O Middle Fork of the Salmon não é apenas um rio, mas uma expressão exuberante de água em atividade. Ele escorre e faz voltas e cruza consigo mesmo ao longo de quase 170 quilômetros, na maior região ininterrupta de paisagens selvagens dos estados contíguos dos EUA, a reserva Frank Church – River of No Return Wilderness, que tem este nome devido à garganta intocada do rio Salmon e do senador do estado de Idaho que garantiu que a maior parte de seu vasto sistema hídrico permanecesse intocado. Nenhuma represa impede seu fluxo. Nenhuma estrada segue suas margens. Ele dança cânion abaixo, como tem feito desde que as geleiras recuaram há dez mil anos —na primavera, irrefreável, derrubando árvores, no final do verão como um riacho cristalino.
Hoje, é uma das experiências máximas em corredeiras nos Estados Unidos, que atrai milhares de turistas todos os anos. Mas, há 60 anos, seu futuro – e o de outras centenas de rios por todo o país – parecia bem diferente. Durante boa parte do século 20, o governo federal parecia determinado a represar praticamente todos os principais rios do país, para usar sua força na geração de energia elétrica, na irrigação, na navegação, no fornecimento de água e no controle de enchentes. O excesso das represas foi agudo principalmente no oeste árido, onde até o Grand Canyon foi listado para ser inundado. A Corporação de Engenheiros do Exército avaliou cinco locais possíveis para represas só no Middle Fork. O rio poderia ter se transformado em uma corrente de lagos artificiais se dois irmãos não tivessem ajudado a deter a maré de concreto.
John Craighead, hoje com 95 anos, é lendário no campo da biologia selvagem, famoso com seu irmão gêmeo, o já falecido Frank Craighead, por estudos pioneiros com ursos pardos no parque nacional Yellowstone e por numerosos artigos e documentários publicados pela National Geographic. O trabalho inovador deles inspirou iniciativas para salvar a espécie da extinção nos 48 estados contíguos dos EUA. No entanto, a conquista que mais orgulha John Craighead em sua vida, longa e produtiva, segundo ele, é a aprovação de Wild and Scenic Rivers Act (Lei dos Rios Selvagens e Belos).
Custou uma década de relatórios, palestras e convencimento político, mas quando o presidente Lyndon Johnson assinou o Wild and Scenic Rivers Act, em 1968, boa parte de seu texto veio dos irmãos Craighead. A lei inicial poupava oito rios e uma zona de proteção estreita ao redor deles onde não poderia haver represas nem construções. Hoje, a lista creceu para mais de 200 rios em 39 estados e Porto Rico.
National Geographic.com
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