As duas Coreias estão, tecnicamente, em estado de guerra desde
a metade do século passado. Ao final da Segunda Guerra, a península ficou sob
influencia da União Soviética no norte e dos Estado Unidos no sul.
Entre 1950 e 1953, um conflito armado causou a morte de mais de 1 milhão de
pessoas na região, e o armistício de 53 não acabou com a tensão que se
intensificou nos últimos meses.
Em março, exercícios militares conjuntos entre os Estados Unidos e a Coreia
do Sul levaram Pyongyang a encerrar uma linha de comunicação direta com Seul, e
a Coreia do Norte anunciou ao mundo que estava em estado de guerra, prometendo
reativar uma usina nuclear.
Nesta semana, trabalhadores sul-coreanos foram proibidos de entrar na Coreia
do Norte, onde trabalham em um complexo industrial que é um símbolo de
cooperação entre os dois países, na cidade de Kaesong.
Observadores tentam interpretar as ações do líder norte-coreano, Kim Jong-un:
se está genuinamente preocupado com um possível ataque ao seu país ou se, ainda
inseguro após substituir seu pai como chefe de estado, tenta mostrar firmeza à
população.
Analistas acreditam que a possibilidade de um ataque nuclear é muito baixa,
mas a Coreia do Norte se diz determinada a produzir mísseis capazes de atingir
os Estado Unidos.
Por se tratar de um país isolado, com pouquíssimo contato externo centrado num forte culto à personalidade do ditador e sem espaço para dissidência, toda vez que a Coreia do Norte ruge, a comunidade internacional se pergunta: eles vão apertar o botão? É pouco provável. “Kim Jong-un tem cara de louco, jeito de louco, mas sabe muito bem o que está fazendo”, afirma Victor Cha, professor de estudos estratégicos e de segurança para a Ásia da Universidade Georgetown. Segundo um estudo coordenado por Victor, desde 1992 a Coreia do Norte eleva o tom das ameaças em um prazo de 10 a 16 semanas depois da eleição de um novo governo na Coreia do Sul. No fim de dezembro do ano passado, Park Geun-hye se elegeu a primeira presidente mulher do país, pelo partido conservador Saenuri. “Kim Jong-un está seguindo a cartilha da sua família e testando o novo governo sul-coreano, ao mesmo tempo que dá uma demonstração de força para o seu Exército.”
O regime norte-coreano sabe que seria suicídio provocar um conflito com os americanos. Os EUA têm 4.650 armas nucleares em estoque, das quais cerca de 2.150 estão operacionais em mísseis e bombardeiros. Mas as ameaças de atingir território americano não passam de mais uma bravata. “Os norte-coreanos não tem uma ogiva nuclear pronta, nem combustível, nem mísseis capazes de viajar 10 mil quilômetros e atingir a costa dos EUA”, afirma Jonathan Pollack, do Brookings Institution, um dos maiores especialistas em península coreana.
Dados sobre as capacidades militares do Norte são pouco confiáveis. Não existem estimativas precisas de quantas armas nucleares o país teria, ou se seus foguetes tem alcance para atingir território americano (veja mais no quadro abaixo). O país mantém um enorme arsenal de mísseis balísticos, em sua maioria variantes dos modelos soviéticos Scud B e Scud C, obsoletos e cujo alcance não ultrapassa os 500 km. Aquele que seria o míssil mais poderoso, o Taepodong-2, só teve um teste até hoje, em 2006, e fracassou. As estimativas sobre seu alcance são imprecisas: os especialistas falam que poderia atingir alvos entre 4.000 km a 9.000 km de distância. Em um conflito armado, a única carta na manga das forças armadas norte coreanas seria o míssil Nodong 2, com capacidade para atingir a Ilha de Guam, no Pacífico, onde os Estados Unidos tem uma base militar. “Eles conseguiriam atingir uma cidade como Tóquio, mas jamais qualquer território dos Estados Unidos”, afirma Greg Thielmann, pesquisador da Associação de Controle de Armas dos Estados Unidos.
A maior dúvida é se a Coreia do Norte possui tecnologia avançada o suficiente para equipar esses mísseis. “É muito duvidoso que a Coreia do Norte consiga armar qualquer um de seus mísseis com ogivas nucleares”, diz Thielmann. Para construir uma arma nuclear, não basta apenas enriquecer metais radioativos como urânio ou polônio. É necessário encontrar meios para reduzir o tamanho da ogiva e encaixá-la no míssil, sem provocar sua explosão. Não se sabe se o país teria a tecnologia para produzir uma arma pequena o suficiente para ser instalada na ponta de um míssil.
