A mudança climática está aí, derretendo geleiras, matando florestas e intensificando inundações e ondas de calor. Enquanto isso, as emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases do efeito estufa continuam a aumentar, o que promete piorar o cenário. Mesmo se parássemos de jogar na atmosfera esse monte de CO2 amanhã, as temperaturas não deixariam de se elevar nas próximas décadas, provocando o avanço do nível do mar e a derrocada de áreas de plantio. É contra todas essas possibilidades que um ramo da ciência, a geoengenharia, propõe ideias audaciosas. Seus defensores creem que intervenções conscientes no oceano, no solo e nos ares podem consertar o problema ou prevenir consequências graves.
Há dezenas de planos com a meta de resfriar a Terra, alguns até mirabolantes: lançar naves para clarear as nuvens com névoas de sal, armar espelhos gigantes no espaço, usar engenharia genética para criar plantas mais pálidas, cobrir os desertos com um filme refletor de poliéster... Como ainda não há tanta certeza sobre seus possíveis riscos e resultados, a melhor opção é explorar cada ideia com simulações e cálculos detalhados. Só com estudos pode-se evitar que qualquer estratégia venha piorar a situação.
Algumas propostas acabam descartadas devido aos efeitos colaterais ou à inviabilidade econômica. Recobrir desertos com um plástico para refletir a luz solar surtiria um efeito pequeno e arruinaria ecossistemas. Usar para-sóis espaciais demandaria lançar cerca de 20 milhões de foguetes, um gasto astronômico que ainda resultaria em níveis fatais de poluição. “Isso é pura ficção científica”, diz o Ph.D. em geociências Tim Lenton, da Universidade de Exeter, na Inglaterra.
Há dezenas de planos com a meta de resfriar a Terra, alguns até mirabolantes: lançar naves para clarear as nuvens com névoas de sal, armar espelhos gigantes no espaço, usar engenharia genética para criar plantas mais pálidas, cobrir os desertos com um filme refletor de poliéster... Como ainda não há tanta certeza sobre seus possíveis riscos e resultados, a melhor opção é explorar cada ideia com simulações e cálculos detalhados. Só com estudos pode-se evitar que qualquer estratégia venha piorar a situação.
Algumas propostas acabam descartadas devido aos efeitos colaterais ou à inviabilidade econômica. Recobrir desertos com um plástico para refletir a luz solar surtiria um efeito pequeno e arruinaria ecossistemas. Usar para-sóis espaciais demandaria lançar cerca de 20 milhões de foguetes, um gasto astronômico que ainda resultaria em níveis fatais de poluição. “Isso é pura ficção científica”, diz o Ph.D. em geociências Tim Lenton, da Universidade de Exeter, na Inglaterra.
O problema básico do aquecimento global é que os níveis crescentes de gases do efeito estufa na atmosfera funcionam como um cobertor sobre a terra, que prende o calor à sua superfície. Antes de testar qualquer estratégia, deve-se levar em conta justamente seu potencial de resfriamento. Como em algum momento deste século se prevê que a concentração de CO2 vai dobrar, diminuindo a perda natural de calor do planeta em 3,7 watts por metro quadrado, seria necessário uma operação de geoengenharia que bloqueasse um nível correspondente de calor do Sol ou elevasse a quantidade de calor refletida nas camadas superiores da atmosfera.
Desde 2008, Lenton e colegas combinam resultados de modelos propostos com seus próprios cálculos para avaliar o quanto essas ideias seriam viáveis. Eles perceberam que alguns projetos não fazem diferença alguma, enquanto outros rendem resultados, às vezes bem modestos. Clarear telhados e estradas para refletir mais luz do Sol teria uma potência de apenas 0,15 watt por metro quadrado. Mais promissor é o plano de fertilizar os mares. Os plânctons, seres minúsculos que habitam o oceano, consomem CO2 quando crescem e, ao morrerem, podem afundar no mar, levando consigo o carbono. Sabe-se que adicionar substâncias como o ferro na água promove maior crescimento de plânctons. Ao fertilizar os mares com o mineral, mais plânctons carregariam CO2 para o fundo do oceano (fenômeno conhecido como sequestro de carbono). Lenton calcula que essa estratégia poderia equilibrar em até 0,2 watt por metro quadrado o processo de perda de calor.
