No Pará, em uma das áreas mais ricas em biodiversidade da Amazônia Legal, um Brasil pouco conhecido da maioria da população se revela ao longo do rio Tapajós e afluentes. Nesse pedaço do país, vivem grupos que travam uma luta entre a preservação das tradições, calcada na simplicidade e os desafios de manter a sustentabilidade, onde preservação ambiental, atendimento à saúde e os acessos à energia e à educação estão longe do ideal.
Para se compreender o contexto em que vivem esses brasileiros, é preciso desconstruir os cenários urbanos das grandes metrópoles, e se ter em mente que grande parte, que mora no trecho banhado pelo rio, somente no Pará (além dos trechos no Mato Grosso e Amazonas que compreendem os 851 km do rio), dependem unicamente do transporte fluvial. Parte vive na Floresta Nacional (Flona) do Tapajós, e outra, na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns.
A pesca de peixes típicos - como a caratinga, a pescada, o pacu e o tucunaré - junto à roça são as principais fontes de alimentação dos povos da floresta. O rio Tapajós muitas vezes aparenta ser mar. Um mar de de água doce em que existe uma fauna variada, que abriga ainda botos, jacarés, além das arraias.
Em épocas de estiagem, lindas praias surgem no meio das águas, revelando um dos cenários mais bonitos da Amazônia. Já no período de cheias, nos primeiros meses dos anos, muitas casa são invadidas pelas águas, o que faz com que os ribeirinhos construam bases mais altas para tentar fugir das inundações, o que nem sempre é possível. A fartura proporcionada pela natureza é uma tranquilidade e implementar o uso sustentável dos recursos da terra é um dos maiores desafios neste pedaço do país.
As palavras biodiversidade e agricultura de subsistência ganham sentido quando empregadas no contexto dessas tradicionais comunidades de índios e descendentes, além de migrantes do século XX, vivendo há décadas às margens do imponente Tapajós, que em alguns trechos chega a ter 18 km de largura.
Desde o Brasil colonial, no século XVII, há registros oficiais de ocupação na região. Na porção paraense, que além do Tapajós inclui o rio Arapiuns, hoje se destaca a presença dos povos indígenas Arapiuns, Camaruara, Cara Preta, Kayapó, Maitapú, Mundukuru, Tupinambá e Tapajó.
Há muitos entraves e obstáculos à sustentabilidade desses grupos, entre eles, o deslocamento (fluvial), por meio terrestre é muito restrito, saneamento básico, acesso à educação, meios de comunicação, geração de energia elétrica e ao Programa de Saúde na Floresta, devido à distância. ( a maior cidade de referência na região é Santarém - até lá são quase 15 horas de viagem em embarcações).
Eles dependem da floresta para sua sobrevivência e a interação deles com ela é respeitosa. São cerca de 30 mil ribeirinhos que vivem ao longo do rio tapajós, onde o quintal das comunidades é literalmente a floresta Amazônica. Que sejam também seus guardiões!!!
(Fonte: revista Leituras da História)
Nenhum comentário:
Postar um comentário