Os dados mais recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU indicam que em 2100 teremos um planeta entre 0,3 oC e 4,8 oC mais quente. Por que tanta diferença? Porque o aumento de temperatura depende de nossas escolhas até lá: de onde virão nossa energia e comida, os tipos de edifícios nos quais vamos morar e os carros que vamos dirigir. E, claro, quantas pessoas teremos no planeta. É isso o que vai determinar se a Terra continuará parecida com o que é hoje, se o mar devorará grandes massas terrestres (Flórida e Bangladesh, cuidado!) e se grandes regiões se tornarão áridas demais para a vida humana. Usando hipóteses sobre essas escolhas, os climatologistas criaram dois cenários extremos e dois intermediários, para facilitar as comparações. Daí vem o 0,3 °C a 4,8 °C.
Mostraremos a seguir esses quatro futuros hipotéticos para a humanidade em 2100, usando os critérios estabelecidos nos modelos climáticos. Ainda que seja impossível reproduzir a enorme quantidade de dados desses cenários, selecionamos alguns dos pontos principais e esboçamos uma imagem da sociedade em cada. Para tanto, usamos as descrições publicadas pelo IPCC no ano 2000 e, em consultoria com os criadores dos modelos, escolhemos aquelas que correspondem às concentrações de gases do efeito estufa publicadas no relatório do IPCC mais recente, do final de setembro.
Você vai ver que uma população menor abre algumas possibilidades. Uma maior fecha outras, mas é possível compensar a perda climática com, por exemplo, transportes mais eficientes. “Queremos que as pessoas pensem sobre o mundo no qual querem viver e inventem maneiras de torná-lo consistente com o clima que desejam”, diz Richard Moss, do Pacific Northwest National Laboratory, que participou da criação dos cenários climáticos.GEOENGENHARIA NOS SALVOU
Agimos rápido, investimos pesado em energias renováveis e, mais importante, em geoengenharia
Não foi fácil, mas investimos pesado e construímos sistemas para sugar o gás carbônico da atmosfera e armazená-lo no subsolo.Também apostamos em energia renovável e praticamente eliminamos nossa dependência de combustíveis fósseis. Com isso, a concentração de CO2 finalmente está diminuindo.Foram fundamentais também as usinas de bioenergia que criamos ao lado de sistemas que captam carbono. Nós cultivamos plantas, que sugam o CO2 da atmosfera enquanto crescem, e depois as queimamos para a produção de eletricidade. Os gases do efeito estufa produzidos pela queima são capturados e armazenados em falhas geológicas nas profundezas da terra, onde ficam guardados por séculos ou até milênios. A temperatura global se mantém estável desde 2050. Diminuímos o ritmo de redução do gelo marítimo no Ártico e desaceleramos a acidificação dos oceanos. Os níveis do mar ainda estão aumentando, mas por conta do calor armazenado das emissões do passado.
PEQUENO ATRASO
No geral, somos uma sociedade mais eficiente do que em 2013, usando menos energia e menos materiais para produzir mais. Também sabemos reciclar muito bem. Tudo isso nos ajuda na gestão dos recursos naturais. No início do século, a gasolina era o combustível mais usado, mas agora a maior parte da nossa energia vem de fontes renováveis e nucleares. Mais incentivos e instituições internacionais mais fortes significaram a disseminação rápida das tecnologias sustentáveis. Conseguimos fazer a transição para uma economia verde. Comemos menos carne do que em 2013, o que reduziu as emissões geradas pela pecuária. Por consequência, os pastos ocupam menos área e a agricultura é mais eficiente. As florestas crescem, o que aumenta a quantidade de CO2 armazenado em árvores. Vivemos em cidades compactas e com excelente transporte coletivo, o que limita as emissões. Temperatura e nível do mar aumentaram, mas algumas das consequências mais extremas do aquecimento não se concretizaram.
PAGANDO O PREÇO DO ATRASO
Reduzimos as emissões de CO2, mas apenas no final do século
Gastamos a primeira metade inteira do século tocando a vida como sempre: dependendo demais dos combustíveis fósseis. Não introduzimos nenhuma mudança drástica em nossos estilos de vida ou em nossas atitudes quando se trata de consumir, viajar ou controlar o número de filhos que temos. Mais ou menos pelo meio do século, as consequências da mudança climática tornaram-se grandes demais para serem ignoradas. O resultado é que, aos poucos, nossos governos começaram a introduzir políticas simples e modestas para regular as emissões de gás carbônico.
Estamos avançando em direção a um ter mais geração de energia verde, mas ainda bem devagar. O consumo de petróleo começou a diminuir algumas décadas atrás, mas 75% da nossa energia ainda vem de combustíveis fósseis, não muito menos do que os 82% de 2011. Por causa da nossa paralisia, as temperaturas continuam a aumentar, assim como os níveis do mar. Os modelos sugerem que os aumentos ainda continuarão por várias décadas.
VICIADOS EM CARBONO
Secas, inundações e problemas de saúde. Bem-vindo ao futuro
A economia cresce a todo vapor, movida a carvão e petróleo. A população mundial continuou a crescer rapidamente, exacerbando as emissões. Bem-vindo ao futuro globalizado, tecnológico e consumista, onde ainda estamos viciados em combustíveis fósseis. As emissões explodiram, destruindo a saúde humana e o meio ambiente. As crises de biodiversidade ameaçam processos como a polinização e a reciclagem da água pela chuva e os rios.
Quase toda nossa energia ainda vem de combustíveis fósseis, incluindo fontes como clatratos de metano, areias betuminosas e fraturação hidráulica para extração de depósitos de xisto. O carvão ainda é usado. Não fizemos investimentos significativos em energias alternativas. O consumo de carne e laticínios é maior que em 2013, fazendo com que emissões e temperaturas aumentem com rapidez. Secas e inundações são mais frequentes e fazem mais vítimas. A acidificação dos oceanos é grave e continua a piorar. O Ártico não sabe o que é gelo durante o verão há várias décadas.
Galileu.com
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