Desde 2008, Lenton e colegas combinam resultados de modelos propostos com seus próprios cálculos para avaliar o quanto essas ideias seriam viáveis. Eles perceberam que alguns projetos não fazem diferença alguma, enquanto outros rendem resultados, às vezes bem modestos. Clarear telhados e estradas para refletir mais luz do Sol teria uma potência de apenas 0,15 watt por metro quadrado. Mais promissor é o plano de fertilizar os mares. Os plânctons, seres minúsculos que habitam o oceano, consomem CO2 quando crescem e, ao morrerem, podem afundar no mar, levando consigo o carbono. Sabe-se que adicionar substâncias como o ferro na água promove maior crescimento de plânctons. Ao fertilizar os mares com o mineral, mais plânctons carregariam CO2 para o fundo do oceano (fenômeno conhecido como sequestro de carbono). Lenton calcula que essa estratégia poderia equilibrar em até 0,2 watt por metro quadrado o processo de perda de calor.
Com a cabeça nas nuvens Outra ideia recebida com certo entusiasmo é embranquecer as nuvens marinhas, sobretudo as do tipo stratus, aquelas baixas e planas que cobrem boa parte do céu — sim, nuvens também têm uma classificação própria. Navios espalhados por todos os oceanos borrifariam o ar com água salgada. As partículas de sal, por um fenômeno físico-químico, encorajam gotículas de água a formar nuvens. Com mais gotas por metro cúbico, essas nuvens ficam mais brancas do que o normal. Logo, refletiriam mais luz solar. Isso serviria para compensar todo o aquecimento provocado pela quantidade dobrada de CO2. Uma das vantagens é dispensar o uso de produtos químicos nocivos. Por outro lado, tem seus efeitos adversos. Um estudo publicado neste ano revela que a semeadura de nuvens sobre o Pacífico alteraria os padrões de chuvas da mesma forma que La Niña, fenômeno climático que causa diversos estragos pelo mundo.
Nessa linha de coberturas solares, outra proposta é lançar sobre a atmosfera uma névoa de partículas finas elevando a carga de um composto naturalmente encontrado na poluição industrial, o dióxido de enxofre (SO2). O SO2 emitido pelas fábricas não fica muito tempo disperso pelo ar, mas, ao alcançar a estratosfera (camada acima daquela em que vivemos), pode durar anos, o que ajudaria a resfriar o planeta por um período prolongado. A prova disso está nas erupções vulcânicas que injetam SO2 na estratosfera. A do Monte Pinatubo, nas Filipinas, em 1991, resfriou o globo em cerca de 0,5 grau nos anos seguintes.
Para compensar o aquecimento global, seria necessário bombear 5 milhões de toneladas de dióxido de enxofre por ano na atmosfera. Segundo o engenheiro aeroespacial Justin McClellan, da Aurora Flight Sciences de Cambridge, em Massachusetts, EUA, o custo anual seria de US$ 10 bilhões. Em comparação com os gastos de outros projetos e as consequências das mudanças climáticas, seria uma pechincha. Só o aumento do nível do mar cobraria trilhões de dólares em termos de cidades e terra arável perdidas. Mas essa estratégia também tem seus poréns: a injeção de SO2 não apresenta, por exemplo, um alcance global. Gotículas de enxofre não se prendem nas regiões polares, reduzindo seu efeito refrigerador ali. Assim, mesmo que as temperaturas em geral caiam, os polos continuariam mais quentes e as calotas polares seguiriam derretendo. Não é a saída, portanto, para conter o colapso do manto de gelo da Antártida, que deve elevar em 3 metros o nível do mar.
