quinta-feira, 16 de março de 2017

Raios cósmicos ajudam a desvendar segredos das pirâmides do Egito

 
Com quase 140 metros de altura e laterais da base medindo pouco mais de 230 metros, a Grande Pirâmide de Gizé é uma das maiores e mais misteriosas construções do mundo antigo. Com volume de impressionantes 2,5 milhões de metros cúbicos, ela tem apenas três câmaras conhecidas. Durante séculos, exploradores e arqueólogos tentaram encontrar novas galerias escondidas atrás dos blocos de pedra, mas técnicas tradicionais de escavação poderiam provocar danos irreparáveis à construção. Para contornar esse problema, pesquisadores estão usando modernos métodos de detecção de partículas de raios cósmicos para mapear o interior da estrutura, e os resultados são promissores. Em pouco mais de um ano de pesquisas, já foram encontradas duas cavidades antes desconhecidas.
— O objetivo, antes de tudo, é tentar olhar por trás das paredes para identificar cavidades — explica Mehdi Tayoubi, vice-presidente da Dassault Systèmes e presidente e cofundador do Instituto Heritage Innovation Preservation, instituição por trás do projeto, batizado Scan Pyramids. — Eu ouvi pessoas dizendo que nós descobrimos câmaras secretas, mas não é isso. O que nós encontramos foram espaços vazios dentro da pirâmide, que ainda não sabemos o que são.
 
COMO UMA RADIOGRAFIA
O projeto Scan Pyramids começou em outubro de 2015. Na primeira fase, os cientistas validaram o uso da chamada múongrafia com testes na Pirâmide Curvada, em Dahshur, também no Egito. A técnica se assemelha à radiografia, mas em vez dos raios-X são os múons, partículas elementares similares aos elétrons geradas pelo choque de raios cósmicos com átomos na atmosfera da Terra, que produzem as imagens. Para se ter uma ideia da quantidade deles que atinge a superfície do planeta, a estimativa é de que, durante uma noite, um milhão de múons atravessem o corpo de uma pessoa.

Quando passam por um objeto, os múons são mais absorvidos nas áreas com maior densidade. Medindo o número de partículas e a direção em que viajam, é possível saber a densidade dos materiais que cruzaram. Dessa forma, os pesquisadores conseguem, literalmente, escanear estruturas imensas, como as pirâmides.
— Essa técnica já é usada pela geologia para estudar vulcões. Estamos mostrando que ela é pertinente para analisar o interior das pirâmides — afirmou Tayoubi.


Na Pirâmide Curvada, a equipe de pesquisadores instalou 40 placas capazes de detectar os múons numa área de 3,5 metros quadrados na câmara inferior da estrutura. Após 40 dias de exposição, foram capturados dados de mais de 10 milhões de múons. As imagens obtidas mostraram com clareza a segunda câmara da pirâmide, localizada cerca de 18 metros acima de onde as placas foram instaladas, demonstrando que a técnica é viável para a exploração arqueológica.
Na Grande Pirâmide de Gizé, foram realizadas análises com os múons em dois pontos distintos. O primeiro fica na face Norte, numa área onde existem quatro vigas visíveis, pouco acima do corredor descendente, onde foram instaladas três placas detectoras. Após 67 dias de exposição, o resultado
surpreendeu os cientistas: por trás das vigas existe um espaço vazio.
— Temos 99,99% de certeza de que existe uma cavidade na face Norte da pirâmide — disse Tayoubi. — A questão agora não é se ela existe, é sobre o que é, para que serve. Pode ser um corredor, ou um vazio estrutural. Nós não sabemos.
Tayoubi destaca que, há 4.500 anos, quando a pirâmide foi concluída, essas vigas hoje aparentes ficaram escondidas por blocos de pedra que desabaram com o tempo. Na arquitetura da época, as vigas não eram usadas como decoração, mas tinham um propósito prático: proteger uma cavidade,
 
evitando o desabamento do teto. Elas foram identificadas cobrindo as câmaras do rei e da rainha.
— Por que elas estão lá, protegendo uma área tão pequena no começo do corredor de descida? — questiona Tayoubi.
TELESCÓPIO DE PARTÍCULAS
Na aresta Nordeste da pirâmide, por sua vez, os pesquisadores testaram uma outra técnica: um telescópio de partículas capaz de captar os múons. Eles miraram o equipamento para uma área a 83 metros de altura, onde uma
cavidade de nove metros quadrados já havia sido detectada em estudos anteriores. Os resultados mostraram a cavidade conhecida e, para a surpresa dos cientistas, um outro espaço vazio, até então desconhecido.
— Esses são os primeiros resultados. Nós temos que refinar os dados, fazer mais coletas, para compreender melhor o que são essas cavidades e, talvez, encontrar outras — disse Tayoubi.
No momento, os cientistas estão analisando os dados coletados por placas instaladas na Câmara da Rainha. Além disso, foram colocadas 12 novas placas no corredor descendente para a coleta de mais informações sobre a cavidade recém-descoberta. Os resultados devem
ser divulgados ainda neste primeiro trimestre de 2017.
— A prioridade é coletar mais informações. Quem sabe existam outras câmaras e corredores secretos na pirâmide? Hoje nós temos a capacidade técnica para descobrir — concluiu Tayoubi.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário