No Natal de 1914, em plena Primeira Guerra Mundial, soldados ingleses e alemães deixaram as trincheiras e fizeram uma trégua. Durante seis dias, eles enterraram seus mortos, trocaram presentes e jogaram futebol.
Finalmente parou de chover. A noite está clara, o céu limpo, estrelado, como os soldados não viam há muito tempo. Ao contrário da chuva, porém, o frio segue sem dar trégua. Normal nessa época do ano. O que não seria normal em outros anos é o cheiro de morte, que invade as narinas e mexe com a cabeça dos vivos - alemães e britânicos, inimigos separados por 80, 100 metros no máximo. Entre eles está a "terra de ninguém", assim chamada porque não se sobreviveria ali muito tempo. Cadáveres de combatentes de ambos os lados compõem a paiasagem com cercas de arame farpado, troncos de árvores calcinadas e crateras abertas pelas explosões de granadas. O barulho delas é ensurdecedor, mas no momento não se houve nada. Nenhuma explosão, nenhum tiro. Nenhum recruta gritando por socorro. Nada.
E de repente o silêncio é quebrado. Das trincheiras alemãs, houve-se alguém cantando. Os companheiros fazem coro e logo há dezenas, talvez centenas de vozes no escuro. Cantam "Stille Nacht, Heilige Nacht". Atônitos, os britânicos escutam a melodia sem compreender o que diz a letra. Mas nem precisam: mesmo quem jamais a tivesse escutado descobriria que a música fala de paz. Em inglês, ela é conhecida como "Silent Night"; em português, foi batizada de "Noite Feliz". Quando a música acaba, o silêncio retorna. Por pouco tempo.
"Good, old Fritz!" gritam os britânicos. Os "Fritz" respondem com "Merry Cristmas, Englisment!", seguido de palavras num inglês arrastado: "We not shoot, you not Shoot!" (Nós não atiramos, vocês também não").
Estamos em um lugar de Flandres, na Bélgica, em 24 de dezembro de 1914. E esta história faz parte de um dos mais surpreendentes e esquecidos capítulos da Primeira Guerra Mundial: as confraternizações entre soldados inimigos no Natal daquele ano. Ao longo de toda frente ocidental - que se estendia do mar do Norte aos Alpes suiços, cruzando a França -, soldados cessaram fogo e deixaram por alguns dias as diferenças para trás. A paz não havia sido acertada nos gabinetes dos generais; ela surgiu ali mesmo nas trincheiras, de forma expontânea. Jamais acontecera algo igual antes. É o que diz o jornalista alemão Michael Jürgs em seu livro "Der Kleine Frieden im Grossen Krieg - "A pequena paz na grande guerra" - Frente ocidental de 1914, quando alemães, franceses e britânicos celebraram juntos o Natal - inédito no Brasil.
Fonte: Aventuras na História
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