Um estudo liderado por um pesquisador brasileiro descobriu a existência de anéis ao redor do asteroide Chariklo, que orbita o Sol entre Júpiter e Netuno. A descoberta foi publicada na edição desta quarta-feira (26) da revista "Nature".
Para chegar à conclusão, foram necessárias observações a partir de 13 telescópios diferentes localizados em sete pontos da América do Sul. Um dos instrumentos que mais contribuiu para a descoberta foi o telescópio dinamarquês localizado no Observatório de La Silla do Observatório Europeu do Sul (ESO). As observações foram feitas no dia 3 de junho de 2013, exatamente quando o objeto passaria em frente à estrela UCAC4 248-108672.
Foi possível detectar a presença dos anéis por meio da análise do fenômeno de ocultação, que se refere à queda momentânea do brilho de um astro no momento em que outro objeto passa em frente a ele, como no eclipse da Lua ou do Sol.
Ao passar em frente à estrela, o Chariklo provocou não apenas uma acentuada queda de brilho no momento em que a ocultou, mas outras pequenas quedas de brilho, uma antes e outra depois da ocultação principal (veja vídeo acima). Foram essas pequenas quedas de brilho que identificaram a presença dos anéis.
Segundo os pesquisadores, essa é a primeira vez que anéis são detectados ao redor de objetos menores do Sistema Solar. Até hoje, só se tinha conhecimento da presença de anéis ao redor de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno em nossa galáxia.
O Chariklo pertence à categoria dos centauros, que são pequenos objetos que orbitam ao redor do Sol atravessando as órbitas dos planetas. Com diâmetro de 250 quilômetros, ele é o maior centauro conhecido e demora 63 anos para completar uma volta no Sol. Ao redor dele foram detectados dois anéis, um com sete quilômetros de largura e outro com três quilômetros.
Para os pesquisadores, a descoberta dos anéis foi uma surpresa. "De repente, a gente viu que houve uma ocultação muito rápida e breve, antes e depois, simetricamente ao evento principal. Estávamos esperando somente a ocultação do ponto principal e não imaginávamos que pudesse haver anéis em torno de objetos menores como o Chariklo" disse o autor principal do estudo, Felipe Braga-Ribas, do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro.
De acordo com o pesquisador, os anéis são provavelmente compostos por gelo e água. Ele acrescenta que as descobertas a respeito desses anéis podem se estender para os outros sistemas de anéis existentes no Sistema Solar. "Estudar como funciona a dinâmica, os mecanismos que gerem a órbita, a formação, o confinamento e a estabilidade dos anéis de Chariklo vai ajudar a entender os mecanismos que agem sobre os anéis dos planetas gigantes."
Segundo outro pesquisador envolvido na pesquisa, Roberto Vieira Martins, também do Observatório Nacional, o projeto que levou à descoberta dos anéis do Chariklos envolve a observação de muitos outros objetos por meio do fenômeno da ocultação. Segundo ele, a análise de como esses objetos se formaram e evoluíram pode dar pistas sobre a formação do Sistema Solar.
G1
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