terça-feira, 14 de março de 2017

Qual é a indústria que mais polui o meio ambiente depois do setor do petróleo?

É fácil citar a indústria do petróleo como principal vilã da poluição. Mas poucos talvez saibam que o segundo lugar nesse ranking pertence à indústria da moda.
 
Se você veste calças ou malhas de poliéster, por exemplo, fique sabendo que a fibra sintética mais usada na indústria têxtil em todo o mundo não apenas requer, segundo especialistas, 70 milhões de barris de petróleo todos os anos, como demora mais de 200 anos para se decompor.
A viscose, outra fibra artificial, mas feita de celulose, exige a derrubada de 70 milhões de árvores todos os anos.
E, apesar de natural, o algodão é a uma fibra cujo cultivo é o que mais demanda o uso de substâncias tóxicas em seu cultivo no mundo - 24% de todos os inseticidas e 11% de todo os pesticidas, com óbvios impactos no solo e na água.
Nem mesmo o algodão orgânico escapa: uma simples camiseta necessitou de mais de 2.700 litros de água para ser confeccionada.
 
Mulheres passam em frente a uma vitrine em Paris

Usar e jogar fora

Mas talvez o maior dano causado pela indústria da moda seja a tendência da "moda rápida", marcada especialmente pelos preços baixos. O consumo multiplica os problemas ambientais.
O chamado "segredo sujo" da moda deu origem a iniciativas que buscam uma maior responsabilidade ambiental.

O custo da "moda rápida"
Uma
peça de roupa
  • que usamos menos de 5 vezes
  • e jogamos fora após 1 mês
  • produz mais 400% de emissões de carbono
  • que uma usada 50 vezes e mantida por 1 año
GETTY
Na Argentina, a Industry of All Nations foi fundada como uma "empresa de design e desenvolvimento com o compromisso de repensar métodos de produção".
O objetivo é produzir "roupa limpa".
"Eu e meus irmãos nos demos conta de que, em um mundo tão grande, quase todos os produtos são feitos em dois ou três países asiáticos. E a única razão é porque é mais barato produzi-los lá", explica Juan Diego Gerscovich, fundador da empresa familiar.
 
"A IOAN, como diz o nome, existe para que voltemos à produção e aos produtores originais, para que voltássemos à fonte".
Os hermanos Gerscovich, que são argentinos e vivem Los Angeles, começaram produzindo sandálias, usando os serviços de uma fábrica há 120 anos no ramo.
 
Fábrica de sandálias
ASandálias já eram produzidas de modo quase sustentável, segundo empresários
"Era uma empresa sustentável sem saber, pois as sandálias eram de juta e algodão. A empresa produzia um milhão de unidades. A única coisa que fizemos foi mudar as tiras, que eram de material sintético, para algodão".
Mas foi um segundo produto que soou o "alarme da contaminação".
Os irmãos queriam produzir jeans, mas abandonaram a ideia quando "se deram conta de que se te uma questão muito tóxica". Decidiram resgatar o método tradicional de produção do tecido, com o uso de algodão orgânico e índigo - uma tintura obtida da planta Indigofera tinctoria.
Gerscovich encontrou um pequeno vilarejo no sul da Índia, Auroville, onde levaram anos investigando como reviver a indústria local.
"Era uma indústria muito importante e conectada à cultura indiana, mas a Revolução Industrial trouxe os corantes químicos, e a indústria do tecido natural desapareceu... era muito mais econômico e rápido com os métodos modernos."
 
Fabricação artesanal de tintura

O processo natural requer ainda mais tempo e investimento, mas o empresário argentino diz que ele é muito menos agressivo para o meio ambiente.
O desaparecimento da indústrias fez com que fosse necessário treinar tecelões, pois ninguém na comunidade sabia fazer jeans.

Mais que um negócio

A empresa depois se dedicou à produção de suéteres com lã de alpacas bolivianas. "E sem corantes", ressalta Gersovich.

Detalhe de mãos de uma tecelã

"A cooperativa que produz os suéteres na Bolívia conhece nossa filosofia e montou um pequeno laboratório para começar a desenvolver tintas naturais."
A idea original dos irmãos Gerscovich é não apenas fazer a roupa, mas empoderar comunidades.
"O mais importante é que, como seres humanos, mudemos de mentalidade: precisamos consumir menos", diz o empresário.
 
Corantes naturais
 
A IOAN, assim como outras iniciativas do gênero, produzem suas peças em mais tempo e a um custo maior. Um par de jeans, por exemplo, custa US$ 170, valor bem superior ao de muitas marcas no varejo mundial.
"Vamos reduzir custos à medida que as vendas cresçam. Mas jamais chegaremos aos níveis das grandes cadeias (de lojas de roupa). Seus preços são uma invenção. Estão desrespeitosos 100% com seus produtores."
BBC Brasil

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