terça-feira, 11 de outubro de 2011

Política climática: Kyoto sobreviverá a Durban?

Nesta sexta-feira (7), terminou mais um encontro preparatório para a conferência anual das Nações Unidas sobre mudança climática que começa no fim de novembro em Durban, na África do Sul.
A reunião foi no Panamá, e mais uma vez, os sinais foram desanimadores para aqueles que torcem por um acordo para cortar emissões de gases que provocam o efeito estufa e dessa forma limitar o aquecimento da Terra nas próximas décadas.
Os dilemas continuam os mesmos - países ricos insistem em abandonar o Protocolo de Kyoto, exigem compromissos formais e mensuráveis dos grandes países em desenvolvimento (leia-se China e Índia), enquanto os países mais pobres insistem em manter Kyoto e exigem maiores investimentos para adaptar-se às mudanças do clima e se desenvolver de forma limpa.
Para complicar mais um enredo que já vem complicado desde 2009, na malfadada reunião de Copenhague, o mundo mais uma vez parece estar à beira de uma recessão de proporções históricas.
Isso importa por vários motivos, mas vou me concentrar em apenas dois:
1. Dinheiro. A expectativa de países pobres e em desenvolvimento, segundo o princípio acertado durante a Rio 92 de "responsabilidade histórica" (a responsabilidade é de todos, mas aqueles que mais poluíram têm que arcar com consequências maiores), é de novos financiamentos. O problema é que até o momento não se chegou perto de qualquer acordo a valer a partir de 2013, quando acabam os últimos compromissos assumidos (de 2010 a 2012).
E que governo quer liberar novos fundos enquanto enfrenta desemprego e estagnação domesticamente?
2. O Protocolo de Kyoto. O único acordo internacional criado para combater as mudanças do clima vence no fim do ano que vem. Isso significa que, enquanto a ciência reforça cada vez mais a necessidade de se tomar medidas para coibir a emissão de gases do efeito estufa, o mundo - como um todo - caminha na direção oposta. E que político vai considerar adotar metas que poderiam ser classificadas pela oposição de "rédeas ao crescimento econômico"?
O problema é que os Estados Unidos não ratificaram Kyoto, o que significa que só os outros países industrializados é que até hoje têm a obrigação internacional de reduzir as suas emissões. Ninguém, entre eles, quer que a situação continue assim. O Japão quase parou as negociações em Cancún, no ano passado, ao dizer que estaria fora de um segundo período de compromisso sob Kyoto, voltando atrás relutantemente.
Até o momento, só a União Europeia aceita incluir as propostas de cortes de emissão apresentadas voluntariamente em Cancún em um documento formal. Mesmo assim, só se for com salvaguardas para evitar que fiquem presos a um acordo praticamente sozinhos entre os industrializados.
A Austrália e a Noruega apresentaram no Panamá uma nova proposta de acordo que na prática acaba com Kyoto, criando um novo acordo a ser assinado em 2015, mas que já começaria a ser operacionalizado em Durban, com a oficialização das metas de redução apresentadas voluntariamente no ano seguinte.
Com isso, cada país teria até 2018 para aprovar e instrumentalizar o acordo internamente. Até lá, todos torcem, a crise já terá passado.
O único problema é saber como convencer os países em desenvolvimento a aceitar jogar Kyoto no lixo e recomeçar a partir do (pouco) que existe.
Fonte: BBC.com

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