Vigésimo - quarto ciclo de explosões solares, com pico de intensidade previsto para maio, deve ser o mais ameno desde 1928. Mas isso não significa, necessariamente, ausência de uma explosão única de enormes proporções.
Com a aproximação de maio, previsto como mês de pico de intensidade das explosões solares neste vigésimo - quarto ciclo de registros científicos é possível que alguma ocorrência relativa ao Sol ganhe as manchetes da mídia e assuste a população.
Não há razão para isso.
O Sol tem um ciclo médio de 11 anos de explosões associadas a manchas escuras que aparecem em sua superfície (fotosfera) e estão relacionadas à inibição da subida de energia a partir de seu coração profundo, onde se localiza sua usina de força.
No coração solar, a 700 mil km de profundidade, está o reator nuclear natural, controlado pela gravitação universal, que transforma hidrogênio em hélio e assim libera energia, segundo a conhecida equação de Einstein E=m.C2, ou seja, energia equivale à massa pela velocidade da luz ao quadrado.
Como a velocidade da luz no vácuo é enorme (300 mil km/s) uma transformação desse tipo libera quantidades impressionantes de energia.
No coração do Sol, a 15 milhões de graus Celsius e pressão 340 bilhões de vezes a registrada ao nível do mar, na Terra, 600 mil toneladas de hidrogênio são transformadas em hélio a cada segundo.
E isso há 5 bilhões de anos, a idade do Sol.
Em fins de dezembro passado uma ponte de plasma, o quarto estado da matéria que forma o corpo solar, foi observada ejetando-se no espaço a 700 mil km de altura e, em seguida, novamente precipitando-se no corpo da estrela.
Explosões solares intensas liberam, no interior do Sistema Solar, poderosos ventos solares, chuva de partículas subatômicas que, na Terra, produzem vários efeitos, ambientais.
Mesmo no espaço os ventos formados por prótons (núcleos de hidrogênio) e partículas eletricamente carregadas, além de elétrons, que orbitam os núcleos atômicos e são negativamente carregadas, podem afetar a operação de satélites.
Usuários de TV por satélite estão entre os que podem ter essas recepções interrompidas, com aviso de que isso se deve a tempestades solares.
Mas astronautas a bordo de naves e da Estação Espacial Internacional também devem buscar os refúgios possíveis para evitar essas exposições com danos que podem ser irreparáveis à saúde.
Mesmo redes de transmissão de energia elétrica correm o risco de ter suas operações interrompidas e com isso provocar uma enorme variedade de efeitos negativos.
Um efeito cativante, no entanto, para quem já observou, são as auroras polares (boreal, ao norte e austral, ao sul) quando todo o céu é coberto por um fascinante jogo de luzes produzido pela interação dessas partículas com gases atmosféricos.
Por que nos pólos?
A razão de as auroras se manifestarem nos polos está relacionada à presença de um escudo magnético, a magnetosfera, que desvia essas partículas originárias do Sol para as regiões polares, e assim protegem a Terra de um bombardeio indesejável.
Decifrar o mecanismo de explosões solares é um desafio ainda não inteiramente vencido pela ciência.
De qualquer maneira, se admite que linhas magnética no Sol, sob a forma de longos e torcidos fios de força que atravessam o corpo solar e manifestam-se em hemisférios opostos, inibem temporariamente a convecção, o transporte de energia gerado no coração do Sol para sua superfície, a fotosfera, de onde ela é liberada no espaço.
Essas linhas atuam ao longo de determinado tempo, quando inibem a convecção e criam pontos escuros na superfície solar, com temperaturas inferiores às do entorno. Quando as linhas se rompem, no entanto, a convecção manifesta-se com intensidade e projeta as pontes de plasma no espaço.
A energia gerada no coração do Sol pode necessitar de um período de até 1 milhão de anos para atingir a superfície e ser liberada no espaço.
O período de 11 anos que separa um pico ou um vale de atividades solares é um tempo médio, já que as explosões, de fato, podem ter períodos entre 9 e 14 anos ou ainda mais variados.
O pico de intensidade atual é tido pelos astrofísicos solares como não muito intenso, mas isso conta apenas parte de uma história que na realidade é bem mais complexa.
E isso porque, observações históricas demonstram que, em ciclos não muito ativos podem ocorrer explosões individuais que superam o poder médio de períodos bastante ativos.
As previsões recentes são de que o ciclo atual seja o mais ameno desde 1928.
Uma grande tempestade solar ocorrida em 1859 e conhecida como Evento de Carrington, em homenagem ao astrônomo inglês Richard Carrington (1826-1875), especialista em manchas solares, provocou prejuízos que, se repetidos agora, seriam incalculáveis.
O evento, que se manifestou em 2 de setembro de 1859, foi o mais poderoso já observado por pesquisadores científicos e provocou problemas em escala planetária como incêndios em equipamentos de telégrafos, o meio mais sofisticado pelo qual o mundo então se comunicava.
Relatos da época contam que as auroras foram tão intensas que permitiram a leitura de jornais mesmo durante a noite.
Não temos, evidentemente, nenhuma chance de controlar o comportamento do Sol e por isso, mesmo com a interpretação de que explosões espetaculares são naturais e parte da vida da estrela que nos supre de energia, não custa torcer para que um fenômeno da intensidade manifestada em 1859 não se repita.
Ao menos por enquanto. Porque um dia isso pode acontecer.
Scientific American
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