Um referendo em 9 de janeiro pode concretizar a separação do sul do Sudão, e reiniciar o conflito mais sangrento, segundo especialistas, desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
No início de outubro, o astro de Hollywood George Clooney passou uma semana no maior país da África - o Sudão -, visitando a região do sul e conversando com líderes locais. Ao voltar para os EUA, o ator dialogou com políticos e o presidente americano. Seu recado era claro. "Estávamos atrasados no Congo, estávamos atrasados em Ruanda, atrasados em Darfur. Essa é uma oportunidade para evitar o massacre antes que ele ocorra", disse ele. O temor de Clooney, e de boa parte da comunidade internacional é que o resultado do referendo programado para 9 de janeiro, no qual o sul pode conseguir a secessão do norte, provoque a retomada de uma guerra civil que tem o nada nobre posto de maior matança, depois da Segunda Guerra.
O medo da guerra é provocado por uma equação simples. O governo central baseado em Cartum, a capital, não quer a separação. Enquanto isso, há uma clara indicação de que os sudaneses do sul vão votar pela separação.
Por trás do movimento separatista está o medo dos habitantes do sul, majoritariamente negros, cristãos e animistas, de permanecerem como cidadãos de segunda classe diante do norte, de maioria árabe e muçulmana. A dominação política, econômica e social do norte gerou a primeira guerra civil do Sudão, entre 1955 - um ano antes da independência da Inglaterra - e 1972. Dez anos de armistício acabaram em 1983, quando Cartum decidiu rever o acordo de paz e implantar a Sharia - a lei islâmica - em todo o território. A frágil paz que vigora hoje é baseada no Acordo de Paz Abrangente (CPA, na sigla em inglês), assinado em 2005, que deu autonomia ao sul por 5 anos e programou o referendo para janeiro.
"Pelo histórico do Sudão, é bastante difícil acreditar, primeiro, que o referendo vai ocorrer na data, e, segundo, que o desfecho se dará sem violência, diz o especialista em África da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. "A população não tem o hábito do voto, da escolha, e a militarização e a guerra são as práticas normais no Sudão", diz.
O comportamento do governo de Cartum, é o principal fator de preocupação. Ele chegou ao poder em um golpe militar em 1989 com a ajuda de grupos islâmicos fundamentalistas, tem contra si um mandado de prisão, expedido pelo Tribunal Penal Internacional, órgão da ONU, por conta de crimes de guerra e contra a humanidade.
As acusações dizem respeito ao conflito de Darfur, uma região do tamanho da França no oeste do Sudão, cujos líderes também pegaram em armas para lutar contra a opressão árabe. Outro motivo é a aliança que o presidente fez com o Irã. Nos últimos anos o Sudão teria se tornado um distribuidor do terrorismo, abrindo espaço para treinamentos do Hamas e servindo de base para o tráfico de armas para extremistas da Somália, no Iêmen, no Líbano e nos territórios palestinos ocupados.
Lamentável se esta situação se concretizar...
Fonte: R.Época.com
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