Os tradicionais produtores de Bordeaux, na França, região onde são feitos alguns dos mais refinados vinhos do mundo, talvez estranhem a ideia de um pequeno helicóptero sobrevoar quatro propriedades que o vinicultor Bernard Magrez mantém na região. Não se trata de uma arma de contraespionagem nem mesmo ostentação tecnológica. Se eles soubessem que aquele veículo aéreo não tripulado pode trazer informações tão precisas a Magrez e sua equipe para melhorar a qualidade das uvas, controlar o estresse hídrico das plantas e até diminuir os gastos que têm nos vinhedos — garantindo melhores lucros a cada safra —, eles deixariam de olhar o drone com desconfiança. O modelo Scancopter 450, que Magrez acabou de adquirir ao custo de 50 mil euros, começa a operar em abril nos vinhedos de Pape Clement, La Tour Carnet, Fombrauge e HautPeyraguay. Mas já há planos do grupo de adquirir novos veículos ainda neste ano para operar em outras propriedades de Bordeaux e no resto da França.
Em formato de helicóptero, o drone é equipado com câmeras e outros sensores, e pode pairar a distâncias de 1 centímetro a 260 metros do chão, atingindo velocidades de até 70 km/h. “Ele também pode permanecer estático por longos períodos, enquanto são feitas análises ou imagens são registradas”, afirma Eric Spampinato, gerente de vendas e marketing da Fly-n-Sense, empresa franco-canadense que desenvolveu o Scancopter para operar em vinhedos. “Dificilmente os proprietários teriam tantas informações em tão pouco tempo”, explica. O drone consegue cobrir 1,5 hectare de vinhedo em quatro minutos. Em uma hora por semana, ele poderia cobrir uma propriedade de 120 hectares, como é o caso da La Tour Carnet. A visão aérea mostra aos vinicultores coisas que dificilmente seriam notadas do nível do chão, como a cor das vinhas e sinais de estresse.
Os drones e outras tecnologias de análises de dados têm transformado a vida de produtoresao permitir que eles tenham muito mais informações do que antes era possível. O ato de hackear já chegou ao campo (e às pequenas hortas caseiras) para transformar a forma como cultivamos nossos alimentos. Magrez não é o único a utilizar drones em suas terras. Ele faz parte de um grupo que parece mais disposto a investir em tecnologias de métodos geoespaciais, como mapeamento por satélite e sensores terrestres controlados por computadores. “O que era extremamente caro tem se tornado mais acessível, principalmente pelos retornos que esse tipo de dados precisos trazem aos produtores”, afirma David R. Green, do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da Universidade de Aberdeen, na Escócia.
Antes, para um trabalho de análise semelhante, era preciso contratar aviões a preços elevados para sobrevoar as vinícolas, mas que pela altura de voo nem sempre conseguiam detalhescomo os que os drones têm permitido hoje. Green é um dos maiores especialistas no uso de drones e outras tecnologias de monitoramento de vinícolas, área que ficou conhecida como “viticultura de precisão”e afirma que ações pioneiras como a de Magrez são usadas principalmente na Europa, Austrália e nos EUA.
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