Como consequência da revolução na Ucrânia - na qual ucranianos
nacionalistas e a favor do Ocidente tomaram o poder depois da queda do
presidente Viktor Yanukovych -, surgiu o medo de que a região da Crimeia, no sul
do país, possa se tornar um campo de batalha entre as forças leais à Ucrânia e
aquelas leais à Rússia.
Homens armados içaram bandeiras sobre edifícios do governo declarando que "a
Crimeia é a Rússia", enquanto grupos separatistas entraram em confronto nas ruas
com grupos pró-Ucrânia.
Por que a Crimeia se tornou o foco da tensão?
A Crimeia é o epicentro do sentimento pró-Rússia no país, o que pode levar ao
separatismo. A região - uma península na costa ucraniana no Mar Negro - tem 2,3
milhões de habitantes, e a maioria deles se identifica como parte de grupos
étnicos russos e fala russo.
A Crimeia é ucraniana de verdade?
A Rússia tem sido o poder dominante na Crimeia na maioria dos últimos 200
anos, desde que anexou a região em 1783. No entanto, a Crimeia passou das mãos
de Moscou para as da Ucrânia - então parte da União Soviética - em 1954. Grupos
étnicos russos que vivem na região consideram isso um erro histórico.
Mesmo assim, uma outra minoria importante, os tártaros muçulmanos da Crimeia
dizem que eles já foram maioria na Ucrânia, e foram deportados em massa pelo
líder da União Soviética Joseph Stalin em 1944 sob a acusação de colaborarem com
a invasão nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Os membros de grupos étnicos ucranianos compõem 24% da população da Crimeia,
segundo o censo de 2001, em comparação com 58% de russos e 12% de tártaros.
Os tártaros vêm retornando à região desde o colapso da União Soviética em
1991, o que causa uma tensão contínua com os russos sobre o direito destas
terras.
Qual é sua situação legal?
Ainda é legalmente parte da Ucrânia - uma situação que a Rússia
comprometeu-se a garantir quando assinou, junto com os Estados Unidos, o Reino
Unido e a França, um memorando em 1994 dizendo que protegeria a integridade
territorial da Ucrânia.
Trata-se de uma república autônoma dentro da Ucrânia, com eleições
parlamentares próprias. Mas o posto de presidente da Crimeia foi abolido em
1995, logo depois que um separatista pró-Rússia conquistou o posto com larga
maioria. Agora, a Crimeia tem um representante presidencial e um
primeiro-ministro, mas ambos são indicados pelo governo na capital Kiev.
O que a Rússia pode fazer?
A Rússia mantém uma grande base naval da cidade de Sevastopol, na Crimeia,
onde está baseada sua frota do Mar Negro. Por isso, alguns ucranianos temem que
os militares russos possam entrar em ação.
O acordo de arrendamento da área da base pela Rússia estipula que as tropas
russas não podem sair desta área com equipamentos ou veículos militares sem a
permissão da Ucrânia. Olexandr Turchynov, presidente ucraniano em exercício,
alertou que qualquer movimentação de tropas russas fora da área da base "será
considerada uma agressão militar".
Há relatos de que emissários russos estão distribuindo passaportes na
península. As leis de defesa da Rússia permitem ações militares no exterior para
"proteger os cidadãos russos". Isso gerou o medo de que a Rússia esteja usando
esses acontecimentos como um pretexto para uma invasão.
Isso já aconteceu antes?
A Rússia usou uma justificativa parecida em 2008 para enviar tropas à Ossétia
do Sul, quando houve uma escalada de tensão nesta região da Geórgia por causa de
movimentos separatistas.
Assim como com a Geórgia, Moscou se ressente do que considera interferências
da União Europeia e da OTAN na Ucrânia. E, ao fim de tudo, a OTAN não saiu em
defesa da Geórgia.
Mas a Crimeia é maior do que a Ossétia do Sul, a Ucrânia é maior do que a
Geórgia, e a população da Crimeia está mais dividida do que na Ossétia do Sul,
onde a maioria é pró-Rússia - o que torna uma intervenção russa na Ucrânia uma
aposta mais arriscada.
Já houve guerra na Crimeia?
A mais famosa é a Guerra da Crimeia, que ocorreu entre 1853 e 1856. A guerra
foi resultado de ambições imperialistas, quando o Reino Unido e a França, em
razão de suspeitas sobre as ambições russas na região dos Balcãs depois da queda
do Império Otomano, enviaram tropas à Crimeia. A Rússia foi derrotada.
BBC.com
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