Enquanto cidades costeiras ficariam ameaçadas por enchentes, a solução das coberturas solares resultaria em falta de água para o resto do planeta. Isso porque menos luz solar sobre a superfície marítima significa menor evaporação de água e, assim, menos chuva. Outro desafio é que esse projeto tende a alterar a dinâmica dos ventos e o padrão de umidade de algumas regiões. “Poderíamos, sem querer, transformar a Amazônia em um deserto”, exemplifica Tim Palmer, professor de ciências climáticas da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Tem mais: segundo previsões, uma quantidade de aerossol de SO2 que deixaria a China num nível confortável resfriaria demais a Índia. É um toma lá dá cá.
Em vez de modificar nuvens ou instaurar névoas de enxofre na atmosfera, o climatologista David Mitchell, do Desert Research Institute, nos EUA, defende destruir um tipo específico de nuvem, a cirrus, famosa por suas formas sedosas no céu de verão. As nuvens cirrus geladas, ao contrário das stratus marítimas que refletem bastante a luz do sol, irradiam bem menos calor e acabam esquentando nosso ambiente. A ideia do pesquisador é dispersá-las com o uso de aeronaves que espalhariam uma substância não tóxica, o iodeto de bismuto, sobre elas. Isso quebraria essa barreira natural e baixaria o termômetro do planeta. Pelos cálculos de Mitchell, tal processo resfriaria o globo numa potência de 2 watts por metro quadrado, com a vantagem de funcionar nas regiões das calotas polares. O cientista avisa, no entanto, que o projeto tem muito estudo pela frente antes de chegar aos céus.
Diante dessas indefinições, há quem defenda ser mais sensato atacar a causa real do problema, focando na retirada de CO2 da atmosfera. O gás poderia ser bombeado para reservatórios subterrâneos, como campos de petróleo inativados. Até agora, porém, ninguém desenvolveu um método eficiente para cumprir a missão. “Trata-se de um processo custoso pela própria natureza, já que o gás se encontra bem diluído”, explica Lenton. Com as tecnologias atuais, não há perspectiva de varrer todo o CO2 que jogamos na atmosfera a tempo de impedir mais encrencas.
No fim das contas, a geoengenharia também esbarra num desafio político. “É impossível ter programas nacionais concorrentes. Então, uma entidade supracional precisaria tomar as decisões sobre o clima”, argumenta Myles Allen, chefe do Grupo de Dinâmicas Climáticas da Universidade de Oxford. E, como sabemos, é difícil chegar a acordos tendo em vista que os países têm prioridades diferentes. Nada impede, no entanto, que indivíduos, instituições e nações ajam por conta própria e com responsabilidade para minimizar os estragos. Afinal, o tempo corre e a temperatura aumenta.
Diante dessas indefinições, há quem defenda ser mais sensato atacar a causa real do problema, focando na retirada de CO2 da atmosfera. O gás poderia ser bombeado para reservatórios subterrâneos, como campos de petróleo inativados. Até agora, porém, ninguém desenvolveu um método eficiente para cumprir a missão. “Trata-se de um processo custoso pela própria natureza, já que o gás se encontra bem diluído”, explica Lenton. Com as tecnologias atuais, não há perspectiva de varrer todo o CO2 que jogamos na atmosfera a tempo de impedir mais encrencas.
No fim das contas, a geoengenharia também esbarra num desafio político. “É impossível ter programas nacionais concorrentes. Então, uma entidade supracional precisaria tomar as decisões sobre o clima”, argumenta Myles Allen, chefe do Grupo de Dinâmicas Climáticas da Universidade de Oxford. E, como sabemos, é difícil chegar a acordos tendo em vista que os países têm prioridades diferentes. Nada impede, no entanto, que indivíduos, instituições e nações ajam por conta própria e com responsabilidade para minimizar os estragos. Afinal, o tempo corre e a temperatura aumenta.
Galileu.com
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