terça-feira, 3 de abril de 2012

Combate à insegurança alimentar em tempos de mudança climática

Cerca de 800 milhões de pessoas no mundo não têm alimento suficiente, enquanto cerca de 1,5 bilhão está acima do peso. Com um crescimento populacional de 2 bilhões até 2050 e a alteração de tradicionais áreas agrícolas pela mudança climática, cientistas e políticos se apressam para descobrir como resolver os dois problemas.
Este quadro instável de alimentos não é provocado apenas por regulamentações governamentais ou práticas agrícolas, mas deriva de forças poderosas que, acredita-se, continuarão a aumentar. “Várias ameaças convergentes como a mudança climática, o crescimento populacional e o uso insustentável de recursos constantemente intensificam a pressão sobre a população e os governos do mundo todo para transformar a forma de produzir, distribuir e consumir alimentos”, escrevem os autores de um novo relatório, publicado on-line em 28 de março pela Commission on Sustainable Agriculture and Climate Change e gerado com a colaboração de cientistas e especialistas de mais de 12 países.
“A insegurança alimentar e a mudança climática já inibem o bem-estar humano e o crescimento econômico no mundo todo, e esses problemas devem aumentar”, declarou John Beddington, que presidiu a comissão, em declaração oficial.
Uma das principais preocupações é o aumento da produção em áreas cada vez mais reduzidas de terras cultiváveis. Globalmente, fazendas continuam a aumentar a produção alimentícia em cerca de 2,2% por ano, índice que não acompanha o ritmo de crescimento da demanda mundial. Além disso, muitos especialistas argumentam que essa expansão precisa ocorrer de forma sustentável para alimentar a população sem dilapidar a economia e o meio ambiente.
É uma tarefa difícil, mas a ciência pode ajudar. “Se não avançarmos a ciência e a prática da intensificação sustentável, nossas florestas e economias agrícolas estarão em risco”, de acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação brasileiro, como exemplos de melhoria. “Nos últimos sete anos, o Brasil caminha a passos enquanto protege florestas tropicais”, avaliam. São usados satélites para localizar extração ilegal de madeira, o que virá a reduzir as emissões de CO2.
O progresso, no entanto, não virá sem compromissos. “Na Austrália, pesquisadores, agricultores e gestores de dados juntaram-se para constituir uma força integrada para lidar com as inevitáveis trocas”, comentou Megan Clark, diretora-presidente da Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization. Eles usam dados climáticos e de condições meteorológicas em tempo real para auxiliar agricultores de todos os tipos a se preparar para mudanças futuras.
Ajudar pequenas fazendas a subsistir também é fundamental para assegurar alimentos bons e estabilidade da economia local em longo prazo. “Caso contrário, as comunidades continuarão vulneráveis a uma espiral descendente de perda de produtividade, pobreza e insegurança alimentar”, avaliou Tekalign Mamo, Ministro de Estado e conselheiro do ministro etíope da agricultura, em declaração oficial.
Essas mudanças não precisam ocorrer só nas fazendas. A alimentação deve ser mais sustentável tanto do ponto de vista ambiental, quanto da saúde. “Se não começarmos a usar as ferramentas a nosso dispor para incentivar alternativas de alimentação benéficas para as pessoas e o planeta, deveremos nos resignar a uma crescente carga de doenças relacionadas à dieta”, argumenta Marion Guillou, presidente do Instituto Nacional Francês para a Pesquisa Agrícola. A França, por exemplo, incluiu advertências em alimentos processados e aumentou a promoção do consumo de frutas e legumes.
A fim de manter o mundo alimentado apesar das mudanças climáticas e do crescimento populacional, grandes transformações serão necessárias, concluíram os especialistas. “É preciso ação política decisiva se quisermos preservar a capacidade do planeta para produzir comida suficiente no futuro”, assegurou Beddington.
Nesse meio tempo, as pessoas podem ajudar aqui e agora, consumindo alimentos mais saudáveis e reduzindo o desperdício. Quase 1,3 bilhão de toneladas – cerca de um terço de todos os alimentos – são desperdiçados todos os anos, reforçam os autores. “A demanda mundial por alimentos aumentará com o crescimento populacional, mas a quantidade de alimento a ser produzida por pessoa pode ser reduzida pela eliminação de desperdício em cadeias de abastecimento, garantindo um acesso mais justo aos alimentos e mudando para dietas ricas em legumes, mais eficientes (e saudáveis)”, concluíram eles.
Scientific American

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