Nem tudo ainda foi testado para conter a loucura de Kim Jong-un. A esperança é que a China, o último aliado importante da Coreia do Norte no mundo, consiga demover o país de suas intenções. É pouco provável que os chineses apoiem a mudança de um regime aliado em uma área de influência tão disputada como a península coreana. Mas os chineses também não vão se embrenhar em uma guerra para defender um regime que se tornou uma pedra no seu sapato. Há sete anos os chineses tentam convencer os norte-coreanos a promover uma abertura econômica similar a da China, sem sucesso. A impaciência com Kim Jong-un e seus delírios chegou ao ápice em fevereiro. O país votou a favor das sanções financeiras aplicadas pela ONU depois do terceiro teste nuclear do país. A única esperança que resta para reduzir a instabilidade na região é a China finalmente exercer seu poder para pressionar a Coreia do Norte.
Época.com
Por se tratar de um país isolado, com pouquíssimo contato externo centrado num forte culto à personalidade do ditador e sem espaço para dissidência, toda vez que a Coreia do Norte ruge, a comunidade internacional se pergunta: eles vão apertar o botão? É pouco provável. “Kim Jong-un tem cara de louco, jeito de louco, mas sabe muito bem o que está fazendo”, afirma Victor Cha, professor de estudos estratégicos e de segurança para a Ásia da Universidade Georgetown. Segundo um estudo coordenado por Victor, desde 1992 a Coreia do Norte eleva o tom das ameaças em um prazo de 10 a 16 semanas depois da eleição de um novo governo na Coreia do Sul. No fim de dezembro do ano passado, Park Geun-hye se elegeu a primeira presidente mulher do país, pelo partido conservador Saenuri. “Kim Jong-un está seguindo a cartilha da sua família e testando o novo governo sul-coreano, ao mesmo tempo que dá uma demonstração de força para o seu Exército.”
O regime norte-coreano sabe que seria suicídio provocar um conflito com os americanos. Os EUA têm 4.650 armas nucleares em estoque, das quais cerca de 2.150 estão operacionais em mísseis e bombardeiros. Mas as ameaças de atingir território americano não passam de mais uma bravata. “Os norte-coreanos não tem uma ogiva nuclear pronta, nem combustível, nem mísseis capazes de viajar 10 mil quilômetros e atingir a costa dos EUA”, afirma Jonathan Pollack, do Brookings Institution, um dos maiores especialistas em península coreana.
Dados sobre as capacidades militares do Norte são pouco confiáveis. Não existem estimativas precisas de quantas armas nucleares o país teria, ou se seus foguetes tem alcance para atingir território americano (veja mais no quadro abaixo). O país mantém um enorme arsenal de mísseis balísticos, em sua maioria variantes dos modelos soviéticos Scud B e Scud C, obsoletos e cujo alcance não ultrapassa os 500 km. Aquele que seria o míssil mais poderoso, o Taepodong-2, só teve um teste até hoje, em 2006, e fracassou. As estimativas sobre seu alcance são imprecisas: os especialistas falam que poderia atingir alvos entre 4.000 km a 9.000 km de distância. Em um conflito armado, a única carta na manga das forças armadas norte coreanas seria o míssil Nodong 2, com capacidade para atingir a Ilha de Guam, no Pacífico, onde os Estados Unidos tem uma base militar. “Eles conseguiriam atingir uma cidade como Tóquio, mas jamais qualquer território dos Estados Unidos”, afirma Greg Thielmann, pesquisador da Associação de Controle de Armas dos Estados Unidos.
A maior dúvida é se a Coreia do Norte possui tecnologia avançada o suficiente para equipar esses mísseis. “É muito duvidoso que a Coreia do Norte consiga armar qualquer um de seus mísseis com ogivas nucleares”, diz Thielmann. Para construir uma arma nuclear, não basta apenas enriquecer metais radioativos como urânio ou polônio. É necessário encontrar meios para reduzir o tamanho da ogiva e encaixá-la no míssil, sem provocar sua explosão. Não se sabe se o país teria a tecnologia para produzir uma arma pequena o suficiente para ser instalada na ponta de um míssil.
Nem tudo ainda foi testado para conter a loucura de Kim Jong-un. A esperança é que a China, o último aliado importante da Coreia do Norte no mundo, consiga demover o país de suas intenções. É pouco provável que os chineses apoiem a mudança de um regime aliado em uma área de influência tão disputada como a península coreana. Mas os chineses também não vão se embrenhar em uma guerra para defender um regime que se tornou uma pedra no seu sapato. Há sete anos os chineses tentam convencer os norte-coreanos a promover uma abertura econômica similar a da China, sem sucesso. A impaciência com Kim Jong-un e seus delírios chegou ao ápice em fevereiro. O país votou a favor das sanções financeiras aplicadas pela ONU depois do terceiro teste nuclear do país. A única esperança que resta para reduzir a instabilidade na região é a China finalmente exercer seu poder para pressionar a Coreia do Norte.
Época.com
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