quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Aquecimento global: Por que tanto frio se o mundo está ficando mais quente?

Já virou rotina. Sempre que alguma parte do globo gela além da conta, como está acontecendo nos Estados Unidos, onde termômetros registram mínimas recordes, céticos correm para as redes sociais, TVs e outras mídias para praticar seu esporte favorito: questionar a realidade do aquecimento global.
Afinal, como pode fazer tanto frio se o mundo está ficando mais quente? Esse ceticismo pôde ser visto em pleno vigor no começo do mês, quando a sede da emissora Fox News, em Nova York, ficou coberta de neve. Daí para frente, a estação transmitiu vários relatos sugerindo que o tempo frio contradiz a mudança do clima.
Os apresentadores da FoxNews não foram os únicos surpreendidos pelo tempo. O empresário Donald Trump twittou que o navio de cientistas que, até recentemente, estava preso no gelo da Antártida era prova de que a mudança climática é uma mentira.
Reforçando o coro, o republicano John Fleming “encerrou” (ou bagunçou ainda mais) a confusão entre tempo e clima de forma sucinta, ao twittar: "O aquecimento global não está tão quente nos dias de hoje."
A administração Obama, por sua vez, se encarregou de espantar os céticos. Em um post no blog oficial, Dr. John Holdren, assessor científico do presidente dos EUA afirma: “Se você tem ouvido que períodos de frio extremo, como o que estamos tendo nos Estados Unidos, desmentem o aquecimento global, não acredite nisso”.
Assim como a onda de frio não pode ser diretamente relacionada ao clima, por si só, nem pode a onda de calor sem precedentes que está castigando a Austrália ou mesmo os estados brasileiros nas últimas semanas ser considerada uma causa direta do aquecimento.
Aqueles que pensam que o tempo frio refuta a mudança climática podem ainda estar ignorando um corpo sólido e crescente de evidências.
Por mais contra intuitivo que pareça, o aquecimento global pode contribuir, de maneira indireta, para o recorde de frio. O fator chave aqui é um mecanismo de mudança climática conhecido como amplificação do Ártico.
Neste momento, a região do Ártico está se aquecendo rapidamente. E alguns cientistas acreditam que isso poderia gerar efeitos imprevisíveis. Pode, por exemplo, causar tempestades ou ondas de calor que se manteriam em um lugar por longos períodos de tempo.
Ou poderia permitir explosões maiores de jatos de ar frio do Ártico até aos Estados Unidos - como está acontecendo agora.
Em entrevista à agência AFP, Dim Coumou, cientista sênior do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático (PIK), perto de Berlim, explicou que a forte onda de frio na América do Norte seria resultado de um 'desvio' do ar do Ártico para o sul e o aquecimento global pode ser a causa deste evento incomum.
Segundo o especialista, o ar do Ártico costuma ficar confinado no topo do mundo devido a um potente vento circular chamado vórtice polar. “Quando o vórtice perde força, o ar começa a se dirigir para o sul, levando neve e frio excepcionais para latitudes intermediárias”, disse. Um fenômeno que tem se repetido.
É impossível ignorar que o tempo também está se tornando mais extremo, mais quente, mais frio, mais úmido e seco do que antes. Não custa lembrar que 2013 entrou para a lista dos anos mais quentes já registrados, tendo o mês de novembro quebrado todos os recordes.
Tempestades como o tufão Haiyan, o fenômeno mais mortal de 2013, não podem ser diretamente ligadas à mudança climática, mas os cientistas já disseram que o mundo deve se preparar para tempestades tão furiosas quanto a medida que o mundo se torna mais quente.
Evidências não param de surgir. No final de dezembro, um artigo publicado na revista Nature, apontou que o aquecimento global deve elevar as temperaturas em 4°C até o início do próximo século, engrossando as evidências apresentadas no 5º relatório do IPCC, o documento mais importante sobre o estado das mudanças climáticas, feito por centenas de cientistas de todo o mundo.
Estas temperaturas crescentes são causadas principalmente por um aumento das emissões que retêm o calor na atmosfera, criadas quando queimamos carvão, petróleo e gás para gerar eletricidade e alimentar a frota de carros e outros transportes.
exame.com

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