Quem visita o Deserto do Atacama, no norte do Chile, tem a impressão que nada
poderia sobreviver nesse ambiente de rochas e areia.
Trata-se do lugar mais seco e um dos mais inóspitos do planeta. Algumas regiões
podem ficar até 50 anos sem receber uma gota de chuva.
Mas o que também poderia ser a região mais sem vida do mundo pode ainda
abrigar microorganismos chamados endólitos, que se escondem nos poros das
rochas, onde há água suficiente para a sobrevivência deles.
"(Os microorganismos endólitos) se alimentam dos subprodutos de seu
metabolismo", afirmou Jocelyne DiRuggiero, microbióloga da Universidade Johns
Hopkins, nos Estados Unidos. "E todos se encontram nas rochas, é muito
fascinante."
Para os cientistas, os endólitos são a prova da capacidade incrível de que
micróbios têm de encontrar formas de sobreviver. Em quatro milhões de anos de
evolução, os microorganizmos tiveram tempo suficiente para se adaptar aos
extremos da Terra.
Mesmo assim, ainda fica a pergunta: será que existem lugares no nosso planeta
em que nenhuma estrutura viva possa sobreviver?
A BBC preparou uma lista de condições extremas do nosso planeta, explicando
os limites que elas impõem à existência de organismos.
Calor
Nos locais mais quentes, o recorde de tolerância atualmente é de um grupo de
organismos chamados de metanógenos hipertermófilos, que se desenvolvem em volta
das fontes de águas quentes, ou hidrotermais, no fundo do mar.
Alguns destes organismos podem crescer em temperaturas de até 122ºC.
E a maioria dos pesquisadores afirma que, em teoria, o limite de temperatura
para que exista vida é de 150ºC. A esta temperatura, segundo os cientistas, as
proteínas se desfazem.
Isto significa que os microorganismos podem se desenvolver em volta destas
fontes hidrotermais, mas não diretamente em seu interior, onde as temperaturas
podem alcançar até 464ºC.
O mesmo acontece com o interior de um vulcão ativo em terra.
"Realmente, acredito que a temperatura é o parâmetro mais hostil", disse
Helena Santos, fisiologista microbiana da Universidade Nova de Lisboa e
presidente da Sociedade Internacional de Extremófilos.
"Quando as coisas ficam muito quentes (a vida) é impossível, já que tudo é
destruído", disse.
Pressão
Por outro lado, aparentemente as altas pressões oferecem menos problemas para
a existência da vida.
Com isto, pode-se concluir que é o calor, e não a profundidade, que
provavelmente, limita a que distância abaixo da superfície da Terra onde se
prode ter vida.
A temperatura de 6000ºC, do centro da Terra, impede toda forma de vida,
apesar de a profundidade a que se encontra essa temperatura ainda esteja sendo
investigada.
Cientistas descobriram que um microorganismo chamado Desulforudis
audaxviator a cerca de 3,2 quilômetros de distância da superfície da Terra, em uma mina de ouro da África do Sul.
Este microorganismo provavelmente não teve contato com a superfície durante
milhões de anos e sobrevive extraindo nutrientes das rochas que passam por
desintegração radiativa.
Frio
A vida também pode existir em outro parâmetro extremo, o frio.
As bactérias do gênero Psychrobater podem viver normalmente abaixo
dos -10ºC na Sibéria e na Antártida.
Há pouco tempo foram encontradas células vivas em um lago subglacial abaixo
do gelo da Antártida. O lago hipersalino Deep Lake abriga espécies halófitas
únicas, que sobrevivem a -20ºC.
Para sobreviver nestes ambientes, os microorganismos têm características como
membranas e estruturas proteicas adaptadas e moléculas anticongelantes dentro de
suas células.
Levando-se em conta que a Terra já ficou coberta de gelo várias vezes desde
que o surgimento da vida no planeta, "um lago coberto de gelo na Antártida não
parece tão extremo", disse Jill Mikucki, microbióloga da Universidade do Tennessee, Estados Unidos.
Radiação
A radiação também não impede a proliferação de microorganismos. Desde que
eles não estiverem expostos diretamente a uma explosão atômica, eles podem se
desenvolver. E isto já aconteceu em recipientes que guardavam resíduos
radioativos ou perto do epicentro do desastre de Chernobyl, na Rússia.
O Deinococcus radiodurans, um dos organismos mais resistentes à
radiação, já sobreviveu a viagens no espaço e pode suportar doses de até 15 mil
grays (a medida padrão para medir radiação absorvida).
Humanos morrem com apenas 5 grays.
Outros organismos podem sobreviver em ambientes onde estão presentes
elementos ou compostos químicos tóxicos, como o mercúrio e outros metais pesados
e cianetos.
Nas águas termais de Kamchatka, no extremo leste da Rússia, por exemplo,
vários microorganismos metabolizam o enxofre ou o monóxido de carbono.
"É difícil encontrar uma substância química que possa matar todo tipo de
vida", disse Frank Robb, microbiólogo da Universidade de Maryland, nos Estados
Unidos.
BBC
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