A equipe de Yukiyasu Kamitani, do Laboratório de Neurociência Computacional ATR, de Tóquio, levou os participantes para dormir dentro de uma máquina de ressonância magnética. Cada um deles foi submetido a 200 sessões, de pelo menos três horas cada.
Na primeira etapa do experimento, o participante era acordado logo depois que dormia. Então, precisava descrever o que sonhava.
Um exemplo de um dos sonhos descritos pelos voluntários: “Vi no céu algo parecido a uma estátua de bronze, posicionada sobre uma pequena colina, e sob esta havia casas, ruas e árvores”. Outro sonolento participante do estudo relatou: “Escondi a chave em um lugar entre uma cadeira e uma cama e alguém a pegou”.
Kamitani dividiu as imagens descritas em vinte categorias. Assim, hotéis, casas e edifícios, por exemplo, integrava o grupo chamado “estruturas”. Entre as outros estão “homens”, “mulheres”, “ferramentas”, “livros” e “carros”.
Depois, os voluntários, agora acordados, contemplavam uma série de imagens, que representavam cada categoria. Após este exercícios, passavam normalmente pela ressonância. Dessa forma, os cientistas conseguiram relacionar padrões de atividade do córtex visual — a zona posterior do cérebro, que normalmente processa as imagens provenientes do mundo exterior — e o imaginário visual. Seria como se cada categoria adquirisse sua própria “assinatura”.
sono profundo
Por último, o equipamento enfim fazia uma nova varredura nos participantes, agora tentando identificar o que cada participante sonhava. Acertou em 60% dos casos.
Eu tinha uma crença muito forte de que a decodificação dos sonhos era possível, ao menos em alguns aspectos particulares — revelou Kamitani. — Já esperávamos um resultado positivo, mas ainda assim é empolgante.
Para alguns neurologistas que tiveram acesso à pesquisa, o sono dos voluntários era tão leve que, tecnicamente, seria como se não estivessem sonhando. Mas Kamitani já cogita levantamentos muito mais complexos: a análise do sono profundo, quando ocorrem as imagens mais intensas do sonho; e eventualmente prever emoções, cheiros, cores e ações que as pessoas experimentam ao dormir.
Para o neurocientista cognitivo Mark Stokes, da Universidade de Oxford, a pesquisa aproximou a ciência de construir máquinas capazes de ler os sonhos.
— Obviamente ainda há um longo caminho a ser trilhado pela neurociência, mas não há razão para pensar que isso seja impossível — ressaltou. — O mais difícil é fazer o mapeamento sistemático da atividade cerebral, e isso teria de ser feito individualmente. Não dá para estabelecer uma classificação geral para ler o sonho das pessoas. Nunca será possível, por exemplo, construir algo que leia o pensamento de outras pessoas sem que elas saibam disso.
Exame.com
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