sábado, 1 de setembro de 2012

Além de Marte

No último dia 25, o mundo deu adeus ao astronauta americano Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua. Ele morreu aos 82 anos, de complicações causadas por uma cirurgia cardíaca. Armstrong é o maior símbolo de uma época da exploração espacial em que a prioridade era fazer um humano caminhar por outro astro, mais por propaganda que por interesse científico. Hoje e pelos próximos anos a astronomia tem como objetivo maior ver melhor e mais longe. Daí a primazia de sondas, telescópios e missões sem humanos a bordo. Para o futuro, cientistas estudam a alternativa de mandar astronautas para perto de outros corpos celestes, mas sem pousar a espaçonave – operação sempre delicada. Será a era da telepresença, em que a tripulação irá comandar equipamentos remotamente, mas a poucos quilômetros do objeto de estudo.
Enquanto esse futuro não chega, a exploração espacial não deixa de produzir avanços históricos, como os protagonizados pelo robô-jipe Curiosity, que a Nasa fez chegar a Marte. O veículo pousou no dia 6 de agosto e já enviou várias imagens em alta resolução do planeta vermelho. É o prólogo das descobertas que virão e das possibilidades de pesquisa abertas pela missão. “Por enquanto, ainda estamos reconhecendo terreno e testando o funcionamento de todos os equipamentos”, diz o brasileiro Ramon de Paula, executivo do programa para Marte da Nasa e responsável pelas sondas orbitadoras Odissey e Mars Reconnaissance, equipamentos que transmitem as informações da Curiosity para a Terra.
O objetivo principal do Curiosity é fazer análises da composição do solo e da atmosfera de Marte, principalmente em regiões onde há sinais de que já houve água, e procurar por evidências de que o planeta já abrigou alguma forma de vida microscópica. Há 4,6 bilhões de anos, quando Marte e Terra se formaram, os planetas eram muito semelhantes – por isso é relevante investigar as mudanças geológicas e climáticas pelas quais nosso “irmão” passou. O planeta é tão importante que a Nasa já anunciou o sucessor do jipinho. Em 2016 a agência planeja enviar para lá o InSight. Esse robô carregará uma broca capaz de fazer perfurações mais profundas do que a Curiosity. Ou seja, vai poder fazer análises mais detalhadas sobre o tipo, composição e estado físico do solo. Além disso, a InSight levará equipamentos para medir a intensidade de processos sísmicos.
Essas missões também servem de preparação do terreno para o envio de um astronauta a Marte – tarefa dificílima, mas não impossível. Estima-se que uma missão tripulada seja possível a partir de meados da década de 2030. Antes disso, no início de 2020, pode ser que já consigamos enviar veículos que não apenas façam análises no local, como a Curiosity, mas que também enviem amostras marcianas para estações espaciais posicionadas próximas ao planeta (leia quadro). Seria a inauguração da era da telepresença. Esse é um avanço levado a sério principalmente pela Nasa. Outros institutos de pesquisa espacial planejam investir ainda muito tempo e dinheiro em missões não tripuladas com sondas e telescópios.
A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) pretende explorar outros cantos do universo que não Marte. Na segunda metade de 2013 decolará a Gaia, espaçonave que vai passar cinco anos coletando informações para a confecção de um mapa em terceira dimensão da nossa galáxia. Mais para a frente, em 2015, a ESA lançará a BepiColombo, em parceria com a Agência Japonesa de Exploração Espacial. A nave vai viajar até Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol. “Ele é um planeta estranho, e o menos estudado. Essa missão vai ser importante para entendermos melhor o Sistema Solar”, diz Fabio Favata, chefe de planejamento científico da ESA.
Em 2017, será a vez do projeto Solo, que pretende chegar o mais perto que já estivemos de nossa fonte de luz e calor. O objetivo da missão é entender como o Sol produz a heliosfera, uma “bolha” formada por ventos solares que envolve todo o sistema e influencia o campo magnético da Terra. Dois anos depois entrará em cena o Euclides, telescópio espacial que terá a missão de elucidar um dos maiores mistérios: a expansão cada vez mais veloz do universo.
Enquanto isso, aqui no Brasil, o governo aposta em programas espaciais mais, digamos, pés no chão. Entre os principais projetos está o do Veículo Lançador de Satélites, o VLS, revisto e modificado depois do acidente trágico com o foguete VLS-1. No dia 22 de agosto de 2008, uma explosão na base de Alcântara, em São Luís, Maranhão, matou 21 técnicos que preparavam o lançamento do veículo.
“Uma das primeiras providências foi a revisão do projeto do VLS-1 com a cooperação de especialistas russos”, diz José Raimundo Braga Coelho, presidente da Agência Espacial Brasileira. “Várias recomendações já foram incorporadas, entre elas a realização de diversos ensaios para garantir a confiabilidade e integração completa dos subsistemas do veículo”, afirma. A agência estima que o voo do VLS deve acontecer em 2015. Depois de aprender como, aí os cientistas podem decidir o que colocar no espaço. É a chance para que o País deixe a condição de plateia e passe a também ser protagonista no espetáculo da exploração espacial.
 

IstoÉ.com

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