sem que pudesse ser
detectado com o telescópio”, explica Nigel Bannister, astrônomo e palestrante do
Departamento de Física e Astronomia da Universidade de Leicester, no Reino
Unido. Além de ser maior, o objeto que passou próximo à Terra no mesmo dia vinha
da direção contrária.
Uma possível solução para esse tipo de problema está tomando forma
a partir de um grupo chamado B612 Foundation. O plano desses cientistas e
engenheiros é construir e lançar ao espaço um telescópio com infravermelho que
orbitaria o Sol e rastrearia objetos com trajetória próxima da Terra. “Investir
nesse tipo de missão certamente ajudaria”, diz Bannister.
Investimento
Mesmo que se tenha avançado muito nas últimas décadas, é consenso que maior investimento no setor resultaria ganhos significativos. Mas, em tempos de crise, o orçamento da Nasa, a agência espacial americana, está cada vez menor. Assim, não dá para depender apenas dos EUA.
Mesmo que se tenha avançado muito nas últimas décadas, é consenso que maior investimento no setor resultaria ganhos significativos. Mas, em tempos de crise, o orçamento da Nasa, a agência espacial americana, está cada vez menor. Assim, não dá para depender apenas dos EUA.
Para o professor Antonio Gil Vicente de Brum, doutor em Engenharia
e Tecnologia Espaciais, é necessária uma rede mais ampla de monitoramento.
“Países como o Brasil, por exemplo, poderiam ajudar muito. Contudo tais
investimentos não são prioritários para o país, e não há nada previsto sobre
isso no plano nacional de atividades espaciais”.
Ocorrências
Identificado no ano passado - como revela seu nome -, o asteroide 2012 DA14 tem aproximadamente 45 metros de diâmetro, de acordo com a Nasa. Segundo cálculos da agência espacial americana, há 500 mil asteroides desse tamanho “próximos da Terra”. Desses, apenas 1% foram descobertos. Mas objetos desse tamanho não são a maior preocupação em se tratando de corpos celestes. Com até 40 metros de diâmetro, eles se desintegram na atmosfera e, quando, raramente, promovem estragos, são bem localizados.
Identificado no ano passado - como revela seu nome -, o asteroide 2012 DA14 tem aproximadamente 45 metros de diâmetro, de acordo com a Nasa. Segundo cálculos da agência espacial americana, há 500 mil asteroides desse tamanho “próximos da Terra”. Desses, apenas 1% foram descobertos. Mas objetos desse tamanho não são a maior preocupação em se tratando de corpos celestes. Com até 40 metros de diâmetro, eles se desintegram na atmosfera e, quando, raramente, promovem estragos, são bem localizados.
Foi o caso do meteorito que explodiu em Chelyabinsk, de diâmetro
estimado em 17 metros e massa de 10 mil toneladas. Embora tenha causado danos
avaliados em aproximadamente R$ 60 milhões, deixou feridos apenas por efeitos
secundários, como estilhaços de vidro. Curiosos pelo facho de luz que divisavam
pela janela de casa ou do trabalho, muitos corriam para vê-lo. Dessa forma, mais
de mil pessoas tiveram algum tipo de ferimento.
Fazia tempo que um bólido não tinha impacto tão grande na Terra.
Esse meteorito foi o maior a atingir nosso planeta desde 1908. Naquele ano, em
uma floresta em Tugunska, também na Rússia, um objeto pouco menor do que o 2012
DA14, de diâmetro estimado em 40 metros, devastou uma área de 2 mil quilômetros
quadrados, maior do que a cidade de São Paulo.
Calma
Eventos como esse não devem causar pânico. “Não é tão comum a ponto de assustar, nem tão raro a ponto de não acontecer”, pontua o astrônomo e professor Adolfo Stotz Neto, presidente do Grupo de Estudos de Astronomia do Planetário da Universidade Federal de Santa Catarina. Segundo Bannister, pode-se estimar uma queda como essa a cada 100 anos. “Ainda não há como encontrar todas essas pedras que andam por aí pelo espaço, então, por um bom tempo, esses pequenos objetos continuarão caindo sem que consigamos detectá-los antes”, afirma Antonio Kanaan, professor da Universidade Federal de Santa Catarina e doutor em astrofísica pela Universidade do Texas.
Eventos como esse não devem causar pânico. “Não é tão comum a ponto de assustar, nem tão raro a ponto de não acontecer”, pontua o astrônomo e professor Adolfo Stotz Neto, presidente do Grupo de Estudos de Astronomia do Planetário da Universidade Federal de Santa Catarina. Segundo Bannister, pode-se estimar uma queda como essa a cada 100 anos. “Ainda não há como encontrar todas essas pedras que andam por aí pelo espaço, então, por um bom tempo, esses pequenos objetos continuarão caindo sem que consigamos detectá-los antes”, afirma Antonio Kanaan, professor da Universidade Federal de Santa Catarina e doutor em astrofísica pela Universidade do Texas.
A maioria dos meteoritos são muito menores. A Terra recebe
aproximadamente 100 toneladas de material cósmico todo dia, mas essas partículas
são normalmente pequenas. "Como grãos de areia", ilustra Bannister. As “estrelas
cadentes” (na verdade, fragmentos de cometas e asteroides) têm tamanho
comparável ao de uma bola de beisebol, por exemplo. Não podem ser detectadas com
antecedência, porém não apresentam ameaça, já que se desintegram na
atmosfera.
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